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Kim Ng

Quebradora de barreiras, vice da liga americana de beisebol quer mais

Alex Sabino - Folhapress
23 jul 2020 às 16:14

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- Instagram/@mlb
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Kim Ng, 50, sorri com a dificuldade dos brasileiros em acertar a pronúncia do seu sobrenome (se fala "Nég"). "Pode me chamar de Kim. Não tem problema", diz. Em fevereiro, quando ela foi apresentada em um evento da MLB (Major League Baseball), a liga profissional de beisebol dos EUA, em São Paulo, o interlocutor vacilou ao falar o seu nome e em seguida a olhou em busca de aprovação. Kim acenava com a cabeça. Estava tudo bem.

Não foi a primeira vez que ela viu os outros tropeçarem na falta de vogais do seu sobrenome. Essa foi a terceira viagem da dirigente ao Brasil como vice-presidente sênior de operações da MLB, o mais alto cargo ocupado por uma mulher entre as três principais ligas esportivas do país: beisebol, NFL (futebol americano) e NBA (basquete). Quando voltou aos Estados Unidos, passou a ter de lidar com um problema inédito. A pandemia da Covid-19 paralisou o esporte ao redor do mundo e ameaçou a realização da temporada da MLB. Após longa negociação entre o sindicato dos jogadores e os donos das equipes, ficou definido que ela acontecerá, mas de forma reduzida. Em vez das 128 partidas por time, serão 60, com início nesta quinta-feira (23).

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"Este tem sido o mais difícil período para muita gente ao redor do mundo. É um cenário incerto, e buscamos minimizar a propagação do vírus. Foram necessárias muitas, muitas horas para desenvolver um plano prudente de ação. Tudo o que vai acontecer dependerá, acima de tudo, da segurança", afirma ela. É uma posição de comando que Kim nem sequer pensava ser possível atingir quando em 1990, aos 21 anos, se candidatou para vaga de estagiária no Chicago White Sox. A primeira pergunta que ouviu foi se sabia como calcular o ERA. Para quem não conhece beisebol, essa pode parecer uma questão complicada, mas para quem cresceu no bairro do Queens, em Nova York, com os olhos fixados na TV vendo os jogos do New York Yankees, era simples demais.

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ERA (Earned Run Average, a média de corridas obtidas, em inglês) é a média de corridas cedidas pelo arremessador dividida por nove innings (duração normal de uma partida de beisebol). "Claro que eu sabia. Respondi na hora. Ele [o entrevistador] disse 'ah, OK. Ela sabe'. E me contratou", relembra. Apesar de receber olhares enviesados num ambiente dominado por homens, ela foi a primeira mulher a ser assistente do gerente-geral do Yankees e ocupou a mesma função no Los Angeles Dodgers. São as duas equipes mais populares da MLB. O gerente-geral é o cargo mais importante na operação do esporte, responsável pelo planejamento de longo prazo, quais jogadores contratar, dispensar ou oferecer para troca.

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A revista Forbes a colocou em 2015 como a 5ª mulher mais influente e a 13ª pessoa representante de minorias mais importante no esporte. Kim tem ascendência chinesa e tailandesa. "Vejo esse papel como responsabilidade de quebrar barreiras. Significa que sua voz tem um alcance. A minha trajetória é de recompensas e decepções. Acho que sou um exemplo para outras mulheres", afirma. As recompensas são óbvias. Ela trabalhou como executiva em algumas das principais organizações do esporte mundial. O New York Yankees é a segunda equipe mais valiosa do planeta, avaliada em US$ 4,6 bilhões (cerca de R$ 24,8 bilhões), atrás apenas do Dallas Cowboys, da NFL.


A própria Kim acredita que seria impossível planejar uma carreira assim para alguém que não foi atleta, técnica ou teve formação na área. Seus pais trabalhavam no mercado financeiro, e ela fez testes em bancos e fundos de investimento.
Mas há uma barreira que a dirigente não conseguiu quebrar ainda. Apesar de ter passado por seis entrevistas em times diferentes e saber estar preparada para o cargo, jamais conseguiu um emprego de gerente-geral. Acabou preterida por Dodgers, Seattle Mariners, Philadelphia Phillies, San Diego Padres, New York Mets e Anaheim Angels. "Eu sei que poderia fazer esse trabalho. Alguém vai ter de superar esse obstáculo. Falta coragem [para os donos das equipes]", diz.

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A importância dada às análises de dados e estatísticas revolucionou o esporte e favoreceu a diversidade no beisebol. A mudança de cenário é retratada no livro "Moneyball", do jornalista Michael Lewis, depois adaptado ao cinema. A chegada de matemáticos, estatísticos e especialistas em análise de dados para trabalharem em altos cargos das equipes transformou algumas vezes o treinador que fica no banco de reservas em um mero secretário. Alguém que apenas segue um plano de jogo montado nas salas de análises. "Foi uma mudança e tanto, e para melhor. Deu chance a muita gente", concorda Kim, citando que as vagas mais importantes na MLB sempre eram reservadas a ex-jogadores, ex-técnicos ou avaliadores técnicos.


Kim Ng esteve no Brasil no início deste ano para o lançamento do Fun At Bat (diversão ao bastão, em inglês), parceria da MLB com a Confederação Brasileira de Beisebol para ensinar a crianças de redes municipais de ensino os fundamentos do esporte com atividades lúdicas. Uma das suas funções é supervisionar programas de desenvolvimento da liga na América Latina, China e Índia. A primeira visita dela ao Brasil foi em 2018 e tinha como foco atletas de elite que pudessem ser contratados por times da MLB. Para a temporada de 2020, serão 16 brasileiros, mas a maioria em categorias de acesso à liga principal.

"É uma mudança de foco. Continuamos querendo formar a elite, mas também vamos atrás das crianças para ter novos jogadores. Eu fiquei bem impressionada com a qualidade que encontramos no Brasil", afirma. A intenção da MLB, ainda que lentamente, é quebrar barreiras de resistência e crescer no país. Não deixa de ser um espelho da trajetória de Kim NG nos Estados Unidos.


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