Ao menos seis clubes da Série A do Campeonato Brasileiro informaram à CBF que não utilizarão o Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, para a realização dos testes de Covid-19 em seus elencos antes das partidas da competição.
A reportagem entrou em contato com representantes dos 20 clubes da elite. Corinthians, Goiás, Atlético-MG, Atlético-GO, Ceará e Vasco já descartaram seguir trabalhando com o hospital paulistano.
O Einstein foi contratado pela CBF para monitorar com exclusividade o processo de exames, mas admitiu falhas na testagem do elenco do Goiás antes da estreia da equipe no Nacional, que deveria ter acontecido neste domingo (9), contra o São Paulo.
A equipe goiana, no entanto, não conseguiu ir a campo por ter ficado sabendo apenas horas antes do jogo que dez atletas haviam sido diagnosticados com o coronavírus.
Marcelo Almeida, presidente do clube esmeraldino, disse que o time foi informado na sexta-feira (7) que deveria refazer os exames do elenco -depois de os primeiros, coletados na quinta (6) por um laboratório terceirizado pelo Einstein, terem sido descartados.
"Nos disseram que houve erro no acondicionamento, mas não explicam o que é isso", afirmou o presidente do Goiás.
O Einstein declarou, em nota que "identificou uma falha técnica na coleta das amostras, feita em um laboratório parceiro em Goiás". Por isso, solicitou novas amostras, que só ficaram prontas no domingo -contrariando assim o prazo de 24 horas prévias exigido pela CBF.
"Os jogadores estavam todos concentrados desde o sábado, inclusive os infectados. Se soubéssemos na sexta-feira [dos jogadores contaminados], não nos concentraríamos", disse Almeida.
A partida entre Goiás e São Paulo só foi suspensa após decisão do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) proferida dez minutos antes de a bola rolar. O fato surpreendeu o São Paulo, que já estava em campo, e a própria TV Globo, que transmitiria o jogo ao vivo.
Devido à confusão logo na abertura do campeonato, a CBF recuou da sua decisão original e passou a permitir que os times possam escolher outros laboratórios, além do Einstein, para fazer seus exames. Ainda no domingo à noite, o Corinthians foi o primeiro a anunciar que buscaria outra instituição "ao verificar diversas falhas e inconsistência nos testes realizados até aqui por outras equipes".
Outros clubes afirmam que irão se pautar de acordo com a logística para os jogos, como o Coritiba e o Fortaleza. "Vai depender às vezes das viagens. Como na semana que vem, que a gente viajará para pegar o Goiás e, depois, o Corinthians, pode ser que façamos no próprio Einstein, mas vamos dar prioridade ao laboratório local", afirmou Marcelo Paz, presidente do Fortaleza.
Santos e Grêmio apontam que a tendência será escolher um outro laboratório a partir de agora. A decisão da CBF saiu no momento em que as equipes já estavam com os exames agendados para a segunda rodada do Brasileiro, que será disputada quarta (12) e quinta (13).
Alguns dirigentes também aguardam mais detalhes da CBF, já que segundo eles a entidade não deixou claro se irá reembolsar os clubes pelos gastos com os exames fora do Einstein.
"É impossível para um treinador montar um time com a testagem em cima da hora do jogo. Então vamos buscar alternativa em Goiânia. Agora, não sei se a CBF vai continuar pagando pelos exames", afirmou Adson Neri, presidente do Atlético-GO.
Os times também pleiteam o aumento no limite de inscrições de atletas no Brasileiro. A princípio os clubes poderão inscrever um número máximo de 40 jogadores até 30 de outubro, podendo substituir no máximo oito deles até a data final de registro, em 20 de novembro.
A cúpula da CBF faz reuniões ao longo desta segunda para estudar quais mudanças deverão ser feitas no seu protocolo sanitário após as falhas vistas na primeira rodada.
Ainda no domingo, o coordenador médico da confederação, Jorge Pagura, isentou o Einstein de erros de resultado. "Houve atrasos, problemas de logísticas na entrega dos resultados, e que serão resolvidos. Mas não tem erro no Einstein nos exames."
Foi a segunda vez que o Einstein admitiu problemas com a testagem de atletas. No começo deste mês, o hospital também reconheceu erro no diagnóstico positivo de 26 jogadores do Red Bull Bragantino antes de enfrentar o Corinthians, pelas quartas de final do Campeonato Paulista.
O elenco do Bragantino precisou refazer os exames (quando todos deram negativo) a sete horas da partida no Morumbi. Por conta disso, o hospital foi notificado pelo Procon na última terça-feira (4).
Fernando Capez, secretário de defesa do consumidor de São Paulo, afirmou que, somente pelo episódio no Campeonato Paulista, o Einstein poderá receber multa de R$ 10 milhões. Ele disse também que o Procon deverá acionar o hospital novamente a partir desta segunda-feira, pelo episódio com o Goiás.
Procurado pela reportagem nesta segunda, o Einstein não respondeu aos questionamentos até a publicação deste texto.