Depois de divulgar a substituição do diretor de prova, Michael Masi, e a criação de um sistema semelhante ao VAR para apoiar as decisões durante as corridas, a Fórmula 1 publicou seu novo regulamento esportivo com uma mudança sutil no trecho que regula o uso do Safety Car.
O mais curioso em relação às novas regras é que elas, na prática, permitem que outras corridas tenham o mesmo cenário do final do polêmico GP de Abu Dhabi de 2021. Naquela corrida, na qual os rivais Lewis Hamilton, que liderava a prova, e Max Verstappen, que era segundo, chegaram empatados em número de pontos, houve um Safety Car com seis voltas para o fim.
Na penúltima volta, o então diretor de prova Michael Masi ordenou que apenas os cinco retardatários que estavam entre Hamilton e Verstappen recuperassem a volta, ou seja, ultrapassassem o líder. Os outros três que estavam mais atrás tiveram que manter sua posição. No final daquela volta, ele reiniciou a prova. Faltava um giro para o final, no qual Verstappen, com pneus novos, ultrapassou Hamilton para ser campeão.
A decisão gerou um protesto da Mercedes porque as regras dizem que a prova só poderia ser reiniciada no final da volta seguinte àquela em que "o último retardatário passar o líder". Tal procedimento não foi seguido em Abu Dhabi.
Esta parte da regra agora foi reescrita de forma a acelerar a retirada do Safety Car. Não há mais a necessidade de que os retardatários tenham ultrapassado o líder para que a corrida seja reiniciada. A regra agora diz que, "assim que a mensagem 'retardatários podem ultrapassar' for enviada para todos os competidores usando o sistema oficial, o Safety Car vai voltar aos boxes na volta seguinte."
Por outro lado, outros dois trechos que fizeram parte da polêmica e foram usados para negar o protesto da Mercedes continuam constando no regulamento. Um trecho diz que "é requerido que quaisquer carros que tenham levado uma volta do líder". Essa palavra (em inglês no regulamento o termo usado é "any") foi interpretada na decisão de Abu Dhabi como se nem todos os carros tivessem de recuperar a volta perdida para a relargada ser válida, o que é questionável. Esta parte do texto continua a mesma em 2022.
Outro trecho decisivo diz que o diretor de prova tem "autoridade derrogatória", ou seja, suspensiva, em alguns casos. Esta regra tem cinco subitens, falando sobre suspensão de uma sessão ou corrida, por exemplo. Nos três primeiros, está explícito que, mesmo com essa autoridade, o diretor de prova tem de respeitar o código desportivo da FIA e o regulamento esportivo da F-1. Mas isso não é citado nos dois últimos itens: em relação ao procedimento de largada e ao uso do Safety Car.
Isso dá a entender que o diretor de prova tem total autoridade para definir como será o procedimento do Safety Car e esse entendimento fez com que o protesto da Mercedes não fosse aceito. Isso também segue inalterado no regulamento esportivo de 2022.
Ou seja, um cenário como o da final do campeonato do ano passado não só poderia voltar a ocorrer, com apenas alguns carros passando o líder e recuperando a volta, como na verdade é encorajado pelo fim da necessidade de todos os carros liberados ultrapassarem o líder para que isso ocorra.