A AFFA (Associação de Futsal Feminino de Apucarana) compartilhou via Instagram, nesta quarta-feira (8) - Dia Internacional das Mulheres -, um protesto organizado por integrantes da equipe contra o machismo no esporte e a ausência de patrocínio, mesmo apresentando títulos de relevância estadual. A publicação chamou a atenção ao expor atletas e técnico sem a parte de cima do uniforme, com a frase "se não tivessemos peitos, vocês nos apoiariam?".
Na legenda, a associação ainda compartilhou a seguinte frase: "Ser mulher é ser guerreira sem ter outra escolha. A diferença de gênero é o vento que nos empurra pra trás na corrida pelos nossos direitos".
A manifestação ocorre pouco tempo depois da equipe ser impedida de participar do Campeonato Paranaense de Futsal - Série Ouro Feminino por falta de patrocínio para arcar com os custos da viagem.
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O projeto, que se tornou uma associação em 2022 para facilitar o apoio municipal e de empresas locais, é administrado por Adenilsom Souza, que também é treinador das atletas. Segundo ele, a prefeitura de Apucarana disponibilizou uma quadra para treinos e o transporte para as jogadoras. No entanto, após a equipe vencer o Campeonato Paranaense de Futsal - Série Prata Feminino, o treinador esperava que as ajudas fossem melhorar.
"Eu acho que faltou um pouquinho de sensibilidade de, de repente, ter abraçado esse time feminino. De falar 'gente, vamos nos esforçar, unir forças para que esse processo não acabe, ele dê sequência'. Acho que faltou um pouco a sensibilizade do Poder Público. Eles ajudam? Sim. Mas poderiam ter o bom senso de se unir com empresários e não deixar esse projeto acabar", diz Souza.
O técnico ainda reverbera que a foto do protesto é justamente para repercutir sobre como o machismo está enraizado na sociedade, já que o título vencido é inédito para Apucarana, mas só a equipe masculina de futsal do município consegue se sustentar.
"A realidade nossa é triste. Essa foto é para que a sociedade reflita que a desigualdade existe e ta aí, escancarada. Não tem como esconder. É uma forma de a gente tentar colocar a sociedade para refletir sobre tudo que está acontecendo na questão da mulher."
Ele ainda reflete que o preconceito não é exclusivo de homens. "Tinha mulher empreendedora na cidade que não apoiava o feminino, mas patrocinava o masculino. Então, até a mulher, no contexto dela, tem o preconceito de não ajudar mulher. Mulher precisa se ajudar. E o homem também precisa refletir sobre essas diferenças e essa desigualdade."
A prefeitura de Apucarana foi contatada para explicar sobre as ações de incentivo ao esporte no município, mas não respondeu até o encerramento da reportagem.
Amor ao esporte
A atleta Emilly Rigler, integrante da AFFA, revela que todos os esforços das jogadoras de futsal da equipe eram por puro amor ao esporte. "Nós jogávamos por amor, pois nenhuma menina no time recebia algo
pra estar indo em jogos. Então, tínhamos que conciliar o trabalho
com os treinos e os jogos oficiais", conta.
Rigler diz que muitas atletas desistiram do projeto após a notícia de que os esforços para chegarem à Série Ouro não valeram de nada, já que não poderiam disputar. "Claramente, depois da falta de
apoio na cidade, de ter o acesso à Ouro e não poder jogar mais, a
maioria das meninas desistiu, pois a nossa linha de pensamento é: se a
gente joga e ganha as competições e não sai da mesma pela falta de
patrocínio, por que continuar jogando pela cidade se vamos continuar
sempre no mesmo lugar?", questiona.
Foram dois anos batalhando para conseguir ocupar o lugar mais alto do pódio na Série Prata. Para o êxito, as jovens atletas tiveram que passar por muita dificuldade, inclusive bancando as próprias necessidades básicas que, por muitas vezes, não foram supridas.
"Em um jogo que a gente foi em Foz do Iguaçu, a associação não tinha dinheiro para pagar. Elas comeram lanche com dinheiro do próprio bolso. A associação só tinha dinheiro para o cefé da manhã e o almoço do outro dia. Então, foi tudo muito complicado. Só tenho gratidão a elas por tudo que fizeram e conquistaram", lamenta o treinador.
"Jogamos dois anos a Série Prata, e, no segundo ano, acabamos
saindo com o título e com o acesso para a Série Ouro, que
só tem times de elite disputando a competição. Então, como fomos
campeãs, a gente achou que haveria patrocinadores vindo atrás e, no final,
quem que teve que ir atrás disso tudo pra poder ter um apoio pra
disputar a Série Ouro foi o nosso time, sem sucesso", diz Emilly Rigler.
Adenilsom Souza conclui dizendo que o Dia Internacional das Mulheres não é um dia a ser romantizado, mas sim uma data que deve instigar à reflexão. "Não é um dia para se comemorar. É um dia de reflexão. É legal fazer homenagem, mas a mulher tem que ser prestigada, tem que ser respeitada e valorizada todos os dias. E a gente vê que não tá acontecendo", encerra o treinador.
*Sob supervisão de Fernanda Circhia