José Roberto Guimarães, 67, viveu uma noite emotiva no último 12 de outubro.
No dia em que completou cinco anos de projeto, o Barueri, equipe de vôlei que o técnico comanda dentro e fora das quadras na região metropolitana de São Paulo, derrotou o favorito Sesi Bauru para conquistar vaga na final do Campeonato Paulista.
Leia mais:
Tom Brady diz que ser pai é a tarefa mais difícil de sua vida
Whindersson contra comediante: quem mais luta no card de Tyson e Paul?
Evento esportivo que comemora os 72 anos de Alvorada do Sul está com inscrições abertas
Londrina sedia o Brasileiro de Kart após 25 anos; veja a programação
O grande resultado foi seguido por um desabafo do treinador, tricampeão olímpico (1992, 2008 e 2012) e que há menos de três meses levou a seleção brasileira feminina à medalha de prata nos Jogos de Tóquio.
"Precisamos de ajuda e apoio para esse projeto tão bonito não morrer", afirmou ainda em quadra, ao vivo no SporTV.
Pela primeira vez desde o seu surgimento, o Barueri Volleyball Club entra numa temporada sem um patrocinador disposto a injetar dinheiro no projeto. É uma corrida contra o tempo, pois a equipe já disputou o torneio estadual –foi vice-campeã, derrotada na decisão pelo Osasco– e se prepara para estrear na Superliga, nesta sexta-feira (29).
Por ora, há apenas contratos de fornecimento de uniformes, com a Hummel, e de planos de saúde, com o braço esportivo da Prevent Senior.
Nas três primeiras temporadas, o time tinha como principal parceira a empresa Hinode, e nas duas seguintes, o São Paulo Futebol Clube –relação frustrada após a agremiação tricolor deixar de pagar o devido durante todo o último ano.
O time apelidado pela torcida de "Chiquititas" já foi campeão paulista em 2019 e se tornou celeiro de revelações, mas dificilmente consegue manter no elenco suas jovens mais promissoras. Nos últimos dois anos, 10 atletas saíram com propostas financeiras superiores.
É por isso que Zé Roberto e a família, especialmente a esposa, Alcione, e a filha Anna Carolina correm atrás de empresas. Para sobreviver por mais tempo, o projeto precisa ser minimamente sustentável, mas atualmente os salários das atletas e as outras contas do time profissional são bancados pelo próprio treinador.
Se ainda não resultou na chegada de patrocinadores, o desabafo comoveu a engajada comunidade do vôlei e gerou campanha nas redes sociais com pedidos de apoio ao projeto.
Feliz com a mobilização e também acanhado pelo esforço para manter sua paixão viva, Zé Roberto concedeu entrevista à Folha nesta quarta (27), no centro de treinamento de sua família, o Sportville, em Barueri, local que também funciona como sede do clube e moradia para jogadoras da base.
Além da busca por patrocínio e da motivação por formar novas atletas, o treinador comentou sua renovação de contrato com a seleção brasileira até as Olimpíadas de Paris-2024.
Desabafo sobre patrocínio
"Surgiu na hora. Eu sempre falo de vôlei [nas entrevistas], porque fico meio acanhado, muitas vezes até me envergonho de pedir, dizer "olha, não está dando, nós precisamos de ajuda". Não é uma coisa muito simples de se falar. Não estava na minha cabeça fazer isso. Até agradeço a Glayce também, que estava dando entrevista, falando sobre vôlei e, de repente, pediu a palavra de volta e falou sobre o projeto.
Eu não aguento [tirar dinheiro do bolso] por muito tempo, porque não sou técnico de futebol, sou técnico de vôlei. Comecei a ganhar meu primeiro salário no vôlei com 17 anos. Sempre somando, nunca fui de gastar, sempre fui um cara módico, mas não é que eu tenha para.... É difícil."
Mobilização dos fãs de vôlei
"Temos que agradecer às pessoas que gostam do esporte, que se mobilizaram para pedir [apoio financeiro]. Pessoas que eu não conheço, mas se sensibilizaram, fizeram camisas, mandaram email para as empresas, e algumas delas nos procuraram. Fiquei impressionado com a mobilização e realmente não esperava. Muitas pessoas são torcedoras de outros times e sentiram que o projeto é importante, para não deixar morrer. Poxa vida, tanta gente que se importa."
Busca pelas empresas
"A Carol [sua filha] está tomando conta disso. De vez em quando eu participo [das reuniões] para explicar um pouco do projeto, mas ela é quem fica mais tempo, até por causa dos treinos. Com o que está acontecendo hoje, em termos de vida pós-pandemia e as dificuldades que estamos atravessando no Brasil, dificilmente você terá um patrocinador máster, mas vejo que pode ser um pool de empresas, que cada empresa adote uma jogadora. O importante é manter esse projeto vivo e tem várias maneiras. Se tem empresas procurando, vamos ver as cotas que podem nos ajudar. A gente aceita qualquer ajuda.
Na Itália, hoje, as empresas das cidades se reúnem e veem que o voleibol é uma ferramenta importante de projeção da cidade, que enaltece. Barueri poderia ser um dos maiores pólos de escola de voleibol do Brasil e do mundo, porque quer fazer isso, gosta e entendeu que o caminho é por aí. Vamos ganhar? Não posso dizer para nenhum patrocinador que vamos ganhar. Mas que a gente vai formar pessoas, acredito que sim."
