Flávio Moura

A Cegueira Corporativa

28 mar 2012 às 10:18

Numa cidade indiana viviam sete sábios cegos. Certa noite, após uma discussão sobre a verdade da vida, o sétimo sábio ficou aborrecido e resolveu ir morar sozinho nas montanhas. Enquanto se afastava disse aos companheiros:

- Somos cegos para que possamos ouvir e entender melhor outras pessoas e a verdade da vida, mas em vez disso vocês ficam discutindo como se estivessem participando de uma competição. Não aguento mais isso e vou embora.


Alguns dias depois aqueles mesmos homens que permaneceram por ali foram convidados a descrever um animal que não conheciam e jamais haviam tocado. Esse animal era nada mais do que um elefante.


O primeiro sábio, ao apalpar a barriga do animal, disse tratar-se de um ser gigantesco, cujos músculos não se moviam, como uma parede. O segundo achou uma idiotice, pois ao tocar suas presas imaginou um ser pontiagudo como uma lança de guerra.


"Ambos estão enganados", replicou o terceiro homem, que apertava a tromba do elefante. "Este animal é como uma serpente mansa já que não possui presas", sentenciou. "Todos os companheiros estão enganados", gritou um outro que tocava as orelhas do animal. "Seus movimentos são ondulantes e ele se parece com uma grande cortina ambulante".


Da mesma forma, ao tocar a pequena calda do elefante o sexto sábio afirmou que se tratava de uma rocha, com uma corda presa ao corpo. "Posso até pendurar-me nele", afirmou.


O debate sobre o seria um elefante durou várias horas, até que o sétimo sábio apareceu sendo conduzido por uma criança. Ouvindo a discussão, pediu ao menino que desenhasse no chão a figura do animal e quando tateou a reprodução percebeu que todos os outros estavam certos e errados ao mesmo tempo. Logo na sequência agradeceu o menino e afirmou: "É assim que os homens se comportam perante a verdade. Pegam apenas uma parte, pensam que é o todo e continuam tolos!"


Como os sábios mencionados, muitos gestores se preocupam com os subssistemas isolados, buscando depois unirem as partes a fim de compreenderem o todo e desconsideram completamente a sua necessária interação.


Quando falamos em pensamento sistêmico na organização estamos abordando um dos pilares que sustentam os processos de trabalho e que ampliam a capacidade de análise sobre limitações, possibilidades e impactos. É importante que as empresas pensem em todas as consequências oriundas das suas decisões, pois qualquer descompasso entre suas ações, processos e quem os executa, pode significar perda de recursos.


Infelizmente, os gestores de muitas companhias têm sentido dificuldades para ampliarem o seu olhar no tocante à própria organização que dirigem, obtendo assim bons resultados em determinada área ou atividade e péssimos em outras. Eles precisam desenvolver a capacidade de entenderem o todo a partir de uma análise global das partes e conhecerem profundamente os processos-chave, além de dirigirem esforços em relação ao engajamento dos colaboradores, já que todos precisam conhecer muito bem "o efefante" no qual trabalham e para onde ele vai.


Nesse sentido, algumas empresas têm buscado novas formas de gerenciamento e encontraram a solução orientação por processos, que tem como foco uma sequência de operações encadeadas e integradas para responder às expectativas dos stakeholders. O foco principal deste modelo é a geração de conhecimento sobre a companhia, permitindo basear a tomada de decisão num olhar mais amplo e de acordo com o resultado global pretendido.


Aos gestores fica a reflexão: o gerenciamento em sua empresa está sendo conduzido com um olhar no todo ou o exemplo dos sábios está sendo seguido? Não é possível que uma verdade seja absoluta levando-se em consideração um único ponto de vista. Pense nisso!


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