Em 334 a.C., a fim de continuar o processo de expansão iniciado pelo seu pai, Alexandre Magno invadiu os territórios orientais de domínio persa originando as batalhas de Granico. Um ano depois e assim que foi banido do império de Alexandre, Charidemus uniu-se a Dário III, imperador da Pérsia, e logo procurou alertá-lo sobre possíveis equívocos existentes em sua estratégia de guerra.
Só que esses conselhos não foram bem recebidos por Dário III que logo o estrangulou num ataque de fúria. Péssima decisão, já que no mesmo ano o imperador perdeu as batalhas e teve de fugir, depois enfrentou Alexandre novamente e evadiu uma vez mais, concedendo vitória definitiva aos greco-macedônios.
Muito tempo depois – mais precisamente em 1707 –, o almirante britânico Clowdisley Shovell voltava triunfante para casa após vencer o confronto travado com os franceses no Mediterrâneo, quando seus cinco navios enfrentaram um denso nevoeiro por vários dias a poucos quilômetros da Grã-Bretanha.
Preocupado, o almirante ordenou que os marujos determinassem a localização correta dos navios e recebeu a notícia de que estavam numa rota segura da Península Britânica. Porém, um deles se aproximou explicando que tinha outra opinião sobre a localização da frota e que, de acordo com seus cálculos, eles estavam numa rota fatal, já que seguiam de encontro a um arquipélago de 150 minúsculas ilhas a sudoeste da Inglaterra.
O problema é que a marinha real britânica proibia a navegação por membros do escalão inferior e desencorajava opiniões divergentes. Resultado: o almirante não aceitou as recomendações do marujo e ainda o enforcou na hora. Pouco tempo depois, os navios se espatifaram nas ilhas cobertas pelo nevoeiro matando dois mil homens afogados.
Esses dois fatos históricos, ocorridos em épocas bem diferentes, revelam um mesmo problema que perdura até hoje: diante de más notícias, muitas vezes os gestores preferem matar o mensageiro em vez de se preocupar com aquilo que terão de enfrentar adiante.
É claro que existem falastrões mal intencionados a quem não se pode dar crédito, mas até que se prove o contrário é recomendável que o líder considere toda informação que chega até ele como potencialmente valiosa, ainda mais se o teor da notícia revela questões ainda não mapeadas ou vistas até então com certa displicência.
Algumas pessoas realmente se preocupam com os rumos que a sua organização toma e assim que se certificam de que ninguém está considerando os riscos diante de um caso concreto não pensam duas vezes em se dirigir ao alto escalão e logo compartilhar seu ponto de vista. Contudo, nem sempre os gestores destas empresas estão preparados ou dispostos para escutar aquilo que seus colaboradores têm a dizer.
É que em vez de compreenderem aquilo que chega até eles, digerirem as informações com calma e só então tomarem uma decisão sobre o que farão a partir daí, simplesmente rejeitam a mensagem e o mensageiro.
Esta postura de desqualificar aqueles que querem ajudá-las impede que as empresas resolvam problemas ou adotem medidas preventivas que muitos já visualizam há algum tempo, além de transmitirem um recado muito claro a todos: é melhor se calar ou certamente irá sobrar também para você.
Só que no pense que imolamos o mensageiro apenas ao rejeitar aquilo que ele diz ou puni-lo sumariamente. Mesmo sem saber, às vezes as empresas os exaltam como semideuses de uma hora para a outra desconsiderando o fato de que estas pessoas não estão prontas para serem tratadas como "salvadoras da pátria" ou seres bestiais. Elas acertaram uma vez sim, têm potencial de sobra para acertarem outras mais, porém não espere que elas entreguem resultados consistentes já.
Creio que o desafio número um das organizações hoje em dia é criar um ambiente no qual as pessoas se sintam estimuladas a expressar aquilo que sentem, enxergam ou vislumbram em seu trabalho. O segundo é saberem tratar adequadamente aquilo que seus colaboradores dizem sentir, enxergar ou vislumbrar. Tem muita empresa por aí convidando as pessoas a se manifestarem e depois pedem suas cabeças porque elas se expressaram.
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