A insatisfação com o desempenho da arbitragem brasileira chegou ao comando da CBF (Confederação Brasileira de Futebol). Mas para além do incômodo com decisões específicas dos árbitros, aumenta a pressão sobre Leonardo Gaciba, presidente da comissão nacional de arbitragem.
A reportagem apurou que a cúpula da CBF planeja uma conversa mais direta com Gaciba e com outros que ocupam cargos de chefia na arbitragem para mostrar que o rumo das coisas não tem agradado.
Apesar da insatisfação, na cabeça dos dirigentes ainda não está a troca imediata. Uma alteração a essa altura da temporada é vista como um risco, mas o cenário pode mudar ao término do Brasileiro, em dezembro. Há, inclusive, quem aposte nisso, caso não haja uma mudança de curso.
A leitura de quem comanda a CBF atualmente é a de que há investimento feito no setor, mas o nível da arbitragem não está subindo. O desempenho do VAR é um item central na discussão.
A partir deste ano, surgiu uma separação física entre a CBF e a comissão de arbitragem. Para abrigar a central do VAR, foi alugado um prédio na mesma rua da sede da entidade, na Barra da Tijuca. Lá, funcionava o Comitê Organizador da Copa América, inclusive.
O projeto é herança da gestão Rogério Caboclo. Mas, politicamente, a CBF, agora sob tutela de Ednaldo Rodrigues, não quer um descolamento tão grande em relação ao comando da arbitragem.
Há repercussões políticas para os desencontros da arbitragem brasileira. Nesta quinta-feira (21), inclusive, o mandatário da CBF recebeu o presidente do Atlético-MG, Sérgio Coelho. Um dos assuntos do encontro foi o apito.
Apesar do descompasso entre os clubes, que não conseguem se entender a ponto de fazer a liga ir adiante, a CBF atual não pode se dar ao luxo de perder força política com a maioria.
Ednaldo está no cargo de forma interina. Se a suspensão de Rogério Caboclo for ampliada, excedendo seu tempo de mandato -que é abril de 2023-, novas eleições serão convocadas na CBF. Os clubes das Séries A e B têm voto, apesar do peso menor em relação às federações.
Gaciba tem trabalhado normalmente e se vê em meio a uma guerra de bastidores, principalmente no que diz respeito a Atlético-MG e Flamengo. Há o entendimento de que a reclamação quase constante é um traço cultural do futebol brasileiro. Internamente, comenta que o trabalho da comissão até recebeu elogios dos clubes.
Recentemente, ainda houve um pequeno mal-entendido a respeito de comunicados sobre temas da arbitragem às federações.
Ednaldo mandou no dia 8 de outubro um ofício a respeito do PRAB (Programa de Renovação da Arbitragem Brasileira). Esse projeto tem como objetivo rejuvenescer o quadro nacional e oferece treinamento para quem tem até 32 anos.
Na última sexta-feira (15), as federações receberam um documento assinado por Gaciba com detalhes sobre os requisitos do projeto. Entre as federações, houve quem interpretasse como um atropelo do presidente da comissão de arbitragem.
Mas o tema foi esclarecido. Verificou-se que uma secretária mandou o documento, que iria para presidentes de comissões de arbitragem dos estados. No domingo (17), Sérgio Corrêa, coordenador do VAR no Brasil, mandou uma mensagem para esclarecer que o documento de Ednaldo valia, sim.
Para o presidente em exercício da CBF, ficou entendido que não foi uma situação para fazer confronto. Então, o episódio não entra na balança para avaliar o trabalho de Gaciba.