Futebol

Copa do Mundo da corrupção 'saqueou' as arenas do Mundial de 2014 no Brasil

15 mai 2017 às 11:39

A Operação Lava Jato também chegou às arenas construídas ou reformadas para a Copa do Mundo de 2014. Delações de ex-executivos das construtores Odebrecht, divulgadas recentemente, e da Andrade Gutierrez citam nove dos 12 estádios utilizados como "palco" de crimes como cartel, pagamento de propinas e também caixa 2. Apenas os particulares Beira-Rio, em Porto Alegre, e Arena da Baixada, em Curitiba, se "salvaram". A Arena Pantanal, em Cuiabá, não foi mencionada nestas delações, mas também já foi alvo de denúncias.

A corrupção rendeu aos acusados de ter se beneficiado de tal filão, políticos e autoridades, pelo menos R$120,9 milhões. O cálculo é bastante conservador. Foi feito com base em quantias e porcentagens citados em depoimentos - várias menções não vieram seguidas de cifras.


O valor pode ser até considerado pequeno diante dos R$ 8,3 bilhões que custaram as arenas de acordo com a versão final da Matriz de Responsabilidades e, principalmente, do oceano de dinheiro roubado em outras ações ilegais desvendadas pela Lava Jato. Confirma, porém, que corruptos e corruptores não perdem oportunidade. "Parafraseando Milton Nascimento (compositor), o corrupto vai aonde o dinheiro está. E, por ocasião da Copa, estava nas arenas e nas obras de mobilidade necessárias para o evento", disse Gil Castelo Branco, secretário-geral da ONG Contas Abertas.


Palco da final do Mundial, o Maracanã é o campeão da Copa da propina. De acordo com relatos feitos pelo ex-presidente da Construtora Odebrecht, Benedito Barbosa Junior, ao Ministério Público Federal, só o ex-governador do Rio Sergio Cabral recebeu R$ 6,3 milhões em pagamentos ilegais relacionados às obras. Procurada, a defesa de Cabral, preso desde novembro em Bangu acusado de vários crimes, disse que "a nossa manifestação está sendo somente nos autos do processo penal".


Outra acusação atinge o presidente do Tribunal de Contas do Estado do Rio, Jonas Lopes. Segundo o ex-diretor da Odebrecht Leandro Azevedo, Lopes teria recebido R$ 1 milhão em fevereiro de 2014 para aprovar o edital de concessão do Maracanã. O acordo seria de R$ 4 milhões, mas as outras três parcelas não foram pagas porque estourou a Lava Jato. Ao jornal O Estado de S.Paulo, a defesa de Lopes e de seu filho, Jonas Lopes de Carvalho Neto (a quem o repasse teria sido entregue), disse que ambos "celebraram acordo de cooperação junto ao Ministério Público Federal e, sob os termos desse acordo e suas nuances, estão legalmente impedidos de realizar quaisquer comentários".


Dois ex-governadores do Amazonas, atuais senadores, Eduardo Braga (PMDB) e Omar Aziz (PSD) foram acusados de recebimento de propinas por dois ex-executivos da Andrade Gutierrez. Clóvis Primo e Rogério Nora de Sá disseram que a Braga foram destinados 10% do valor da obra (saiu por R$ 660,5 milhões) e a Aziz, 5%.


Ambos negaram, por meio de nota. "A delação é mentirosa. Esclareço mais uma vez que não participei da gestão de nenhum obra para a Copa de 2014. Saí do governo do Estado em março de 2010", afirmou Braga. Aziz garantiu que resistiu a pressão da AG por aditivos na obra da arena e que o governo "seguiu rigorosamente os valores orientados pelos órgãos de controle e fiscalização". "Ninguém tem mais interesse do que eu na conclusão deste inquérito".


Outro senador, Agripino Maia (DEM-RN), teve inquérito para investigá-lo autorizado pelo ministro Luis Roberto Barroso, do STF (Supremo Tribunal Federal), por suspeita de ter recebido propina para ajudar na liberação de recursos do BNDES para a Arena das Dunas, em Natal. Maia, presidente do Democratas, rebate: "Tenho certeza de que as investigações vão terminar pela conclusão óbvia: que força teria eu, líder da oposição na época, para liberar dinheiro do BNDES, cidadela impenetrável do PT?"

As construtoras reiteram que estão colaborando com a Justiça para o esclarecimento dos fatos. "A Odebrecht já reconheceu seus erros, pediu desculpas públicas, assinou acordos de leniência... E está comprometida a combater e a não tolerar a corrupção", pontuou a Odebrecht, por meio de nota. "A Andrade Gutierrez informa que segue colaborando com as investigações e reforça seu compromisso público de esclarecer e corrigir todos os fatos irregulares ocorridos no passado". (colaborou Marcio Dolzan, do Rio)


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