Os tempos mudaram no futebol feminino. Atual campeão mundial, o Japão confirmou o favoritismo e venceu o Brasil por 2 a 0, nesta sexta-feira, em Cardiff, pelas quartas de final da Olimpíada. Foi a primeira vez que as brasileiras não chegaram ao menos às semifinais dos Jogos. E a eliminação precoce veio justamente na pior fase técnica daquela que sempre foi o diferencial verde-amarelo: Marta.
Desbancada do posto de melhor jogadora do mundo no ano passado, depois de cinco títulos seguidos, a camisa 10 do Brasil foi uma coadjuvante da seleção na Olimpíada, e suas companheiras ainda não descobriram como jogar sem ela. A rigor, Marta só atuou bem no segundo tempo da estreia, contra Camarões, quando marcou seus dois gols no torneio.
O Japão, da nova número 1 do mundo, a meia Sawa, decidirá a vaga para a final olímpica contra a França, que bateu a Suécia por 2 a 1, de virada. A outra semifinal será disputada entre as americanas, tricampeãs dos Jogos e que nesta sexta passaram pela Nova Zelândia por 2 a 0, e o vencedor do confronto entre Grã-Bretanha e Canadá.
Sabedor do favoritismo do Japão, que em abril havia goleado o Brasil por 4 a 1 num amistoso preparatório para a Olimpíada, o técnico Jorge Barcellos aumentou em oito centímetros a estatura de sua equipe ao trocar a volante Ester pela zagueira Renata Costa, que atuou improvisada no meio-de-campo. A estratégia era cruzar a bola na área e causar problemas à zagueiras japonesas Kumagai, de 1,71m, e Sameshima, de 1,63m.
O plano funcionou, em parte. O Brasil teve seu melhor início na Olimpíada e criou duas boas chances de abrir o placar. Aos 16 minutos, as japonesas não conseguiram afastar uma bola levantada na área por Rosana e Renata Costa ficou com o rebote, mas bateu por cima do gol. A próxima tentativa foi por baixo: Formiga arriscou de fora da área e a goleira Fukumoto desviou com as pontas dos dedos.
Os dois sustos acordaram as campeãs mundiais, que adiantaram a marcação e não deixaram mais o Brasil sair de trás. O primeiro gol já poderia ter saído aos 23, quando Miyama recebeu com tranquilidade na área, driblou Rosana e bateu colocado para fora. Mas, três minutos depois, Ogimi não perdoou. Após cobrança de falta batida rapidamente, a atacante se projetou nas costas de Bruna, invadiu a área sozinha e tocou na saída de Andreia para fazer 1 a 0.
Marta tentou chamar a responsabilidade, mas não conseguiu se livrar da forte marcação, quase sempre dobrada sobre ela. E a camisa 10 não disfarçava a irritação pela incapacidade de resolver como nos velhos tempos. Logo no começo do segundo tempo, discutiu com a árbitra por ter elevado demais o pé numa disputa e recebeu o cartão amarelo. Poucos minutos depois, perdeu a bola ao tentar driblar na ponta direita e deu uma pontapé numa japonesa. Sorte sua que o lance foi ignorado tanto pela juíza como pela assistente que estava ao lado.
Ainda assim, Marta não deixou de tentar, e teve sua melhor chance no jogo numa cobrança de falta rente à trave esquerda, aos 13. Quatro minutos depois, sua parceira de ataque Cristiane também levou perigo numa cabeçada que saiu por cima. Mas à medida que o time tentava sufocar em busca do empate, se desorganizava todo na defesa e dava espaços para os contra-ataques japoneses. Num deles, aos 27, Ohno recebeu na área, cortou Érika e bateu no ângulo de Andreia. A vaga na semifinal já estava decidida.