Movimentar-se em sua atividade física favorita pode ser a chave para uma vida saudável e feliz. Parece simples, mas para pessoas em sobrepeso, o ambiente nem sempre é tão receptivo e muitas vezes torna-se até traumático, o que tem levado diversas pessoas ao sedentarismo. Personal e experiente em treinamento para pessoas gordas, qualificado pela instituição ACE (American Council On Exercise), no curso “Size Inclusive Training Academy / Size Inclusive Fitness Specialist”, Bruno Sapo afirma que exercício deveria ser e é para todos, mas entende que desconstruir a gordofobia é um processo.
“É muito comum que no meio do esporte, profissionais usem um discurso pronto de marketing sem nem pensar no que estão falando, reproduzindo frases com apologia ao emagrecimento. Era para criarmos um ambiente de promoção de saúde e acabou se tornando um lugar de culto ao corpo. Quando você estuda um pouco mais, vê que não é bem por aí.”
Lucro X propósito
Leia mais:
'Por US$ 500 mil, nunca mais', diz Whindersson Nunes sobre sarrada
Popó volta a desafiar Pablo Marçal durante evento Mike Tyson x Jake Paul
Em luta com 'sarrada', Whindersson Nunes perde para indiano
Jake Paul vê fúria de Mike Tyson, mas usa físico e vence lenda do boxe nos pontos
Em tempos onde alguns anúncios parecem ser mais inclusivos e que pessoas relevantes se levantam nas redes sociais para expor o tema, para Bruno a mudança real ainda está longe de acontecer. “Vejo pequenas mudanças pontuais totalmente motivadas pelo mercado. Não é que a mentalidade esteja mudando, já que os olhares permanecem os mesmos e o comportamento também. Ainda é sobre lucro”, afirma.
Entretanto, o personal que mergulhou em estudos de demanda e da psicologia por trás do treinamento de pessoas gordas, também diz que é sim um mercado gigantesco e que pode ser explorado, mas com a motivação correta. “Os profissionais ficam presos ao preconceito e deixam de enxergar um público que não está sendo ouvido, um mercado praticamente inexplorado.”
Primeiros passos
Para Sapo, a entrada do processo é simples: ouvir. “Minha decisão foi parar e escutar. Entender as dores e necessidades das minhas alunas”. Fazer perguntas abertas e deixar as suposições de lado é o segredo. “Nem toda pessoa acima do peso é novata naquela atividade, deseja emagrecer, ou é preguiçosa. Por outro lado, nem toda pessoa aparentemente magra é saudável. Só chego a uma conclusão depois de muitas perguntas”.
Mergulhar em estudo é o segundo passo. “Sempre estudei questões raciais e é inevitável não se interessar pela temática de outros grupos que sofrem com a exclusão de alguma forma. Comecei a entrar no feminismo e senti um desconforto enorme ao ver o que principalmente as mulheres viviam no esporte com toda a pressão estética e a gordofobia”.
Preconceito existe
“Ah, mas na minha academia/box não tem isso, somos uma família”. Já escutou ou repetiu essa frase? Segundo Bruno, o problema começa exatamente aí. “Não é porque você não sofre com isso, que não existe. Julgamentos, olhares discriminatórios, estereótipos, marketing de linguagens ofensivas, pôsteres com fotos nada inclusivas estão por toda a parte. Reconhecer é a única maneira de consertar”.
Todo mundo consegue
Uma pessoa gorda normalmente já foi empurrada para diversos exercícios ou métodos de emagrecimento, “recebo alunas todo dia querendo treinar comigo porque os professores de musculação sempre as empurrava para 20 minutos de esteira antes de treinar, porque querendo ou não, elas tinham que emagrecer”, conta, “a falta de tato ainda é muito forte”.
Então quando se trata da prática, Bruno ressalta a importância de se atentar aos detalhes, desde as palavras usadas até a escolha dos exercícios. “Não, não é só sentar a bunda na bicicleta e pedalar porque às vezes a bunda vai ser grande demais para aquele banco. O meu trabalho é dar opções muito além do ‘iniciante, intermediário e avançado’ para que ela atinja o objetivo e jamais dizer o que ela consegue ou não fazer. Na maioria das vezes, ela já tentou tanto com outros profissionais que sabe bem esse limite. Além disso, independente do percentual de gordura, a pessoa pode ser experiente e ter uma limitação apenas com aquele exercício específico”.
Sedentarismo é perigoso
Um estudo realizado pela Universidade de Cambridge, na Inglaterra, mostrou que o sedentarismo matou duas vezes mais do que a obesidade no ano de 2015. Bruno destaca o quanto o preconceito pode ser letal, deixando cada vez mais pessoas longe das atividades físicas.
“Seja qual for o objetivo da pessoa, o importante é que ela se mexa e engaje em uma atividade física, isso não é e não deve ser sobre emagrecimento.” Nem todo mundo está em busca de perder alguns quilinhos. Pessoas gordas também podem (e devem!) amar seus corpos e muitas vezes estão satisfeitos com sua forma física. “Ajudar pessoas a atingir suas metas e objetivos não será sobre perder peso. Famosos exemplos como ‘vamos queimar a pochete’, ‘vamos derreter a gordura’ são altamente preconceituosos. Foque no movimento, na importância de uma alimentação saudável para a saúde e nos objetivos que quiser”.