Creio que levará alguns anos até alcançarmos a exata dimensão do que foi perder de 7×1 numa semifinal de Copa do Mundo na qual – pior ainda – éramos os anfitriões. E eu inocentemente pensava que a tragédia máxima possível seria ver a Argentina campeã em cima da gente num Maracanã lotado
Agora nos resta, ao menos, aprender com o ocorrido. Extrair lições que se apliquem não apenas ao esporte, mas também ao mundo corporativo e à vida como um todo, pois a perplexidade dos últimos dias pode se transformar na energia vital para transformarmos aquilo que jamais mudaria sem a terapia de choque que os alemães nos impuseram.
Lição nº 1. Ninguém ganha o jogo sozinho. Enquanto continuarmos a depositar nossas expectativas de sucesso – tanto no esporte quanto no trabalho – nas costas de alguém talentoso e pretensamente iluminado aceitaremos que algumas pessoas são mesmo insubstituíveis e esqueceremos que na hora H poderão falhar como qualquer ser humano ou nem estarem por perto. Desde que reassumiu a seleção em 2012, Felipão havia dirigido o time em 28 oportunidades e em todas estas partidas o Neymar começou jogando. Se ele era tão importante, devia ter ficado de fora algumas vezes para que o time também aprendesse a jogar sem a sua estrela maior.
Lição nº 2. Falta repertório para quem treina mal. Enquanto a imensa maioria das equipes escolheu centros de treinamento que ofereciam o sossego e a privacidade necessárias para ensaiar jogadas que surpreendessem seus adversários, nossa seleção preferiu a Granja Comary aonde cada treino parece um evento de superstars da música, dada a presença ostensiva da imprensa e histéricos torcedores. Ninguém que apresenta um bom repertório nas adversidades costuma falhar na preparação.
Lição nº 3. Ter controle emocional faz uma grande diferença. Se você quer saber se alguém é competente de verdade observe como esta pessoa age quando está sob pressão? O choro dos jogadores durante o Hino Nacional até pode ser comovente, mas também revela que muitos deles – mesmo milionários e atuando em grandes times europeus – ainda não amadureceram o suficiente para suportar tamanha expectativa criada em torno do seu desempenho. Aqueles quatro gols sofridos em apenas seis minutos são apenas mais um exemplo disso.
Lição nº 4. Vitórias sofridas criam heróis temporários e ocultam problemas reais. Se aquela bola do chileno Pinilla no último minuto de jogo tivesse estufado as redes e não apenas batido no travessão, não haveria tanto oba-oba instantâneo em torno do goleiro Júlio Cesar nem se falaria tanto sobre o peso da camisa brasileira nas decisões. E certamente teríamos perdido a oportunidade ímpar de reconhecer que estamos muito atrasados taticamente em relação a outras seleções. Quando uma equipe ganha com base na competência individual, contando com a sorte ou a inspiração do time naquele dia em que tudo dá certo – como ocorreu na final da Copa das Confederações –, a análise e o tratamento dos problemas ficam em segundo plano, infelizmente.
Lição nº 5. Aprenda tudo o que puder sobre seus concorrentes. Após o jogo, a imprensa brasileira encontrou alguns recortes de papel no vestiário alemão com anotações detalhadas sobre como cada brasileiro em campo geralmente bate pênaltis, pois eles estavam preparados para uma partida dificílima. Enquanto isto, nos cinco dias anteriores ao embate nossos atletas lamentavam a ausência do Neymar e pouco pareciam se importar com quem enfrentariam. Os germânicos adoraram.
Lição nº 6. Assim que cometer falhas absurdas, assuma logo que errou. Nas declarações dos últimos dias, Felipão tem afirmado que a responsabilidade é dele, mas insiste em dizer que não errou. Ora bolas, se quem escala o time é o técnico e tomamos de 7×1, então como não se equivocou? No Brasil, muitos líderes têm medo de admitir quando fracassam, esquecendo-se de que a sua credibilidade só diminui a cada instante em que tentam explicar o inexplicável. É melhor assumir logo o erro, pedir desculpas e recomeçar.
Quem sabe algum dia possamos agradecer aos alemães pela ressaca moral desta semana. Como o futebol faz parte da nossa identidade, tomara que esta derrota nos ensine muito mais do que simplesmente obter vitórias futuras no esporte. Ensine-nos a ser melhores cidadãos.
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