O goleiro Marcos luta para ter um final de carreira digno, à altura de sua brilhante trajetória. Enquanto decide sobre sua aposentadoria, a dor em ver seu time do coração em meio a muita confusão parece ser maior do que a do atleta após os treinos. Em entrevista exclusiva ao Jornal da Tarde, publicada nesta terça-feira, ele disse que pode se tornar dirigente, mas jamais presidente, e sobre a possibilidade de não jogar mais nesta temporada.
Ao ser questionado sobre a chance de se tornar um dia o principal mandatário do Palmeiras e traçar um caminho parecido com o que parece provável para Rogério Ceni no São Paulo em um futuro próximo, Marcos foi enfático ao negar o desejo de virar presidente palmeirense.
"Deus me livre! Ainda mais do jeito que é a política do Palmeiras. Lá tem 15 milhões de patrões. É muita gente que acha que manda e dando palpite. Convivi com vários presidentes do Palmeiras e tenho certeza de que é uma das posições mais difíceis do mundo. Às vezes é mais difícil do que ser presidente do Brasil. É muito complicada a política do Palmeiras. Não quero isso para mim. Eu sou do ramo do futebol e posso aproveitar o que aprendi para usar isso no time. Não sei administrar um clube e fazer contrato. Quero é chegar no jogador e falar o que tem de bom em jogar no Palmeiras e a pressão que existe aqui", ressaltou o goleiro, que ao mesmo tempo admite ainda não estar preparado psicologicamente para se aposentar.
"Cada dia eu penso uma coisa. Tem dia que eu vejo essa encrenca toda e falo: ''graças a Deus o ano está acabando e não vou mais participar disso''. Depois você pensa que não vai mais entrar no campo, ter a torcida gritando o seu nome e um salário bom. Vai fazer falta. Mas é muita coisa que passa pela cabeça. Eu vejo o álbum de fotografia da família e percebo que nunca estou nele. Tem festa, formatura e nada... Nunca fiquei muito tempo com a minha mãe. Estou pesando para ver o que é melhor", revelou o ídolo palmeirense.
Marcos ainda diz acreditar que a torcida não sentirá sua falta como goleiro, tendo em vista a boa safra de jogadores da posição formada pelo Palmeiras. "O Palmeiras tem vários goleiros de nível. Além do Deola, tem o Bruno, voltando da Portuguesa, o Raphael Alemão, o Fábio e um pessoal da base. Não vão sentir tanto a minha falta no gol. Acho que farei falta no ambiente. É legal ver um moleque que chega do júnior e me fala ''não acredito que estou falando com você''. É que nunca me coloquei como se eu fosse a estrela, o São Marcos, o campeão. Eu sou esse cara que todo mundo conhece, humilde. Por isso gostam de mim", enfatizou.
O experiente goleiro diz que gostaria de ter um cargo na comissão técnica, mas lembra que "hoje o Palmeiras já tem essas pessoas" e que precisará de um período de descanso após se aposentar dos gramados. "Para falar a verdade, o que eu sei mesmo é que quando eu parar quero ficar uns três meses sem fazer nada. Não quero ter horário para acordar e para mais nada. Vivi uns 19 anos não podendo fazer isso, comer aquilo, não fazer algo porque vai sujar a minha imagem. Comprei um baita carro e andei mil quilômetros com ele. Comprei uma casa bonita, mas fico o tempo todo fora dela. Quero aproveitar as coisas que o futebol me deu", ressaltou.
O DILEMA DE MARCOS - Marcos ainda admitiu que vive um dilema ao comentar sobre a sua atual situação como goleiro do Palmeiras, no qual vê Deola hoje em melhores condições de atuar como titular. "Eu podia estar jogando se quisesse, mas junto com o Pracidelli (Carlos, preparador de goleiros) e o Felipão, expliquei minha situação, eles entenderam e chegamos à conclusão que o momento é do Deola. Não quero estar no gol do Palmeiras só por nome. O Deola está em condição física e técnica melhor do que a minha. Tenho até mais experiência, mas o que o time precisa agora não é experiência, é velocidade e explosão. Eu acabei aumentando um pouco o peso por treinar pouco. Mas se treinar muito para baixar o peso não jogo, por causa das dores. E se não treinar fico lento, sem explosão e perco condição para o jogo. O Pracidelli diz que eu manco no treino, mas nem percebo", revelou.
CONFUSÕES E ELENCO SEM FORÇA - Já ao falar sobre a situação de pressão existente no Palmeiras hoje, que ficou ainda complicada depois do episódio envolvendo torcedores que agrediram o volante João Vitor, Marcos negou que isso o motive a parar de jogar. A própria falta de força do clube para buscar títulos é que deixa o ídolo mais frustrado. Para ele, o caso envolvendo João Vitor "foi um fato isolado". "Tem torcedor mais consciente e outros mais exaltados. O João Vitor deu azar de pegar um desses exaltados. A torcida do Palmeiras tem um histórico, mas nos últimos tempos a gente tem conversado para tentar evitar isso".
"Na verdade, quando ganha, todo sacrifício fica para trás. O que cansa para jogar no Palmeiras é todo sofrimento sem nada no final. Não compensa. Sabemos que time que não ganha tem crise. O Palmeiras é um time grande que não ganha um título importante faz tempo. Isso fica mais em evidência e a pressão aumenta a cada ano. Cansa ter de ficar explicando certas coisa que não era nem para chegar na imprensa", completou Marcos, antes de admitir que confusões com a torcida dificultam as contratações de jogadores de peso e causam a saída de outros nomes importantes.
"São jogadores de nível que a gente perde por causa de confusão com a torcida. Já foi o Vágner Love, Diego Souza e agora o problema com o João Vitor. A responsabilidade é sempre muito pesada em cima de Kléber, Felipão e Valdivia. Não podemos esquecer que jogamos num time de futebol. Não são só os três que vão resolver o problema do Palmeiras. Se os outros oito resolverem não jogar, complica", reforçou Marcos, para depois cobrar a formação de um "plantel de nível" para 2012.
"Se o Palmeiras não tiver um bom elenco, você vai contratar um cara de nível e ele vai correr na ''subida'', tendo que assumir a responsabilidade sozinho? Não vai. E ainda tem a pressão da torcida. Tem que vir várias contratações para o ano que vem. Não precisa mandar todo mundo embora, mas precisa reforçar o elenco", finalizou.
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