Perder o título do último campeonato de F-1 na polêmica volta final do GP de Abu Dhabi foi um duro golpe para Lewis Hamilton. Ele julga ter sido injustiçado por decisões tomadas pelo diretor de provas da FIA (Federação Internacional de Automobilismo), Michael Masi.
A poucos segundos do encerramento da etapa, o inglês chegou a afirmar pelo rádio do carro que a corrida havia sido "manipulada". Do outro lado, um engenheiro da Mercedes respondeu: "Estou sem palavras".
Desde então, o heptacampeão deu apenas uma declaração pública, ainda naquele domingo. Parabenizou Max Verstappen, da Red Bull, pela conquista do Mundial e deixou aberta sua continuidade na categoria. "Sobre o ano que vem, veremos", limitou-se a dizer, enquanto sua equipe dava início a uma batalha nos bastidores contra Masi.
A Mercedes formalizou um protesto minutos depois da corrida, mas os argumentos foram rejeitados. A escuderia chegou a anunciar que apelaria da decisão antes de desistir de ir adiante.
A própria FIA, porém, abriu um inquérito interno e promete apresentar suas conclusões em fevereiro. A decisão final sobre o GP de Abu Dhabi será anunciada em 18 de março, dois dias antes da abertura da temporada 2022, no GP do Bahrein. A demora desagrada Hamilton.
De acordo com os portais britânicos BBC Sports e Sky Sports, o inglês está "desiludido" com a F1. A lentidão para a resolução do caso só aumenta a frustração.
Ainda segundo a BBC Sports, a decisão da Mercedes de retirar seu protesto faria parte de um acordo que estaria sendo costurado nos bastidores. O acerto envolveria a demissão de Michael Masi e também a de Nikolas Tombazis, diretor-técnico de monopostos. Nenhum deles se manifestou.
A investigação da FIA está sendo chefiada pelo novo presidente da entidade, Mohammed Ben Sulayem, que revelou ter buscado contato com Hamilton, mas sem sucesso.
"Mandei mensagens, mas acho que ele ainda não está 100% pronto para respondê-las. Nós não podemos culpá-lo, eu entendo sua posição", disse o dirigente, que assumiu o cargo no começo do mês.
A postura reclusa adotada pelo britânico somada à falta de uma resposta assertiva da Mercedes sobre o futuro dele passaram a alimentar especulações em torno de uma possível aposentadoria do piloto. A menos de um mês do início da pré-temporada, prevista para 23 de fevereiro, a presença dele no grid ainda é incerta.
O silêncio e as questões levantadas a partir disso têm sido usados pelo chefe de Hamilton, Toto Wolff, para pressionar a FIA. "Seria uma acusação para toda a F1 se o melhor piloto decidisse sair [da categoria] por causa de decisões ultrajantes", disse. "Eu realmente espero que possamos vê-lo novamente."
A bronca de Hamilton tem origem na decisão do diretor de provas de não cumprir procedimentos previstos no regulamento logo após um acidente que exigiu a entrada do safety car, principalmente na hora da saída do carro de segurança.
O Artigo 48.12 do regulamento determina que todos os retardatários devem se realinhar à volta dos líderes com o safety car, e este deve retornar aos boxes somente no fim da volta que sucede o realinhamento. Se o diretor tivesse seguido a regra, a corrida teria terminado na volta 58 e sido encerrada sob bandeira amarela, com o inglês em primeiro. A posição lhe daria seu oitavo título.
A direção de prova chegou a proibir que os pilotos que estavam uma volta atrás de Hamilton e Verstappen ultrapassassem a dupla, mas depois liberou que apenas cinco –Lando Norris, Fernando Alonso, Esteban Ocon, Charles Leclerc e Sebastian Vettel fizessem isso. Com os pneus mais desgastados, Hamilton viu o rival da Red Bull assumir a ponta e vencer a disputa.
Orientado a não dar entrevistas, o britânico fez apenas duas aparições públicas desde então, a primeira ao receber o título de Cavaleiro da Ordem do Império Britânico e a segunda quando participou da despedida do agora ex-companheiro de equipe Valteri Bottas. Até das redes sociais, onde costuma falar também sobre questões sociais, ele sumiu. Não publica nada desde 11 de dezembro de 2021.
Tanto o chefe da Mercedes, Toto Wolff, como pessoas próximas a Hamilton evitam falar em nome dele. Nicolas, irmão do heptacampeão, disse apenas que "ele está dando um intervalo das redes sociais."
No dia 18 de fevereiro, a equipe alemã vai apresentar seu novo carro, em um evento virtual. A presença de Hamilton, assim como a de seu novo companheiro, George Russell, é esperada. Antes disso, Wolff promete ter um encontro com o craque. "E não será para beber uma tequila. Eu já bebi o suficiente em Abu Dhabi", ironizou o dirigente.
Da conversa entre os dois sairá a definição sobre o futuro do britânico na F1. Ele tem contrato com a Mercedes até 2023. A temporada 2022 deverá ser sua 15ª na categoria, a décima com a equipe alemã, pela qual ele ganhou seis de seus sete títulos.