Os problemas internos do Palmeiras fizeram mais uma vítima: o ex-presidente Luiz Gonzaga Belluzzo, que comandou o Verdão entre 2009 e 2010, anunciou seu afastamento das questões políticas do clube por tempo indeterminado.
O economista fez o comunicado por meio de uma nota no site da UVB (União Verde e Branca), grupo político do qual faz parte. Nela, ele explica os motivos da decisão e se diz 'cansado' dos problemas no Alviverde.
Belluzzo foi um dos que participaram do início do projeto para construção da Arena Palestra, é conselheiro vitalício do Verdão e membro-nato do COF (Conselho de Orientação e Fiscalização) por ter sido presidente.
Confira o comunicado na íntegra:
"Meus amigos palmeirenses da UVB,
Escrevo esse texto assolado pela angústia do Derby. Essa angústia me persegue desde os cinco anos de idade, assim como hoje atormenta meu filho Carlos Henrique. Logo cedo, ele me enviou um e-mail, quase uma prece: Pai precisamos ganhar. Hoje pode ser o começo de nossa redenção. Carlos, como eu, não abrigamos na alma os amargores da derrota antecipada, mas, sim, cultivamos o impulso incontido dos palestrinos para a vitória, sempre arrancada das reservas de nossas esperanças verdes.
Nada se equipara em minha vida à emoção de contemplar as onze camisas verdes ostentando o escudo glorioso da Sociedade esportiva Palmeiras. Vou confessar: não resisti e chorei quando lí as declarações do 'cidadão', pai do jogador Marcelo Moreno. Nos meus setenta anos de palestrinidade, jamais experimentei uma sensação tão intensa de perda e de humilhação. Não foi pela negociação do Barcos, mas pela forma que ela assumiu.. Ainda assim, domingo na hora do jogo com o Mogi-Mirim, mandei um SMS para o Brunoro: 'Nas horas difíceis e amargas, os que carregam o Palmeiras no coração devem abraçar os que se equivocaram, sem deixar de apontar o erro. Saudações e solidariedade palestrina'. Não tive resposta. Mas isso não importa.
Cansei da política do Palmeiras. Hoje, na ansiedade do clássico, o cansaço transfigurou-se na decisão de encerrar a empreitada na cartolagem. O espírito de meus ancestrais se regozijaram com o gesto de libertação. Quero torcer como um palmeirense da arquibancada e extirpar da alma as protuberâncias e arrogâncias dos sabichões da burocracia da bola.
Não é de hoje que luto contra as réstias de minhas ilusões para me libertar das mesquinharias que somos tentados a praticar nos jogos do pequeno poder ou quando nos entregamos às artimanhas do poder dos pequenos. Fiquei calado até agora para não perturbar a nova administração. Sei que o Palmeiras é pior do que a Florença dos Médici: um festival de envenenamentos e facadas nas costas. Pois continuarei silente, sem perturbar o ambiente, como fiquei, diga-se, na última administração.
Para terminar: sinto não ter feito mais pelo Palmeiras, salvo levar a Parmalat e decidir, organizar e finalizar o contrato de construção da Arena, assinado pelo ex-presidente Afonso Dellamônica. Mas, a torcida tem razão: anseia por títulos e não consegui entregar troféus a nossos queridos e fanáticos aficionados . Afinal, diante de tão retumbante fracasso, qual a importância de se trocar o velho Palestra, tão querido quanto obsoleto, por uma Arena Multiuso que vai gerar receitas parrudas nos próximos 30 anos? Evitei usar o adjetivo 'moderna' para não escrachar ainda mais a palavra. Quando circulo pelas alamedas do nosso querido Palmeiras e ouço certa opiniões e cochichos tenho a impressão de que cometi um crime lesa-clube. Se for assim, peço desculpas e espero que meu erro seja reparado pelos novos gestores. Por essas e outras, é mais sensato cair fora e deixar para os mais jovens os trabalhos de reerguer o gigante.
Agradeço a generosidade dos e-mails enviados pelos amigos da UVB, mas importa pouco se meu nome vai ficar na história do clube. Ontem assisti, outra vez, o documentário sobre a vida do Woody Allen. Ele judeu, eu seminarista dos jesuítas. Na boa tradição judaico-cristã fomos marcados desde a infância pela sina da "passagem", ou seja, fomos educados na visão do caráter fugaz e precário da vida.
Em Macbeth, Shakespeare declamou:
'Amanhã, e amanhã, e ainda outro amanhã
Arrastam-se nessa passada trivial do dia para a noite, da noite para o dia,
Até a última sílaba do registro dos tempos.
E todos os nossos ontens não fizeram mais que iluminar para os tolos
o caminho que leva ao pó da morte. Apaga-te, apaga-te, chama breve!
A vida não passa de uma sombra que caminha, um pobre ator
Que se pavoneia e se aflige sobre o palco -
Faz isso por uma hora e, depois, não se escuta mais sua voz.
É uma história contada por um idiota, cheia de som e fúria
E vazia de significado'.
Cheguei aos setenta anos com uma única certeza: importa apenas o que fazemos pelos outros. No Palmeiras, somos os outros de nós mesmos. Ainda que alguns de nós mesmos insistamos em nos comportar como os 'outros' de sua comunidade.
Por favor, me retirem das listas. Não é um ato de rejeição, mas um gesto de recolhimento.
Luiz Gonzaga de M Belluzzo
Conselheiro Vitalicio SEP
O melhor presidente desde os líderes da Academia Brasileira de Futebol
Autor da co-gestão Parmalat e contrato Arena Palmeiras W Torre"