Durante as Paralimpíadas de Paris-2024, que começam na quarta-feira (28), a seleção brasileira de futebol de cegos terá a oportunidade de ampliar o sentido da expressão francesa hors concours, usada para distinguir competidores notáveis.
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Não é exagero. O Brasil é o único país do mundo a conquistar medalhas de ouro na modalidade. Foram cinco desde Atenas-2004. "Até agora não perdemos nenhum jogo nessas edições, isso mostra o quanto a gente leva a sério", disse o ala baiano Jeferson da Conceição. Em cinco edições, foram 21 vitórias e seis empates.
Jefinho, 34, é medalhista desde Pequim-2008. Para ele, a hegemonia pode ser explicada pela preferência, "é a nossa competição favorita. Chega a arrepiar. Nossa equipe tem rodagem internacional e mentalidade vencedora", afirmou o jogador que foi eleito melhor do mundo em 2010.
O craque gosta de jogar ao lado do ala gaúcho Ricardo Alves, 35, capitão do time. Ele foi considerado o melhor do planeta em 2006, 2014 e 2018. O entrosamento entre os dois, que já rendeu quatro medalhas de ouro, recebeu um refinamento diferente para este ciclo.
Os convocados estavam concentrados em João Pessoa (PB) desde janeiro. Lá, eles treinaram de segunda a sábado, em dois períodos.
A Folha de S.Paulo acompanhou o último treino da seleção no Brasil antes de embarcar para a França. A atividade aconteceu no Centro de Treinamento do Comitê Paralímpico Brasileiro, em São Paulo, no último dia 18. A seleção apresentou variações de jogadas de bola parada e ensaiou como sair da pressão adversária durante o jogo.
Palavras curtas eram suficientes para alterar a forma de a seleção se comportar dentro de campo. A potência da finalização dos jogadores tornava as jogadas ensaiadas ainda mais imprevisíveis, os chutes acertavam o gol de qualquer lugar nos dois terços finais do campo.
De acordo com Ricardinho, as movimentações do futebol de cegos evoluíram nesses 20 anos, por isso a necessidade de ser imprevisível. "Tentamos nos reinventar. Os adversários focaram em estudar o Brasil, porque somos a seleção a ser batida", disse o capitão.
Grupos como Argentina, China e Colômbia estão entre os mais perigosos na disputa pelo título em Paris. De longe, as medalhas paralímpicas douradas funcionam como um símbolo de respeito, mas assim que o árbitro apita, elas viram um alvo colado no peito dos brasileiros.
"Tem muita provocação e malandragem de alguns jogadores, daí a gente precisa administrar a catimba. Por exemplo, o time da Colômbia mesmo, tem uns dois ou três lá que são bem complicadinhos [risos]", brincou Ricardinho.
Durante as partidas, rivais até dizem que o Brasil vai vencer para desconcentrar o time. Craque, mas não santo, Ricardo tem a resposta na ponta da língua para esses casos: "eu digo para eles, estão querendo ensinar o padre a rezar missa? Eu já estou batendo nesse negócio há muito tempo".
O ala defensivo Maicon Júnior ainda não goza da mesma experiência do seu companheiro. "Jefinho e Ricardinho são exemplos para mim, dentro e fora de campo", afirmou.
O baiano vai fazer sua estreia em Paralimpíadas nesta edição e diz que sempre sonhou com esse momento, mas também dá ansiedade. "Agora é apoiar em todo treinamento que já foi feito", disse o caçula do time. O defensor tem 24 anos, assim como Vinicius Junior, do Real Madrid.
Maicon encampa um discurso em prol da diversidade no futebol. "Eu, Vinicius Junior e outros mais que tem aí conquistando o seu espaço mostramos que somos capazes. A gente precisa estar inserido no esporte. Espero que os poderes públicos nos ajudem. A contribuição deles é boa para educar as próximas gerações, famílias e trazer esperança", apontou.
O Brasil estreia nas Paralimpíadas contra a Turquia no dia 1º de setembro. O grupo da seleção ainda é formado pela China e pela França, dona da casa.
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