Até alguns anos atrás a capacidade de manobrar o equipamento no campo era suficiente para que um operador de colheitadeira fosse considerado apto a exercer bem suas funções. Hoje, este mesmo profissional precisa ter noções de informática para lidar com um painel de controle que fornece os mais diferentes indicadores e recorrer periodicamente ao manual de instruções técnicas (geralmente em outro idioma) a fim de seguir uma série de orientações do fabricante que visam prevenir o mau uso do equipamento e seus consequentes custos. Um novo perfil de qualificação que transformou o papel do operador em poucos anos.
O Instituto Paulo Montenegro e a ONG Ação Educativa publicam anualmente o Indicador Nacional de Alfabetismo Funcional (INAF), que tem tudo a ver com o exemplo citado acima. Segundo a última pesquisa divulgada, 75% dos trabalhadores brasileiros são analfabetos funcionais, isto é, frequentaram os bancos escolares durante algum tempo, mas sua capacidade de leitura os impede de compreenderem aquilo que está escrito num texto ou têm dificuldades para realizar operações matemáticas básicas, como somar ou subtrair.
O mesmo estudo ainda aponta que 8% destes profissionais que estão no mercado de trabalho atual são totalmente analfabetos (não sabem ler nem escrever), 30% leem sem compreenderem o mínimo necessário e 37% entendem partes daquilo que leem, mas não conseguem relacionar informações que recebem nem interpretá-las.
Portanto, apenas 25% dos brasileiros que fazem parte da População Economicamente Ativa dominam habilidades de leitura e escrita necessárias às suas atividades corriqueiras de trabalho e podem cumprir tarefas de maior complexidade. Um problemão e tanto, já que poderíamos crescer a taxas exponenciais nos próximos anos e infelizmente ficaremos presos a níveis menores de desenvolvimento econômico porque não haverá pessoas capacitadas para ocupar as posições que abertas nas empresas públicas e privadas.
Além do mais, o analfabetismo funcional dos trabalhadores brasileiros é reconhecido como um dos principais responsáveis pela pouca competitividade das empresas daqui frente às corporações instaladas nos países desenvolvidos e algo que vem travando há algum tempo o aporte de investimentos estrangeiros.
Mas, de onde vem o problema? Sem a pretensão de ser reducionista, já que se trata de uma questão complexa, é bom lembrar que o brasileiro lê muito pouco e isto contribui para que as pessoas tenham dificuldades para compreender simples recados escritos num mural. Para se ter uma ideia, somente 17 milhões de pessoas adquiriram pelo menos um livro no ano passado, o que representa 10% da população.
Certa vez estava ministrando a última disciplina num curso de pós-graduação e os alunos estavam extremamente insatisfeitos com o programa como um todo. Num determinado momento perguntei a eles quantos livros haviam lido durante o ano inteiro como complemento ou reforço ao aprendizado obtido durante as aulas. Infelizmente, apenas três estudantes, dentre quarenta, disseram ter concluído a leitura de mais de duas obras. Ficou fácil compreender o porquê da insatisfação.
Diferentemente dos outros países, muitos dos nossos analfabetos funcionais têm diploma. Isto explica porque inúmeros trabalhadores não conseguem se recolocar no mercado, mesmo já formados ou pós-graduados. Vários detêm um título acadêmico de especialista em rebimboca da parafuseta, contudo não conseguem escrever um e-mail inteligível.
Já que você, caro leitor, faz parte dos 25% de trabalhadores que superaram o analfabetismo funcional, convido-o a assumir a missão de fazer alguma coisa para reverter este quadro. Na prática, que tal estimular o hábito da leitura junto aos familiares, amigos e colegas de trabalho? A transformação social começa com medidas que estão ao nosso alcance.
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