Em uma declaração surpreendente nesta terça-feira, o vice-primeiro-ministro russo, Vitaly Mutko, admitiu que o esporte russo conta com treinadores "que não sabem trabalhar sem o recurso do doping". Mutko, no entanto, disse que estes técnicos devem se aposentar rapidamente.
Ministro do esporte entre 2008 e 2016, ele fez a declaração ao comentar a decisão da Associação Internacional das Federações de Atletismo (IAAF, na sigla em inglês) de manter o atletismo russo suspenso ao menos até novembro deste ano. A decisão foi anunciada pela própria entidade na segunda.
"Houve muitos abusos e infrações. Atletas quebraram regras e muitos treinadores não sabem como trabalhar sem o recurso do doping. E chegou a hora de eles se aposentar", declarou o vice-primeiro-ministro, que foi chefe da candidatura russa para sediar a Copa do Mundo de 2018.
Mutko garantiu que o atletismo do seu país tem se esforçado para acabar com o doping. "No último ano, um trabalho colossal vem sendo feito aqui", declarou. O atletismo russo está suspenso das competições internacionais desde novembro de 2015 em razão de um ostensivo programa de doping que contava com apoio de treinadores, dirigentes e até membros do governo.
As denúncias, encabeçadas por um painel independente da Agência Mundial Antidoping (Wada), acabaram impedindo que os atletas russos da modalidade competissem nos Jogos Olímpicos do Rio, no ano passado. Agora, eles também ficarão de fora do Mundial de Londres, em agosto deste ano.
Para se restabelecer no circuito internacional, a Rússia precisará se enquadrar numa série de condições impostas pela IAAF. Para um dos dirigentes da federação de atletismo do país, a entidade internacional exagera na punição e nas exigências ao esporte russo.
"Já está tudo sendo resolvido, devagar, mas com garantia. Estamos fazendo o que precisamos. Eles dizem que temos a cultura do doping. Mas que cultura de doping?", questionou Andrei Silnov.
O dirigente também se mostrou contra a opção apresentada pela IAAF de liberar individualmente alguns atletas russos para competir desde que se submetam a testes antidoping em agências credenciadas de outros países - haveria uma lista de 35 interessados em competir como "neutros" nesta temporada. "Eles continuam sendo russos. Não há outra opção", criticou Silnov.