Pera, uva, maça ou salada mista? Na brincadeira "Caí no poço" ou "Salada mista", essas frutas significam aperto de mão, abraço, beijo no rosto ou um selinho, opções apresentadas para uma pessoa de olhos vendados. Naquele dia, em Ananindeua, no Pará, Paulo Henrique Ganso escolheu salada mista e se deu bem: beijou uma amiga que balançava seu coração. Foi para casa correndo e contou para o pai. Pra quê. Ganhou uma surra de sua mãe, dona Creusa: como pode um menino tão novo beijar as meninas? Aos 12 anos, Ganso não sabia que aquele episódio inocente seria a metáfora de sua vida. A carreira dele é assim: tapas e beijos, glórias e cobranças.
Um dos mais talentosos de sua geração, Paulo Henrique Ganso parece ter se tornado refém das temporadas mágicas que fez pelo Santos em 2010 e 2011, quando se tornou uma espécie de herdeiro natural da camisa 10 da seleção. Havia um clamor popular para que fosse à Copa do Mundo ao lado de Neymar. Mas não foi. Durante a transmissão de um dos jogos do São Paulo, o comentarista e ex-jogador Casagrande fez um diagnóstico parecido. "Ele teve um início fantástico, mas poucas vezes conseguiu ter aquelas mesmas atuações", disse.
Quando não consegue repetir aquele desempenho, quase sempre é questionado. Principalmente pelos torcedores. "Quando ele surgiu menino lá no Santos impressionava pelo toque de bola e visão de jogo. Me lembrava os jogadores de antigamente", avaliou o ex-jogador Neto.
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Hoje, ele está na fase de apanhar. Foi criticado no desembarque do São Paulo após a derrota para o Atlético Mineiro. Antes disso, havia saído vaiado do jogo contra o Coritiba. Foi expulso na derrota para o Sport e execrado de novo.
Aos amigos, Paulo Henrique Ganso reconhece que não está em uma boa fase. Mas acha que é mais cobrado que os outros. Ele se queixa de ser mais exigido que outros cascudos do elenco como Wesley, Alan Kardec, Alexandre Pato, Luis Fabiano e Rogério Ceni. Acha que as pessoas só se lembram do início difícil, quando trocou o Santos pelo São Paulo, mas essa é outra história. Agora, nas vacas magras, o estafe impede que ele leia jornais e sites. "Quando ele vai bem, eu falo. Quando ele poderia fazer algo diferente, falo também", disse o irmão Julio Chagas de Lima. "Ele fica calado e só escuta".
No ano passado, o viés era de alta. No segundo semestre ofuscou Kaká e foi o mais importante. Foram nove gols e 12 assistências. Ele foi o atleta de linha que mais atuou na temporada, presente em 62 jogos. Números melhores que os de 2013.
Nestes altos e baixos, vários clubes quiseram pagar para ver. O Flamengo falou em R$ 18 milhões e um aumento salarial de 50%. O Monaco fez uma sondagem na casa de 10,5 milhões de euros. O jogador balançou com a proposta do Orlando City, o mesmo time de Kaká. Mesmo tentado, não fez nenhum movimento para sair.
Ele ainda se preocupa com a maneira como saiu do Santos. Não foi fácil o que viveu no segundo semestre de 2012. Foi chamado de mercenário pela torcida, que atirou moedas no gramado da Vila Belmiro porque havia pedido aumento de salário para renovar contrato. Os muros do CT Rei Pelé amanheceram pichados com a frase "Ganso Fora" seguida de um cifrão.
Após uma negociação de 32 dias, ele trocou o Santos pelo São Paulo. O Grêmio, na época dirigido por Vanderlei Luxemburgo, estava na parada. O Corinthians ofereceu salário de R$ 600 mil em um contato informal de Andrés Sanchez que não virou proposta.
JOELHO - Neto lembra que o camisa 10 já foi submetido a cirurgias nos dois joelhos. "Acho que os problemas físicos sérios o estão limitando demais. Não consegue render a mesma bola no São Paulo", opinou. Thiago Lobo, fisioterapeuta que cuidou dele na primeira intervenção, não acredita em problemas físicos. Hoje, o meia faz um treinamento diferenciado de equilíbrio muscular quase diariamente. É um dos que mais treina.
Mesmo com altos e baixos, Roberto Maia, presidente do Paysandu, afirma que ele foi uma das grandes revelações da história do clube, mas sempre foi irregular. "Ele é de lua. Não é jogador de linha reta", disse.