Depois do afastamento de Rogério Caboclo da presidência da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), os jogadores da seleção brasileira decidiram que vão, sim, disputar a Copa América -provavelmente haverá um manifesto crítico ao torneio, mas não o especulado boicote.
O recuo do elenco verde-amarelo frustrou alguns que esperavam uma posição mais firme dos jogadores contra o torneio.
Walter Casagrande, ex-jogador da seleção e do Corinthians, publicou um texto no ge.globo no qual criticou duramente a mudança de posição dos atletas e reconheceu ter sido ingênuo ao acreditar em uma postura diferente.
"Essa é a geração de jogadores de futebol mais alienada que eu já vi desde anos de 1980. O importante para eles é estar nas redes sociais, mostrando suas mansões, seus carros", escreveu o ex-atacante.
Leia mais:
Palmeiras supera maior vilão da temporada
Herói do Flamengo é de Mandaguari, homem de confiança de Filipe Luís e é fã de Arrasca
Ratinho flagra produção assistindo jogo da seleção brasileira na Globo
Flamengo é salvo pela base, vence Cuiabá e segue com sonho do título
"A atitude dos jogadores de decidir jogar a Copa América é mais um ato covarde. Mostra que os atletas não estavam preocupados com a grave situação sanitária do país, e sim com eles mesmos. Ficou tudo legal para os jogadores após o afastamento de Caboclo", completou.
Já Giovanni, ex-jogador que marcou época com a camisa do Santos e também vestiu o uniforme da seleção, vê a questão com outros olhos. A possibilidade de o time nacional não disputar a competição era estranha para ele.
"Os jogadores são convocados. Se vai ter Copa América, a CBF pega o treinador e convoca o jogador. Se o jogador não quiser, ele vai falar: 'Não quero jogar a Copa América por causa disso'. Simples assim. Quem não quiser, boas férias", declarou o ex-meia.
Neto, ex-jogador do Corinthians e hoje apresentador da Band, fez um longo desabafo no programa "Os Donos da Bola", voltado sobretudo à denúncia contra Rogério Caboclo. Afirmou que tais fatos e os problemas da pandemia no Brasil são muito mais importantes do que a Copa América e questionou a realização do torneio neste momento.
"Tite, se você realmente quer ser um dos maiores treinadores da história, pede demissão. [...] A discussão da Copa América não é mais importante que a do assédio", pontuou. "Eu quero que se exploda a seleção brasileira", frisou.
Rogério Caboclo foi afastado da presidência da CBF pelo conselho de ética da entidade, no domingo (6). O órgão recebeu denúncias de uma funcionária da entidade que afirma ter sido assediada por ele.
O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AM), que havia manifestado apoio ao boicote, compartilhou reportagem do jornal Folha de S.Paulo sobre a decisão dos jogadores de disputar o torneio, mas não comentou diretamente o recuo.
"O que acompanhamos nos últimos dias foi uma sequência de horrores sem precedentes na história do Brasil pós-redemocratização", afirmou no Twitter, criticando a relação da CBF com o governo federal.
Renan Calheiros (MDB-AL) chegou a enviar uma carta à seleção pedindo o boicote, afirmando que abrir mão da disputa, "em nome de vidas", poderia "significará sua maior conquista". Ele não comentou a mudança na postura dos atletas.
Na entrevista coletiva desta segunda-feira (7), o técnico Tite evitou respostas diretas para as perguntas sobre o tema.
"O tempo das manifestações é o nosso tempo [...] Temos orgulho muito grande da conduta que temos, do respeito que temos a este momento. Quero, sim, estar de corpo e alma, fazendo o melhor trabalho possível. Queremos jogar bola e fazer um grande jogo contra o Paraguai", disse, referindo-se ao compromisso pelas Eliminatórias, na terça (8), em Assunção.
Não foram só pessoas envolvidas profissionalmente com o futebol ou com a política que criticaram o recuo da seleção. O cientista Miguel Nicolelis se mostrou decepcionado principalmente com o volante Casemiro, que surgiu como porta-voz dos atletas durante os útimos dias.
"E no final das contas a tal 'posição que todos já sabem' anunciada pelo capitão da seleção brasileira era um 'vamos jogar a Copa América'.
Casemiro foi tachado de herói, capitão para entrar para a história, e no final era mais do mesmo no pobre e mentalmente árido futebol", afirmou, no Twitter.
Na mesma rede social, o escritor Sérgio Rodrigues, autor de "O Drible", foi irônico: "A camisa amarela continuará sendo um símbolo da extrema direita, mas o uniforme muda um pouco. Agora, o calção é marrom".
O também escritor Marcelo Rubens Paiva seguiu a linha de Casagrande e colocou: "Fomos todos ingênuos".
"Já que resolveram disputar a Copa América, como será o tal manifesto dos jogadores da seleção da CBF: a) publicarão uma hashtag ousada nos perfis das redes sociais; b) entrarão em campo com o mesmo corte de cabelo revoltado; c) farão uma dancinha-protesto no TikTok", brincou o humorista Antônio Tabet, ex-vice presidente de comunicação do Flamengo.