“Vou gritar que a favela venceu.” O refrão da música de MC Cabelinho foi entoado depois que três atletas que começaram a treinar artes marciais há cerca de quatro meses, no assentamento Aparecidinha, em Londrina, trouxeram duas medalhas de ouro e uma de bronze no 5º Open de Tatame de Kickboxing, torneio promovido no dia 30 de outubro, em Santo Inácio, no Noroeste paranaense.
Ruan Matheus Lourenço da Silva e João Vitor de Oliveira, que trouxeram o ouro, e Dherik Rhuan da Silva Leite, que alcançou o bronze no campeonato, fazem parte dos 57 atletas que começaram a treinar artes marciais no barracão do Projeto Servir Sempre (@projetoservirsempre), fundado há seis anos para levar a palavra de Deus e fornecer alimentos a pessoas carentes que vivem no assentamento. Hoje, são servidas até 300 refeições e, mais recentemente, foi implantado o treino de artes marciais.
A proposta é do instrutor de muay thay e kickboxing Anderson Mafra, de 44 anos. As crianças e adolescentes que participam do projeto esportivo têm entre seis e 15 anos e, para se manterem nos treinos, precisam estar estudando e ter bom comportamento. “Não adianta só incentivar o esporte. Se [o atleta] não se tornar um lutador, que saia um cidadão de bem. Onde vivemos, já conhecemos a precariedade e, com disciplina e estudos, poderão ter melhores condições”, justifica.
Para não atrapalhar os estudos, os treinos são feitos às segundas, quartas e sextas-feiras, em três turnos: às 9h, às 16h e às 20h – este último para quem está mais avançado.
Além disso, o projeto conta com apoio de David Silveira (@davidkickboxing), atleta de alta performance que está no ranking dos três melhores brasileiros no kickboxing. Ele ofereceu sua academia para treinar os jovens do projeto Sempre Servir com aulas às terças e quintas-feiras.
Ajuda dos amigos
O torneio de sábado foi o primeiro dos pupilos de Mafra, que levou seis de seus atletas novatos. Entretanto, as academias de David Silveira e a Pé Vermelho Fight Club (@pevermelho.fightclub), de Carlos Roberto Júnior, auxiliaram bancando a inscrição, o transporte, a alimentação dos jovens e colaboraram com equipamentos para as lutas no campeonato. “Nós só temos a agradecer. Eles nos ajudaram e voltamos da nossa primeira competição com três medalhas”, diz Mafra.
Além da premiação no torneio, voluntários ofereceram um prêmio de R$ 100 para quem trouxesse medalha da competição e o projeto Sempre Servir deu uma cesta básica para cada medalhista, como forma de reconhecimento pelos esforços de cada um.
Porém, para Mafra, o mais importante é o que essas vitórias significam para os jovens e para a comunidade onde vivem. “A emoção deles foi algo que fez a gente chorar. Eles [atletas] não esperavam [vitórias], porque, pelo pouco treino que tiveram de treino, foi surpreendente, até mesmo para a própria família”, afirma o instrutor. “É o famoso ‘das ruas para o ringue’”, complementa.
Mafra admite que, pelo pouco tempo do projeto e pela localização dos jovens, vindos de uma comunidade carente, muitos desacreditariam em vitórias. Para incentivar, ele disse aos pupilos: “Vamos ganhar. Não importa que seja um ouro, uma prata ou um bronze, mas vamos sair pela ruas para comemorar. Como diz a música que eles gostam, ‘a favela venceu’”, conclui, referenciando a música que abre esta notícia.
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Assista ao vídeo dos meninos comemorando a vitória: