Por volta das 17 horas da última sexta-feira, Valdivia chegou em seu apartamento, uma cobertura de um prédio que tem vista para o Allianz Parque. Ele veio de uma consulta na nutricionista, que lhe passou um cardápio especial para seguir nos Emirados Árabes, onde jogará a partir do dia 18 pelo Al Wahda. Antes de partir, ele recebeu a reportagem do jornal O Estado de S. Paulo para uma entrevista exclusiva, publicada nesta segunda-feira.
Por cerca de duas horas, falou o que estava engasgado, fez revelações e mostrou o descontentamento com a diretoria, principalmente com o diretor de futebol do Palmeiras, Alexandre Mattos, que, segundo ele, o enrolou até para dar uma última entrevista, uma despedida do clube.
Estadão - Qual seu sentimento após deixar o Palmeiras mais uma vez?
Valdivia - Foram cinco anos maravilhosos. Aprendi a gostar do Palmeiras. A minha família aprendeu a amar o clube, tanto que meus filhos são palmeirenses. Agradeço a todo o carinho do torcedor neste período. Eles foram muito especiais. O Palmeiras se tornou a minha casa e infelizmente isso chegou ao fim. Não queria que chegasse, mas, por conta de muitas situações, a minha permanência não aconteceu.
Estadão -O que te fez ir embora?
Valdivia - Não vou ficar porque foi oferecido uma proposta que eu não aceitei e não teve segunda chance de me oferecerem algo novo. Por tudo aquilo que as pessoas falaram, que gostariam que eu ficasse por mais tempo aqui porque eu era importante, pensei que teria mais chances. Pensei que iria ter uma segunda proposta, mas não teve. Fiquei engasgado quando o presidente falou que o clube foi no seu limite. O limite foi uma proposta de R$ 120 mil fixo mais R$ 60 mil por jogo em que eu fosse titular. E eu nem sei se esses valores eram brutos ou líquidos, porque enviaram essa única proposta por e-mail.
Estadão -O problema é a produtividade?
Valdivia - Sempre que falavam em produtividade, eu dizia que tinha que ver e saber o que vai acontecer quando eu for para a seleção, ou for poupado pelo treinador. E se alguém bate em mim e eu fico vários jogos fora, como aconteceu com o Vitor Hugo? Eu não iria receber porque uma outra pessoa me machucou? Pedi para conversarmos sobre isso e não foi falado nada.
Estadão -Você acredita que a diretoria não queria que você ficasse?
Valdivia - Vamos ser sinceros. Para fora, a diretoria falou que me queria e para dentro, quem cobre o Palmeiras sabe que eles não me queriam. E, por falar em sinceridade, o Paulo Nobre sempre falava que eu tinha que me encaixar no contrato de produtividade, porque todo mundo que chegou se encaixou. Isso não é verdade. Vocês sabem que têm jogadores que não têm contrato por produtividade. Não sei porque ficar mentindo.
Estadão -A questão financeira pesou?
Valdivia - Vejo muita gente me chamando de mercenário e que eu estava enganando o Palmeiras, mas tive proposta milionária da China e não fui, enquanto a diretoria ficava com ‘papinho furado’ para agradar quem queria ouvir. Por que não me chamaram para conversar? Podiam ter feito como fizeram com o Barrios, que o Mattos foi até o Chile para contratá-lo. Eu estava a uns 40 km de distância. Era fácil ir me encontrar, ir lá falar comigo. Aí depois vem gente falar que sou mercenário.
Estadão -O que você pensa... (Valdivia interrompe a pergunta)
Valdivia - Aconteceu algo engraçado. Quando falei para o Mattos que o Palmeiras não me queria tanto que não foi negociar comigo como fez com o Barrios, ele me disse que já tinha contratado o Barrios há uns dois meses. Eu dei risada, porque ele realmente acha que jogador não se fala. Eu conversei com o Barrios e ele me contou que foi contratado durante a Copa América.
Estadão -O que você pensa do Nobre e do Mattos?
Valdivia - Sempre apoiei o Paulo, até em sua reeleição e sempre tivemos um bom relacionamento. Agora que complicou. Tenho mandado mensagens para falar com ele faz duas semanas e nada. O tempo que ele tem para dar entrevista falando sobre o Valdivia, ele poderia usar para falar comigo. O Mattos é um ótimo diretor e desejo que ele seja campeão pelo Palmeiras. Não vou falar mal dele publicamente. O que tinha para falar, já falei na cara.
Estadão -Imaginava sair pela porta dos fundos?
Valdivia - Na última reunião com meu pai, ele falou que eu tinha recebido uma proposta boa da Arábia e que se o Palmeiras não fizesse uma nova proposta, eu iria embora. Então, precisávamos decidir se eu treinaria separado, com o grupo e jogando, ou com o grupo e sem jogar. O Mattos disse que o presidente decidiria. No dia seguinte, o Nobre deu entrevista falando que eu não fazia mais parte do elenco. Engraçado que ele ainda falou que o Palmeiras se sentia um pouco campeão da Copa América por mim, mas ele sequer me deu os parabéns, nem pelas redes sociais oficiais do clube.
Estadão -Você acha que fez mais coisas boas ou ruins pelo Palmeiras?
