Futebol

Sob investigação da Fifa, disputa por vaga de Marin na CBF pode parar na Justiça

11 dez 2015 às 13:53

A manobra do presidente licenciado da CBF, Marco Polo Del Nero, para tentar eleger o coronel Antônio Carlos Nunes vice-presidente da entidade na vaga de José Maria Marin provocou a rebelião de dirigentes do Nordeste - que já se articulam para ir à Justiça - e virou alvo de investigação no Comitê de Ética da Fifa.

Membros da Fifa indicaram ao jornal O Estado de S. Paulo que estão "lidando" com o assunto e querem saber se a convocação de eleições nas atuais condições viola ou não o estatuto da CBF. Um dossiê sobre o caso foi montado e está sendo avaliado pela mais alta cúpula da Fifa. Uma das punições possíveis é a suspensão da CBF do futebol internacional caso fique provado que a eleição ocorreu de forma irregular.


O comitê tentará avaliar o caso antes de quarta-feira, dia das eleições na CBF, e pode optar até por banir Del Nero do futebol. Hoje, já está em curso um processo contra o cartola brasileiro por "sérias violações do código de Ética da Fifa", de acordo com o órgão.


Del Nero pediu licença da CBF na semana passada, após ser acusado pelo FBI de corrupção. Hoje o presidente interino da entidade é o deputado federal Marcus Vicente (PP-ES), que só assumiu o cargo porque Del Nero pediu licença e, assim, indicou o vice que o substituiria. Em caso de renúncia, o estatuto determina que o vice mais velho assuma a presidência.


Na última sexta-feira, Vicente convocou as eleições para o cargo de vice e no mesmo dia foi lançada a candidatura do coronel Antônio Nunes, presidente da Federação Paraense de Futebol. O dirigente tem 77 anos e passaria a ser o vice mais velho da entidade. O plano é impedir que Delfim de Pádua, que tem 74, assuma o poder. Delfim é presidente da Federação Catarinense e opositor de Del Nero.


A manobra provocou irritação em um grupo de dirigentes antes ligados a Del Nero. Gustavo Feijó, vice-presidente da região Nordeste da CBF, cobrou na segunda-feira uma posição da diretoria da entidade sobre a situação do Marin. Sem resposta, no dia seguinte ele e mais sete presidentes de federações enviaram uma carta à CBF pedindo o cancelamento da eleição. Agora, ameaçam ir à Justiça para impedir que o coronel Nunes assuma o cargo.


No entendimento dos dirigentes, Marin está afastado por decisão da Fifa, mas sem condenação criminal transitada em julgado. Por isso, seu afastamento é temporário.
"Essa eleição é ilegal. Ela pode até acontecer, mas não tenho dúvida de que vai acabar na Justiça", disse à reportagem o presidente da Federação Baiana, Ednaldo Rodrigues, um dos líderes do movimento que pede o cancelamento da eleição.


Nesta quinta-feira, os presidentes de federações foram comunicados de que Marin enviou uma carta de renúncia à CBF no dia 27 de novembro. Segundo Rodrigues, o documento não é suficiente para dar garantias legais à eleição. "Essa carta deveria ter vindo a público antes da convocação da Assembleia Geral que vai eleger o novo vice-presidente. A eleição é ilegal porque foi convocada com o cargo ainda ocupado. De nada adianta dizerem somente agora que o Marin renunciou. O erro foi feito lá atrás", disse Rodrigues.


RACHA - Após mudança no estatuto, o colégio eleitoral da CBF passou a ser formado pelos presidentes das 27 federações e dos 40 clubes das Séries A e B do Campeonato Brasileiro. A entidade está dividida atualmente.


"Sou de um grupo que vê as irregularidades e fala. Tem um a ala que vê, mas prefere ficar quieta, enquanto outros dirigentes infelizmente não enxergam nada", diz Rodrigues.


CBF DIZ RESPEITAR ESTATUTO - Procurada nesta quinta-feira pela reportagem para comentar o processo de investigação aberto pelo Comitê de Ética da Fifa para apurar suspeitas de irregularidades na eleição da CBF, a assessoria da entidade emitiu nota na qual afirma que "a eleição para a vice-presidência segue rigorosamente o que prevê o estatuto da entidade".


Sobre a situação de José Maria Marin, a assessoria informou que o dirigente "renunciou ao cargo de vice-presidente da CBF". Ainda de acordo com e entidade, "a CBF recebeu do sr. Marin uma carta de renúncia endereçada à presidência da casa".


Em um acordo assinado com a Justiça dos Estados Unidos no dia 6 de novembro, Marin se comprometeu a não ter contato diretamente ou indiretamente com qualquer empregado ou associado da Conmebol e entidades afiliadas da confederação sul-americana, o que inclui a CBF.


Marin está em prisão domiciliar em seu apartamento em Nova York e usando uma tornozeleira eletrônica.


RONALDO VÊ 'MUITA SUJEIRA' - O ex-jogador Ronaldo também se posicionou contra a eleição para vice-presidente da CBF. Nesta quinta-feira, ele criticou Del Nero. "É mais uma manobra do presidente da CBF para manter o sistema corrupto atual. Infelizmente, as pessoas que ainda estão no comando persistem em manter esse sistema corrupto. Ainda vamos ter muita mudança pela frente, vamos descobrir muita coisa. Tem muita gente séria tentando descobrir tudo e acabar com a corrupção no nosso país. Acredito que ainda muita coisa suja vai aparecer. Vejo muita lama, muita sujeira", disse o Fenômeno.


Ronaldo também afirmou que não se arrependia de ter feito parte do Comitê Organizador Local (COL) da Copa do Mundo junto com Del Nero e José Maria Marin, que está em prisão domiciliar nos Estados Unidos após ser acusado de receber propina.

"Não me arrependo porque tomei todas as precauções éticas possíveis. Meu objetivo era trabalhar pelo meu país, divulgar a Copa do Mundo do Brasil. Abri mão do salário que eles ofereciam. O Marin e o Del Nero, mesmo não tendo nem 5% da atuação que tive no Comitê da Copa, tiveram salários acima de R$ 100 mil. Abri mão desse benefício porque trabalhava somente para ajudar a divulgar nosso país e a Copa."


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