Quando a Mercedes teve negado seu pedido de revisão do lance em que Max Verstappen espalhou o carro no Grande Prêmio de São Paulo, saindo da pista junto com Lewis Hamilton, o chefe Toto Wolff disse que a intenção do time não era gerar uma punição ao holandês, e, sim, colocar em pauta a discussão sobre o que é permitido em uma luta por posição.
"Se as coisas permanecerem como estão, significa que ultrapassar por fora não será mais possível, porque quem está do lado de dentro controla totalmente a curva", disse Wolff na ocasião. Em outras palavras, o time já estava preparando o terreno caso outro duelo polêmico entre os postulantes ao título viesse a ocorrer nas últimas corridas.
Leia mais:
Tom Brady diz que ser pai é a tarefa mais difícil de sua vida
Whindersson contra comediante: quem mais luta no card de Tyson e Paul?
Evento esportivo que comemora os 72 anos de Alvorada do Sul está com inscrições abertas
Londrina sedia o Brasileiro de Kart após 25 anos; veja a programação
Isso porque Verstappen e Hamilton já se encontraram algumas vezes na pista nesta temporada, gerando acidentes em duas ocasiões, pelos quais ambos foram punidos -Hamilton em Silverstone, e Verstappen em Monza-, e estão indo para as duas últimas etapas do ano separados por apenas oito pontos, com vantagem para o piloto da Red Bull.
Mas essa discussão não se limita aos dois: os pilotos saíram decepcionados de uma reunião que consideravam decisiva com o diretor de prova da Fórmula 1, Michael Masi, na sexta-feira (19), no GP do Qatar. Eles queriam entender por que incidentes parecidos são julgados de maneiras diferentes. "Quando as regras são cinzentas, às vezes, você sente que se beneficiou delas, e, às vezes, sente que foi um idiota", resumiu Fernando Alonso.
A única coisa que é dita aos pilotos claramente é que as consequências dos incidentes nunca são levadas em conta, mas a maneira como eles são julgados leva a crer que sim.
Citando os incidentes que envolveram Verstappen e Hamilton, na Inglaterra e em Monza, o piloto que estava atrás foi tido como culpado e levou punição, em lances nos quais o rival teve de abandonar. Em São Paulo, não houve toque nem investigação, e o piloto prejudicado acabou conseguindo a manobra voltas depois e vencendo.
"Entendo que você precisa tratar cada caso individualmente", disse George Russell, que é um dos diretores da GPDA, associação dos pilotos de F-1. "Aquele lance [de Verstappen e Hamilton no Brasil] foi exagerado. Se fosse a última volta da corrida, ele seria punido. Não dá para perder o ponto de freada por 25 metros e fazer isso. Ele só não foi punido porque Lewis venceu a corrida, mas as consequências não deveriam ser um fator. Foi isso que eles nos disseram."
As declarações do britânico foram apoiadas por Sebastian Vettel, com quem ele divide a presidência do GPDA. "É um bom resumo", disse o alemão sobre a fala do colega. No domingo (21), antes da corrida, o tetracampeão estava conversando, sozinho, com Masi no paddock no Qatar.
Uma comparação que os pilotos fazem em relação ao lance do Brasil é a punição levada por Lando Norris por caso semelhante na Áustria. Mas parece haver um entendimento, ainda que isso não esteja na regra, de que, quando um piloto espalha para cima do outro e há brita na área de escape, o potencial dele ser punido aumenta.
Perguntado se esse é o caso, Masi se limitou a dizer que "muito provavelmente, sim". "Todos tentam comparar incidentes e dizer que eles são todos iguais, mas não são. A análise é individualizada, observamos as circunstâncias daquele dia."
Em relação ao comportamento dos pilotos, Masi disse acreditar ter deixado claro o que é esperado deles. "Acho que alguns concordam, outros discordam. E eles sempre foram assim. Nós demos a eles uma orientação geral, mas também deixei muito claro que cada caso será julgado por seus méritos."
Um primeiro fator complicador é que Masi é o diretor de prova em todos os GPs, mas não é ele quem decide sobre as punições. Os lances são julgados por um painel de comissários, que conta com um ex-piloto, e é diferente em cada prova. Eles têm à disposição o histórico de cada piloto, de cada tipo de lance, e contam com dados de telemetria e mais ângulos de câmera, mas, ainda assim, os pilotos sentem que não há consistência.
Isso abre a porta para que as duas últimas etapas da Fórmula 1 deem mais dor de cabeça aos comissários. A etapa da Arábia Saudita será no próximo dia 5 e a de Abu Dhabi, em 12 de dezembro.