Wellington Moreira

Gentileza Gera Gentileza

03 nov 2011 às 15:38

Até hoje os funcionários de um frigorífico contam a história de certo empregado que foi inspecionar a câmara fria ao final do expediente de trabalho e ficou preso dentro dela quando, por descuido seu, deixou que a porta se fechasse.

Ele gritou pedindo socorro, esmurrou a porta com toda a força possível, mas infelizmente ninguém o ouviu durante as cinco horas seguintes pois todas as demais pessoas já estavam retornando para suas casas. E o pior, debilitado pelo frio intenso, começou a desacreditar que pudesse permanecer vivo naquela temperatura que já se tornava insuportável para o seu corpo.


Quando os últimos suspiros de vida já se aproximavam, ainda pôde ver que o vigia abriu a porta da câmara e o resgatou daquele ambiente a tempo de se recuperar após alguns dias de internação no hospital. Mas, o que mais chamou a atenção de todos é que abrir a porta da câmara não fazia parte da rotina de trabalho do vigia.


Ao ser questionado a respeito, ele explicou: "Trabalho nesta companhia há 35 anos e centenas de empregados entram e saem daqui todos os dias. Ele é o único que me cumprimenta ao chegar pela manhã e se despede de mim ao sair". E o vigia continuou: "Hoje logo cedo ele disse ‘Bom dia’ quando chegou, contudo não se despediu de mim na hora da saída. Imaginei que poderia ter-lhe acontecido algo. Por isto o procurei e o encontrei..."


Retornar a ligação de alguém, agradecer com sinceridade àquele que lhe fez algo, dizer "por favor", "com licença" ou "até logo" custa muito pouco às pessoas em seu dia a dia e rende preciosos dividendos nos relacionamentos. O problema é que, inebriados pelo automatismo da correria desenfreada, muitos nem sabem como sua vida e seu trabalho podem ser diferentes se adotarem gestos cordiais.


As pessoas mais lembradas geralmente são aquelas que conservam interesse genuíno pelos outros e, por conseguinte, lhes dedicam atenção especial e simplicidade. É o caso de alguém que telefona para dar felicitações ao aniversariante em vez de apenas encaminhar um frio e-mail. Ou também como aquele que toma o cuidado de chamar as pessoas pelo nome e não as interrompe enquanto estão falando.


É claro que as ferramentas de tecnologia podem nos ajudar tremendamente. Se a internet e o telefone celular distanciam cada vez mais as pessoas em alguns casos, há muita gente aproveitando estes mesmos recursos para delas se aproximar. As ferramentas estão à disposição, o que falta é bom senso para utilizá-las corretamente.


Há poucos dias conheci a história de um profissional que foi demitido por justa causa sob o argumento de abandono de emprego, no entanto ele já estava morto a alguns dias e ninguém da empresa sabia do ocorrido, nem mesmo as pessoas que trabalhavam ao seu lado na linha de produção. Fico pensando nas pequenas coisas que ele poderia ter feito para se aproximar dos outros, inclusive dos familiares, que também não tiveram a preocupação de comunicar seu falecimento à companhia.


Muito se fala acerca de networking hoje em dia e dos seus benefícios, entretanto é praticamente impossível desenvolver uma rede duradoura de relacionamentos profissionais se comportamentos simples e que facilitam a boa convivência não forem praticados, afinal de contas gentileza gera gentileza.



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