BUENOS AIRES - O arco de 60 metros de altura da geleira argentina Perito Moreno rompeu-se nesta quarta-feira (dia 9), reeditando seu majestoso e periódico espetáculo que, no entanto, aconteceu pela primeira vez no inverno austral. O teto do túnel que ligava os braços Rico e Canal de los Témpanos, com extensão de 50 metros até terça-feira, começou a desabar ante o olhar atônito dos visitantes, em meio a um estrondo.
O derretimento cíclico dessa "represa" de gelo, que comporta um braço do lago Argentino, nos Andes austrais, acontece geralmente no verão. Este ano, no entanto, começou mais cedo, para total surpresa dos meteorologistas e cientistas.
"Esta é a primeira vez que a geleira derrete no inverno. Isso pode estar relacionado ao aquecimento global, já que o aumento da temperatura afeta a resistência do gelo", disse Carlos Corvalán, diretor do Parque Nacional Los Glaciares, na província de Santa Cruz (sul). "O gelo não deve ter a mesma dureza de costume. Sempre derrete no verão, quando o gelo está mais fraco", considerou Corvalán.
"Os fatores do derretimento no inverno podem ser muitos, começando pelo fato de que o gelo da ponta tem cerca de 400 anos, o que pode significar que esteja frágil", explicou outra fonte dos Parques Nacionais.
Desde 1917, os cientistas registram os avanços e retrocessos da geleira, cujos ciclos de crescimento e derretimento se tornaram irregulares por causa do aquecimento global, segundo estudos oficiais.
A geleira Moreno fica a 2.800 km de Buenos Aires, com uma superfície de 275 km quadrados e uma frente que mede entre quatro e cinco km.
A massa de gelo deve seu nome a um dos pioneiros argentinos da exploração da região patagônica, e faz parte do sistema de Gelos Continentais.
Segundo um estudo do Centro Austral de Pesquisa Científica (Cadic), sediado no Ushuaia, as geleiras da Patagônia estão diminuindo por causa das mudanças climáticas.
O derretimento fora de hora da Perito Moreno é um indicador das mudanças climáticas, embora a comunidade científica divida-se acerca dos motivos do aquecimento do planeta.
"Nos últimos 20 anos, as geleiras ao longo da Patagônia diminuíram em extensão entre 10% e 20%", informou o Instituto Argentino de Neves, Geleiras e Ciências Ambientais de Mendoza (oeste).