O DNA e as perdas
"Tem patrocinador que, quando entra, quer ganhar o campeonato e contratar jogadoras de seleção. Eu acho que a gente encontrou o nosso DNA, que é o da formação. Temos todas as categorias de base, 17, 19, 21 anos e adulto. Procuramos jogadoras no Brasil inteiro, não só que sejam talentosas e talvez cheguem à seleção, mas para que elas joguem voleibol, tenham chances. É importante a inclusão social, dar oportunidades para essas meninas. Esse DNA de trabalhar com as mais jovens, dar chances, é o que nos move. Primeiro pela motivação nesse trabalho de formação. E depois o fato de elas poderem crescer, ir para o mundo.
Não tem um retorno [de direitos econômicos], fica só a satisfação de elas terem passado por aqui. A gente sabe que vai correr esse risco, o vôlei não é igual ao futebol, que tem passe. Corremos riscos todos os anos. Tem clubes que fazem contratos mais longevos e trabalham com a certeza da continuidade. Essa é a lei do vôlei, sempre foi assim, e não posso criticar de maneira nenhuma [os outros times].
A gente gostaria de ficar alguns anos com esse time. É uma questão de tempo para poder brigar com os melhores do Brasil, mas a cada ano que passa perdemos quatro, cinco jogadoras. Então está ficando muito difícil, todo ano tem que reconstruir. Queremos ter uma segurança maior nesse projeto, trabalhando com essas meninas e tentando dar oportunidades. É um projeto que tem substância."
Retorno da comunidade do vôlei
"Eles ficam preocupados. Todos nós, quando um time acaba, nos preocupamos. É um time importante a menos. Não importa a colocação no campeonato, mas que ele esteja trabalhando para o desenvolvimento do esporte. Quando existe uma diminuição de aporte em algum time é uma preocupação, porque a gente vai perder jogadoras para Europa, Japão, Rússia, Turquia. Quando há queda de aporte ou acaba algum time, tem um número maior de jogadoras [livres] no mercado, e nem todos os times da Superliga vão conseguir absorver."
Fim da parceria com o São Paulo
"A gente sabe que parcerias com times de futebol não são fáceis. Eu imaginava que poderia fazer algo mais próximo do São Paulo, mas, enfim, acabou não acontecendo mais por uma situação de caixa do clube. Conversei muito com o Julio [Casares] quando ele entrou [na presidência, em janeiro deste ano]. Ele foi de uma generosidade, disse: "Vamos tentar te ajudar, mas não tenho de onde tirar, haja vista o que está acontecendo com o time de futebol. No futuro quem sabe a gente volte com o projeto, mas neste momento não tenho como ajudar". Ele foi muito claro, muito correto na forma como se comportou. Houve [um acerto financeiro]. Com uma diminuição do que era o contrato, por causa da pandemia, e dividimos em 20 vezes."
Novo ciclo na seleção até Paris-2024
"Três anos, em termos de esporte, voam. A gente pode, sim, fazer um bom time e brigar, lutar contra qualquer time do mundo. Você pega a China, que ganhou o campeonato em 2016 e foi nona colocada em 2021 com todas as campeãs olímpicas ali. É o mistério das Olimpíadas. Então, a disponibilidade das jogadoras, a energia que elas estavam [em Tóquio], é aquele momento que quando acaba você pensa: "vou sentir muita saudade desse grupo". Tivemos problemas, de contusão, do possível doping [de Tandara], é difícil de administrar, mas tudo valeu a pena. Quando a gente briga por título, o meu sentimento é de alívio por entregar uma coisa boa para o meu país, de a missão ter sido cumprida."
SUPERLIGA FEMININA 2021/2022
Times participantes
Brasília Vôlei-DF
Curitiba Vôlei-PR
Dentil/Praia Clube-MG
Pinheiros-SP
Fluminense-RJ
Itambé Minas-MG
Osasco São Cristóvão Saúde-SP
Country Club Valinhos-SP
Unilife-Maringá-PR
Barueri Volleyball Club-SP
Sesc RJ Flamengo
Sesi Vôlei Bauru-SP
REGULAMENTO
Os 12 times se enfrentam em turno e returno, e os oito melhores colocados vão às quartas de final. O 1º encara o 8º, o 2º duela com o 7º e assim sucessivamente, em séries de melhor de três partidas. O mesmo acontece nas semifinais e na final.
TRANSMISSÃO
Todos os jogos terão transmissão pelos canais SporTV ou pela plataforma digital Canal Vôlei Brasil. Neste último, o torcedor terá que pagar parcela única pela temporada de R$ 99,90 por um naipe (masculino ou feminino) ou R$ 119,90 pelos dois.
PRIMEIRA RODADA
- Quinta (28)
Brasília Vôlei (DF) x Unilife Maringá (PR), às 17h - Canal Vôlei Brasil
- Sexta (29)
Dentil Praia Clube (MG) x Esporte Clube Pinheiros (SP), às 18h - Canal Vôlei Brasil
Itambé/Minas (MG) x Country Club Valinhos (SP), às 18h30 - SporTV 2
Sesi Vôlei Bauru (SP) x Sesc RJ Flamengo (RJ), às 21h - SporTV 2
Barueri Volleyball Club (SP) x Curitiba Vôlei (PR), às 21h - Canal Vôlei Brasil
- Sábado (30)
Osasco São Cristóvão Saúde (SP) x Fluminense (RJ), às 21h30 - SporTV 2