Desde que assumiu o controle da F1 em 2016, o grupo americano Liberty Media passou a implementar um projeto de expansão global da categoria, voltando a países que abrigaram etapas no passado e, sobretudo, incluindo novos lugares.
Para a temporada 2022, a ambição era fazer o maior campeonato da história, com 23 provas, mas o plano teve de ser revisto com a guerra iniciada pela Rússia contra a Ucrânia, há cerca de um mês.
Leia mais:
Professor de Rolândia promove aulas gratuitas de atletismo para crianças a partir de 3 anos
Brasileira virou uma das melhores do mundo em pickleball nos EUA
Tradicionais na prova, quenianos fazem dobradinha na corrida de São Silvestre
Oitava edição da campanha Running4Help pretende arrecadar tênis para estudantes carentes em Londrina
A categoria anunciou inicialmente a suspensão da etapa em Sochi, prevista para setembro, mas a pressão de pilotos, equipes e, principalmente, patrocinadores, levou ao rompimento do contrato com o promotor da corrida. "O que significa que a Rússia não vai contar com nenhuma etapa no futuro", informou a F1.
Como não anunciou nenhuma corrida como substituta -embora o Qatar tenha manifestado interesse de receber um GP-, a categoria deverá ter 22 etapas neste ano, como foi em 2021. A abertura está marcada para domingo (20), com o GP do Bahrein, às 12h (de Brasília). A Band transmite.
Além da corrida no circuito de Sakhir, a F1 também terá etapas em Singapura, Azerbaijão, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos, países frequentemente acusados de violar os direitos humanos. Atualmente, a FIA (Federação Internacional de Automobilismo) é presidida por Mohammed ben Sulayem, dos Emirados Árabes.
Em carta endereçada ao CEO da categoria, Stefano Domenicali, o Bird (Instituto por Direitos e Democracia no Bahrein) diz que a F1 não dá a mesma atenção aos problemas do Oriente Médio como fez diante da situação provocada pela Rússia em solo ucraniano.
No texto, escrito por Sayed Ahmed Alwadaei, diretor da instituição, é citada a renovação do contrato com a organização do GP do Bahrein por mais 15 anos. Segundo ele, a extensão desse acordo "contradiz diretamente afirmação feita no ano passado [por Domenicali] de que a F1 leva muito a sério questões como a violência, abuso de direitos humanos e repressão".
Em 2021, a categoria também havia sido alvo de críticas pela Anistia Internacional na ocasião do anúncio do GP da Arábia Saudita. A entidade que defende os direitos humanos alertou que a promoção do evento poderia desviar a atenção de acusações das quais o governo liderado pelo monarca Salman bin Abdulaziz Al Saud, 85, é alvo.
Nada disso demoveu a Liberty de dar sequência a seu plano de expansão no Oriente Médio, principalmente por causa dos milhões de dólares que o grupo passou a ganhar com as corridas na região -somente o acordo de patrocínio com a Saudi Aramco, gigante estatal saudita de petróleo e gás natural, rende à F1 cerca de US$ 40 milhões (R$ 206 milhões) por temporada.
O GP da Rússia também estava entre os mais rentáveis. Estima-se que o país de Vladimir Putin desembolsasse US$ 50 milhões (R$ 253 milhões) por ano. A prova era patrocinada pelo VTB, segundo maior banco russo, controlado pelo governo.
A empresa está na lista de entidades que sofreram sanções do governo britânico por causa da guerra na Ucrânia. Ela não era a única a bancar a etapa, mas as demais empresas também são ligadas ao governo de Putin.
Controlada por um grupo dos Estados Unidos, a F1 tem sua sede operacional no Reino Unido, e a maioria das equipes é europeia. Ou seja, a categoria é composta por organizações de países que formam o núcleo da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte). Essa composição geopolítica ajuda a entender a postura da F1 em relação à guerra iniciada pela Rússia.
Na era das redes sociais, manter ainda uma corrida em solo russo certamente provocaria danos à imagem da categoria, algo que no passado era mais facilmente ignorado pelos gestores do Mundial. Basta lembrar que houve corridas na África do Sul nos anos 1960, 1970 e 1980, quando o país vivia o apartheid, regime de segregação racial.
A resposta à guerra na Ucrânia, porém, não foi tão firme quanto as de outras entidades esportivas, como a Fifa e a Uefa. O cancelamento do contrato com os russos só ocorreu depois de muita pressão da opinião pública, sobretudo na Europa.
A cautela em relação ao governo de Putin se deve à amizade de longa data que o político mantém com o antigo gestor da F1, o britânico Bernie Ecclestone, que, apesar de ter vendido a categoria, mantém influência nos bastidores. Ele foi um dos principais apoiadores da campanha que elegeu o atual presidente da FIA.
A entidade que regula o esporte a motor foi pressionada a suspender as licenças dos pilotos da Rússia e da aliada Belarus devido ao confronto na Ucrânia, porém optou por liberar os corredores. Eles não podem usar nem fazer menção a qualquer símbolo de seus países, como hinos e bandeiras.
Na F1, o principal impactado pela medida foi o russo Nikita Mazepin. A equipe Haas decidiu romper o contrato com ele e com a sua então principal patrocinadora, a Uralkali -russa do ramo de fertilizantes-. Um dos donos da empresa é Dmitry Mazepin, oligarca russo associado a Vladimir Putin e pai de Nikita.
É nesse cenário de efervescência política e com o mundo ainda sob a pandemia do novo coronavírus que a temporada 2022 da F1 começa neste fim de semana, no Bahrein. O holandês Max Verstappen, da Red Bull, defende seu título, enquanto o britânico Lewis Hamilton, da Mercedes, busca uma revanche após ficar com o vice-campeonato em 2021.