Corta para o vestiário da seleção brasileira em 1998. Zagallo, que comandou o elenco na Copa do Mundo daquele ano e chegou ao vice-campeonato, havia sido demitido. O Brasil precisava recomeçar um trabalho do zero para dar potência a um elenco repleto de talentos.
Foram mais de dois meses à procura de um nome para suceder o treinador. A CBF, presidida por Ricardo Teixeira, chegou ao nome de Vanderlei Luxemburgo, que comandava o Corinthians numa campanha vitoriosa no Campeonato Brasileiro. O contato com o técnico, para que terminasse na polêmica contratação, teve uma condição: ele abandonaria o Corinthians.
Funcionou, com ressalvas. Se dividindo entre seleção brasileira e Corinthians, Luxemburgo conquistou o Brasileiro com o time paulista. A primeira fase foi concluída pelo Corinthians com a melhor campanha, mas a segunda fase foi mais equilibrada. O Cruzeiro foi o adversário final, e Luxemburgo estava presente. Foram dois jogos que terminaram empatados -2 a 2 e 1 a 1-, e a decisão ficou para um jogo extra, vencido por 2 a 0 pelo Corinthians.
Mas o resultado não poupou o treinador das críticas vindas de ambos os lados. Luxemburgo se dividia, num período que o fez perder nove quilos e sentir o acúmulo de funções. O Corinthians foi eliminado na Copa Mercosul, a seleção ia bem. Luxa vivia, ainda, na corda bamba sobre suas convocações - e o quanto elas conflitavam com os interesses envolvendo jogadores corintianos.
O Corinthians estava insatisfeito, e a relação com o treinador, abalada. As partes romperam mesmo com a taça e, em 1999, Luxa viveu apenas o ambiente da seleção. o clube, por sua vez, efetivou Oswaldo de Oliveira.
Futuro de Diniz é ser Luxemburgo?
Há semelhanças na contratação temporária de Fernando Diniz, num acordo feito com o Fluminense, para o comando do Brasil até a chegada de Carlo Ancelotti. Mas Luxa não foi contratado para ser interino. Diniz sabe que colherá (ou não) frutos dessa decisão futuramente, após a era Ancelotti, que ainda nem começou.
Em entrevista coletiva concedida na quarta-feira (5), o presidente do Fluminense, Mario Bittencourt, colocou panos quentes sobre as críticas e citou Luxemburgo como um exemplo positivo.
"A seleção ganhou a Copa América e o Corinthians, o Brasileiro. Não é justificativa, mas um exemplo de que não vamos prejudicar o Fluminense", disse.
"Não vejo conflito de interesses. Temos, no Fluminense, profissionais convocados frequentemente para a seleção. Quando o Fernando estiver em data Fifa, o auxiliar técnico Eduardo Barros comandará os treinos", completou.
Outra mudança positiva para a decisão de Diniz: em datas-Fifa, jogos são suspensos. O técnico não estará ausente em partidas do Fluminense por estar comandando a seleção.
Diniz estreia no comando do Brasil em setembro, quando começam os jogos das Eliminatórias da Copa do Mundo de 2026. O contrato dura um ano, e o técnico deve comandar o elenco também na Copa América, em 2024. A CBF sonha com Diniz e o italiano juntos na competição.
Durante a entrevista coletiva de apresentação de Diniz, o presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, contou que conversou com Mario Bittencourt antes de qualquer contato com Diniz:
"Os tempos em que ética e caráter não eram prioridades na CBF acabaram. Respeito a opinião de todos, mas a escolha do Diniz é baseada na carreira de um dos treinadores que mais admiro, pelo estilo de jogo, por como enxerga o futebol e pela ética".
Diniz se negou a falar sobre Carlo Ancelotti, e explicou que seu objetivo é preparar os jogadores para seu melhor rendimento durante o tempo em que estiver no comando:
"Me sinto honrado e alegre. Fiz questão de encontrar o Ednaldo, para que ele me conhecesse e entendesse se é de fato meu nome que ele quer. Todo o processo foi bastante respeitoso. Nesse momento, eu jamais deixaria o Fluminense para focar só na seleção. É um sonho [ser técnico da seleção], mas se esse fosse o esquema, teria de adiar esse sonho."
Luxemburgo segurou ambos os cargos por um ano. Foi demitido do Corinthians em 1999 e da seleção, em 2000. Voltou ao Timão, entretanto, no ano seguinte. Diniz não sabe quais águas vão rolar, mas afirma que se precisasse deixar o Flu para assumir a seleção, adiaria o sonho.