Valdivia - Falam que eu devo ao Palmeiras. Só esquecem que eu fiquei na Série B, mesmo podendo sair, fui agredido pela torcida, sequestrado. E agressão e sequestro são motivos que me permitiam rescindir o contrato sem precisar pagar nada e ainda poderia processar o clube, no caso da agressão. Tiveram coragem até de desconfiar do meu sequestro mesmo com imagens e polícia no caso. As pessoas que criaram uma palhaçada nunca me pediram desculpa por isso. Eu tomei infiltração várias vezes, arrisquei minha carreira e uma Copa do Mundo porque o Palmeiras estava na Série B e fiquei, ao contrário de outros.
Estadão -Mas foram várias coisas ruins...
Valdivia - Fiz coisas erradas, sim, claro. Mas pergunte ao departamento médico quantas vezes eu joguei sem poder jogar. Teve treinador, o Felipão, que falou que precisava de mim nem que fosse por cinco ou dez minutos que ele assumiria a responsabilidade, fato que não aconteceu e tudo sobrou para mim. Quando fiz ‘m...’ fui e falei. Faltou isso de outras pessoas.
Estadão -Esse ano, sua preocupação foi mais com a Copa América ou com o Palmeiras?
Valdivia - Joguei várias vezes antes da Copa América. Não joguei antes porque estava machucado. O Guerrero e o Elias pediram para parar de jogar antes, para se prepararem. Mandei mensagem para o presidente e pedi para não jogar contra o ASA e Corinthians para descansar e viajar e ele disse que não dava para me liberar porque iriam criticar ele. Joguei mesmo não estando bem fisicamente.
Estadão -Você passou cinco anos com problemas físicos...
Valdivia - Sim, mas será que a culpa é do Valdivia. Se é, por que está mudando toda a estrutura médica do Palmeiras? Acontecem coisas que as pessoas não ficam sabendo. No jogo com o Ceará, quando recebemos a taça da Série B, eu estava no banco sem nenhuma condição. A torcida pediu para eu entrar, o Kleina me chamou e entrei, mesmo o médico falando que eu não devia jogar. Pode perguntar ao doutor Otávio Vilhena. Então, por respeito a quem pagou o ingresso para me ver, eu entrei, não joguei
‘p...’ nenhuma, só arrumei confusão, mas entrei.
Estadão -Já fez corpo mole para não jogar?
Valdivia - Nunca. Poderia ter feito corpo mole várias vezes. Cometi alguns erros, mas o que aconteceu é que comigo as coisas vazavam na mídia. Por exemplo, na semifinal do Paulista, o Zé Roberto não tinha chance nenhuma de jogar, mas divulgavam que ele ainda tinha uma chance e que ele foi reprovado na hora do jogo. Quando foi comigo contra o Santos, a gente combinou que o clube divulgaria que eu teria chance, mas na última hora eu sentiria, como a história que inventaram do Zé Roberto. Mas a minha história vazou logo de cara e já tinha site dando que eu estava fora.
Estadão -O que incomoda mais: falar do seu salário ou que você é chinelinho?
Valdivia - O Valdivia sai para a noite e se machuca e tem um monte de jogador que você via na igreja e estava sempre machucado também. Posso não ter me cuidado no passado, mas isso é passado. Se eu invento lesão, os médicos têm que falar. Sobre salário, já falaram que eu ganho R$ 700 mil, R$ 600 mil e R$ 500 mil. Na verdade, recebo mais ou menos uns R$ 350 mil e quem falar que eu ganho mais, peço para entrar em contato com meu assessor e levo meu holerite.
Estadão -Então você cometeu muitos erros no passado?
Valdivia - Saía quando não podia sair, mas isso foi em 2010 até, no máximo, 2012. E minha mudança foi acontecendo naturalmente. Eu percebi que estava fazendo coisa errada e até pensei que as baladas poderiam ser o motivo de tanta lesão. Mas os exames mostravam que isso poderia atrapalhar na recuperação, mas não era a culpa de tanta lesão.
Estadão -Verdade que você chegou as vias de fato com o Marcos Assunção?
Valdivia - Sim. Os jogadores estavam bravos com ele, porque sempre ele falava que estava jogando no sacrifício, tinha outros atletas que também estavam jogando assim e ninguém falava. No fim, ele saía como o cara que estava se matando pelo time sozinho. A discussão foi sobre isso, porque o elenco estava chateado e o Assunção entendeu que eu era quem falava mal dele. O César Sampaio é testemunha.
Estadão -O Palmeiras ainda te deve algo?
Valdivia - Eles devem para o meu pai pouco mais de R$ 1 milhão e já me avisaram que não vão pagar. Por falar em meu pai, na última reunião eu me desentendi com o vice-presidente, o Maurício (Galiotte), porque ele disse que a renovação não aconteceu porque meu pai deixou de ir em uma reunião. Primeiro, que meu pai não foi na reunião porque meu avô estava com uma grave doença, tanto que morreu. E a única proposta que me fizeram foi aquela por e-mail.
Estadão -Vai continuar na seleção chilena?
Valdivia - Cometi um erro quando disse que não jogaria mais pela seleção. Vou continuar, sim. Vi gente falando que o Valdivia fazia, com sorte, uns três jogos pelo Palmeiras enquanto na seleção ele joga direto. Só que lá, os treinos são curtos e intensos e tem um cara que eu confio cegamente em 1.000%, que é o Amador (fisioterapeuta da seleção). Quer dizer, 1.000% não, porque teve um cara que falou que confiava 1.000% no Oswaldo de Oliveira e mandou ele embora. No Palmeiras eu não tinha isso, até porque só agora o clube tem uma fisioterapia de time grande.A