De acordo com dados de 2022 da Federação Mundial de Obesidade, o crescente consumo de ultraprocessados está relacionado com o aumento de peso da população mundial. Até 2030, 30% dos adultos e 3,8% das crianças devem estar obesas
“Descasque mais e desembale com inteligência e cautela”. A prática é difundida por nutricionistas, e fica mais evidente especialmente depois da divulgação da PNS 2019 (Pesquisa Nacional de Saúde), do Ministério da Saúde, que constatou aumento de 14,3% no consumo de alimentos ultraprocessados.
E um estudo do Datafolha, encomendado pelo Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor) em 2020, revela que o consumo desse tipo de alimentos foi de 9% para 16% em adultos acima dos 45 anos. Entre os mais jovens, subiu de 30% para 35%. Os preferidos citados são: salgadinhos, biscoitos recheados e bebidas açucaradas, como lácteas e achocolatados.
Leia mais:
Figo está na época: inspire-se com 11 receitas deliciosas!
Não é necessário excluir carne vermelha da dieta para melhorar saúde intestinal, sugere estudo
Burger King mira advogados em campanha de novo sanduíche
Roteiro para fãs de coxinha tem rodízio, versão de um quilo e recheada de morango ou pernil
Os ultraprocessados geralmente são palatáveis e têm preços mais competitivos. “Os alimentos ultraprocessados são aqueles produtos com adição de aditivos, ou seja, substâncias utilizadas com o objetivo de modificar características físicas, químicas, biológicas e/ou sensoriais durante fabricação, processamento, preparação, tratamento, embalagem, acondicionamento, armazenagem, transporte e/ou manipulação. Esses adicionais podem ser obtidos de fontes naturais ou sintetizados em laboratórios”, comenta a nutricionista e consultora da Jasmine Alimentos, Adriana Zanardo.
Além de prontos para o consumo imediato, os ultraprocessados frequentemente têm relevantes quantidades de farináceos, açúcares refinados, gordura vegetal hidrogenada, sódio, corantes, aromatizantes e emulsificantes artificiais. Tais aditivos são usados para aumentar a palatabilidade (sabor, textura, cheiro), estimular o consumo e prolongar o tempo de validade (conhecido como shelf life, ou tempo de prateleira do produto).
Os aditivos que compõem o ultraprocessado estão diretamente relacionados ao aumento do peso corporal, maior propensão e/ou agravamento de câncer, disfunções em glicemia, insulina e pressão. O que se deve ao fato da maioria deles (farináceos, açúcares refinados e gordura vegetal hidrogenada) apresentarem as chamadas “calorias vazias”, que não agregam nutrientes e ainda incorrem em alterações metabólicas de carboidratos e gorduras. O consumo frequente desses alimentos também tem a capacidade de alterar a microbiota intestinal e aumentar o risco de disbiose (desequilíbrio de bactérias) e todas as condições clínicas e/ou doenças ligadas ao intestino.
Outro estudo recente conduzido pela USP (Universidade de São Paulo) revelou que pessoas que consumiram mais de 20% das calorias diárias em ultraprocessados tiveram um impacto negativo de cerca de 30% em sua cognição, ou seja, no que se refere ao conhecimento (pensamento, memória, percepção, linguagem e atenção).
Há quantidades seguras para os salgadinhos, docinhos e refris?
Conforme as recomendações do Ministério da Saúde, a quantidade máxima de açúcares simples não pode passar 10% das calorias sugeridas para ingestão diária. A gordura saturada, ou seja, a encontrada principalmente em alimentos de origem animal, não deve corresponder a mais do que 10% da quantidade de gorduras totais consumidas. Quanto ao sódio, orienta-se o consumo de até 2g/dia. “Cabe destacar que a quantidade de sódio indicada diz respeito tanto ao sal de adição como de produtos industrializados”, diz a especialista.
Em relação às demais substâncias, não há doses seguras regulamentadas específicas. Assim, recomenda-se que a maior parte da dieta seja composta por alimentos in natura e/ou minimamente processados. “A redução do consumo de ultraprocessados deve respeitar a premissa do “descasque mais e desembale com consciência”. Além disso, é preciso buscar informação de fontes confiáveis para que nós, consumidores, estejamos munidos de conhecimento para fazer boas escolhas frente à crescente propagação dos ultraprocessados”, explica.
Entenda: processamento não é necessariamente negativo
Se considerar a sociedade moderna, o avanço da tecnologia e o controle de patologias relacionadas à contaminação, o processamento é um aliado ao estilo de vida saudável devido à segurança alimentar e à rotina atribulada das pessoas. Devido à praticidade e variabilidade do consumo, os alimentos processados cuidadosamente são muito bem-vindos.
“A primeira dica é: leia o rótulo! Gosto de fazer a analogia de que, se você não consegue falar o nome da substância, ela provavelmente não é boa. Você sabia que o corante natural de urucum e o amarelo tartrazina têm a mesma finalidade, mas o primeiro é natural, ao passo que o segundo é artificial?”, comenta.
Há produtos embalados sem adição de quaisquer substâncias artificiais. “Os alimentos processados são aqueles que foram submetidos a processos físicos como assamento, resfriamento e foram fabricados em equipamentos industriais específicos. A inclusão de ingredientes ou aditivos naturais, a fim de preservar e dar mais cor e sabor aos alimentos, é segura”, defende a gerente de P&D da Jasmine Alimentos, Melissa Carpi.
A nutricionista destaca, no entanto, que “nenhum alimento e/ou produto tem indicação de consumo livre, pois cada consumidor possui necessidades, condições clínicas, histórico pessoal e familiar específicos”, finaliza.