A pandemia de Covid-19 alterou vários hábitos entre os brasileiros. Muitas pessoas passaram a trabalhar na modalidade de home office, outras em modelos híbridos e tantas outras já retomaram suas atividades presenciais.
O fato é que com mais tempo em casa, muitas ações que faziam parte do dia a dia se transformaram, uma das consequências foi o elevado consumo de açúcar. A pesquisa realizada pela Fundação Oswaldo Cruz em parceria com as universidades de Minas Gerais (UFMG) e de Campinas (Unicamp), mostrou que praticamente a metade das mulheres, por exemplo, estão consumindo chocolates e doces em dois ou mais dias da semana.
O estudo realizado com mais de 40 mil brasileiros mostrou que esse aumento representa 7% a mais do que antes da pandemia. Outros 63% dos entrevistados afirmaram que consomem doces duas vezes por semana ou mais.
Para o endocrinologista credenciado da Paraná Clínicas, empresa do Grupo SulAmérica, Dr. Caoê Indio do Brasil Von Linsingen, os açúcares são importantes para o bom equilíbrio do organismo, mas precisam de moderação. “Os açúcares são fontes importantes de energia e contribuem com a palatabilidade da dieta, mas moderação é fundamental. O excesso contribui para ganho de peso e pode também precipitar diabetes nas pessoas predispostas”, esclareceu.
A OMS (Organização Mundial de Saúde), recomenda que no máximo 10% das calorias diárias devem vir do consumo de açúcar. Considerando uma média de 2.000 calorias ao dia, essa taxa equivale a 50 gramas de açúcar por dia (aproximadamente dez colheres de chá).
Outra pesquisa que tem chamado a atenção dos médicos foi publicada em setembro e realizada nos Estados Unidos. O estudo produzido pelo Centro de Controle de Doenças dos EUA, com mais de 400 mil pacientes, mostrou uma elevada taxa de IMC (Índice de Massa Corporal) das crianças e adolescentes durante a pandemia de Covid-19. Segundo o estudo, a proporção estimada de pessoas com obesidade aumentou de 19,3% em agosto de 2019 para 22,4% em agosto do ano passado.
Um dos fatores que levaram a esse aumento pode ser o maior período em casa e o aumento dos pedidos de comida por meio de aplicativos. “Geralmente, a pessoa pede a refeição e já coloca um refrigerante, um suco ou uma sobremesa já aproveitando o mesmo pedido. Há ainda locais que oferecem a bebida como combo da refeição. Outra possibilidade é que as pessoas podiam fazer um bolo para comer a tarde, por exemplo, fazer um docinho. Hábitos que antes não faziam parte do dia a dia do trabalho nas empresas e escritórios”, contou o médico.
Outro fator que pode ter contribuído para esse elevado consumo é a falta de atividade física, além das crises de ansiedade, estimuladas, muitas vezes, pelo longo período de distanciamento das pessoas e outras situações comportamentais.
É possível notar também esse consumo excessivo entre as crianças de acordo com Dr. Caoê. “A interrupção das aulas pode ter contribuindo para essa situação. Os pesquisadores observaram que durante a pandemia as crianças provavelmente estavam longe de ambientes escolares estruturados e podem ter experimentado aumento do estresse, horários irregulares de refeições, menor acesso a alimentos nutritivos, aumento do consumo de ultraprocessados, aumento do tempo de tela e menos oportunidades de atividade física. Essas mudanças foram mais pronunciadas entre crianças do ensino fundamental de 6 a 11 anos, cuja taxa de mudança de IMC mais do que dobrou em comparação com a taxa pré-pandemia”, enfatizou.
Cuidados redobrados
Além da quantidade usual, é preciso que as pessoas que já possuam diabetes fiquem atentos a esses níveis, pois o consumo elevado de açúcares pode descompensar a doença. Engana-se quem acha que apenas os alimentos processados ou ultraprocessados possuem altas taxas de açúcar, já que fazem parte do grupo de alimentos chamado de carboidratos.
Dentro dessa grande classificação alimentar, os carboidratos são separados em simples e complexos. O primeiro de mais fácil digestibilidade está presente em produtos como pães, bolos, biscoitos, açúcar refinado, sucos e refrigerantes.
Já os complexos têm absorção mais demorada pelo organismo, são mais saudáveis e estão presentes nos arrozes, massas integrais, aveias e outros.
Reeducação
Mesmo com os mais saudáveis é preciso ficar atento à quantidade. Para Caoê, é importante reduzir o consumo e respeitar o corpo. “Reduzir essa porcentagem para 5% (25 gramas ou 5 colheres de chá) é ainda melhor para a saúde. Lembrando que essa quantidade abrange tanto os açucares adicionados nos alimentos processados e ultraprocessados, quanto nos açucares naturalmente presentes nos alimentos. Um desafio e tanto para o momento em que vivemos, com alterações na rotina e consequente aumento na ansiedade. O doce acaba vindo como uma recompensa”, explicou.
Para a nutricionista credenciada pela Paraná Clínicas, empresa do Grupo SulAmérica, Dra. Fernanda Gularte, a redução precisa ser lenta e gradativa para que o paciente não obtenha ainda mais vontade de consumir. “Muitas pessoas se empolgam no início da dieta e com o passar do tempo, começam a sofrer com essas substituições. Por isso, é preciso ir aos poucos, com paciência e criar um planejamento, para que assim, o objetivo seja alcançado”, enfatizou a profissional.
Para isso, a profissional separou algumas dicas:
- Reduza as bebida açucaradas
- Troque o tipo de Chocolate para 60% cacau ou mais e saiba o horário de comer
- Reduza o açúcar do café