Em uma reunião tensa e de quase três horas, a CBF e os dirigentes da Série A do Campeonato Brasileiro não chegaram em nenhum acordo nesta quinta-feira (24) para que seja liberado a volta do torcedor ao estádio.
O encontro virtual ainda teve uma discussão acalorada entre os presidentes da Ferj (Federação de Futebol do Rio de Janeiro), Rubens Lopes, e da CBF, Rogério Caboclo.
O mandatário da entidade que comanda o futebol no país é favorável ao retorno, mas depois de ouvir os times, decidiu abrir votação. Lopes, então, começou a questioná-lo e disse que isso era ditadura velada, que uma reunião informal não poderia ter força de voto como em um conselho técnico ou assembleia.
Segundo integrantes dessa reunião, apenas representantes do Flamengo e da Ferj não se recusaram a voltar com o campeonato antes da liberação das torcidas ser para todos os envolvidos. O clube, assim como a a federação de seu estado, entende que a CBF não teria poder de deliberar sobre o tema. Argumentaram ainda que a decisão sobre o público nos estádios não deve passar pela CBF, mas sim pelas gestões locais.
A reportagem procurou a equipe carioca, que disse não querer se pronunciar sobre o assunto.
A maioria dos presidentes, no entanto, posicionou-se de forma contrária ao retorno do público, mesmo que com até 30% da capacidade dos estádio. O consenso que são necessárias autorizações das 11 cidades envolvidas na competição.
Conforme adiantou o jornal Folha de S.Paulo na quarta-feira (23), o fato de governos como o de São Paulo vetarem o futebol com torcida melou os planos da CBF de ter público nos jogos já em outubro. Uma nova reunião, ainda sem data definida, deverá ser realizada.
Uma das hipóteses ventiladas no encontro é de que em novembro, no início do segundo turno do campeonato, a situação do vírus possa ter arrefecido ainda mais em todos os locais da competição e o futebol voltar a ter público liberado.
No Rio de Janeiro, a volta das torcidas tem causado tensão entre as gestões municipal e estadual. Primeiro, o prefeito Marcelo Crivella afirmou que permitiria ao Flamengo ocupar 20% das arquibancadas do Maracanã, já no próximo dia 4 de outubro, em jogo contra o Athletico. O governo então respondeu mantendo a proibição para eventos esportivos.
Porém, nesta quinta, um decreto do governador em exercício, Cláudio Castro (PSC), autorizou a volta das torcidas para as cidades que estejam com bandeiras amarela (caso da capital, segundo o último balanço da Secretaria de Saúde) ou verde na escala de graduação fluminense para o estágio da pandemia.
Os demais clubes do país, que já estavam em alerta desde a sinalização de Crivella, uniram-se para afirmar que, ou haveria torcida para todos, ou para ninguém.
Levantamento feito pela Folha de S.Paulo mostrou que antes da reunião desta quinta com a CBF, 13 dos 20 clubes da Série A só aceitariam a presença de torcida nos estádios se isso fosse possível em todas as 11 cidades sede do torneio.
Leia mais: No Brasileiro sem torcida, mandantes levam mais cartões e vencem menos No entendimento deles, só assim poderia ser preservado o princípio de isonomia -de igualdade dentro da competição.
Corinthians, São Paulo, Palmeiras, Santos, Grêmio, Internacional, Atlético-MG, Botafogo, Goiás, Atlético-GO, Coritiba, Vasco e Fortaleza adiantaram à reportagem que não aceitariam torcida só em alguns estádios.
Flamengo e Fluminense não quiseram se manifestar antes da reunião; Athletico, Red Bull Bragantino e Sport não responderam; Ceará e Bahia, este último afirmando preferência pela isonomia, disseram que ainda não tinham definido suas posições.
A maior movimentação de alguns clubes e da CBF para a retomada de torcida nos estádios se deu após aval do Ministério da Saúde à entidade que comanda o futebol brasileiro na última terça-feira (22). Segundo o governo, está permitido que jogos recebam 30% de sua capacidade máxima e apenas a torcida visitante. No entanto, a entidade federal deixa à cargo das administrações locais a efetivação ou não da medida, e a reação foi rápida.
Na quarta-feira (23), o governo de João Doria (PSDB), em São Paulo, vetou a proposta que recebeu da confederação para que já em outubro o jogo entre a seleção brasileira e a Bolívia, pelas Eliminatórias da Copa, tivesse torcida. Também negou o pedido para o Campeonato Brasileiro ter público neste momento da pandemia.
Atualmente, todo o estado está na fase amarela, e ainda precisaria passar pela verde para chegar a este patamar. O governo de São Paulo afirmou ainda que no pedido enviado pela CBF para a liberação parcial das arquibancadas, a estimativa era de que cada partida reunisse até 20 mil torcedores.
Outras autoridades, como os prefeitos Nelson Marchezan Júnior (PSDB), de Porto Alegre, e Alexandre Kalil (PHS, e ex-presidente do Atlético-MG), de Belo Horizonte, se declararam contrários ao retorno do público.