A partir desta quarta-feira o São Paulo não pode mais reclamar da torcida e vice-versa. Os dois caminharam em comunhão para, sob o apoio de mais de 66 mil vozes no estádio do Morumbi, o time batalhar até o fim e na base da insistência furar a retranca do Cruzeiro. A vitória magra por 1 a 0 representa um passo significativo para o time avançar às quartas de final da Copa Libertadores.
O maior público do futebol brasileiro no ano (superou por pouco a final do Campeonato Carioca) empurrou a equipe a não diminuir o ritmo e conquistar a vantagem de jogar pelo empate na semana que vem, no estádio do Mineirão, em Belo Horizonte.
Fábio, o goleiro que mais levou gols de Rogério Ceni - sete na carreira -, quase compensou tudo o que já sofreu graças ao São Paulo. Ele fazia atuação memorável e digna para se colocar em um DVD dos melhores momentos da carreira até os 37 minutos do segundo tempo, quando Bruno cruzou para Centurión cabecear. A bola resvalou no goleiro e morreu nas redes.
O São Paulo sentiu muito a falta de Michel Bastos e de ter mais opções. O meia está com dengue e o time careceu da experiência e poder de criação. Com o banco de reservas sem Luis Fabiano, suspenso, e Alan Kardec, machucado, as soluções minguaram e a equipe penou.
Quase oito meses depois o Morumbi voltou a receber mais de 50 mil pessoas. A redução do preço dos ingressos (a entrada mais barata custava um terço do valor da fase de grupos) fez o clube receber o maior público do ano. A distribuição de bandeiras para os torcedores ajudou a montar um ambiente de festa bem diferente da melancolia do estádio vazio de jogos anteriores.
A noite começou com a vibração da torcida antes mesmo do jogo começar, graças aos gols do Guaraní em cima do Corinthians, no Paraguai. Essa comoção foi maior que a festa para recepcionar o time para o aquecimento no gramado e a derrota do rival por 2 a 0 fez até mesmo o placar eletrônico e o locutor do estádio comunicarem o resultado final da partida em Assunção.
Essa empolgação contagiou o time e fez logo de início os jogadores suarem a nova camisa. De esforço e até de nervosismo. O São Paulo iniciou a partida com muita posse de bola, firme na marcação e tentando uma blitz sobre o Cruzeiro. Por outro lado, era uma equipe ansiosa. Sempre um detalhe - um toque a mais ou um cruzamento mal feito - impedia a conclusão das jogadas.
O São Paulo trocava passes para rondar a área e tentar algum avanço, que só se concretizava pelo lado direito. Centurión parecia ligado em uma voltagem acima do normal e, junto com Bruno, atormentava Mena. Daquele setor partiram as grandes jogadas do primeiro tempo. Foram dois cruzamentos, concluídos com cabeceios à queima roupa e salvos em ação digna de milagre de Fábio.
Conforme o tempo corria, o jogo apresentava panoramas traiçoeiros para os dois times. O Cruzeiro via o donos da casa nervosos e não resistia à tentação de avançar. Ao fazer isso, dava chance para o São Paulo encontrar espaços.
A angústia coletiva fez do segundo tempo um drama. A chance de algum erro custar o resultado positivo deixou os nervos à flor da pele. O grito de gol da torcida ficava sufocado a cada bola que passava pela área ou a cada defesa salvadora.
O Morumbi lotado prendeu a respiração em lances de extrema crueldade para qualquer torcedor. Alexandre Pato chutou de tornozelo no travessão, Centurión driblou os zagueiros e chutou torto e Rafael Toloi cabeceou da pequena área e colocou para fora. Tudo parecia uma amargura sem fim. A recompensa veio a poucos minutos do apito final. O empenhado Centurión deu ao time uma vitória com a cara dele.