A primeira lembrança do futebol de Nadia Nadim é jogar no quintal de casa com as irmãs e o pai, Raibani, general do Exército do Afeganistão. Ele adorava o esporte que, pouco tempo depois, viraria uma obsessão na vida da filha também, na época com 8 anos.
Hoje em dia, aos 31, Nadia é camisa 10 da equipe feminina do Paris Saint-Germain e 9 da seleção da Dinamarca, país que adotou como seu ao fugir do Afeganistão com a mãe e irmãs na traseira de um caminhão que deveria ir para o Reino Unido, mas não foi.
"Tudo o que nós desejávamos era uma nova oportunidade. Por sorte, encontrei pessoas maravilhosas que em momentos importantes fizeram tudo para me ajudar", diz a atacante, que também está no último semestre do curso de medicina da Universidade de Aarhus, na Dinamarca. Ela terá de conciliar a vida de atleta com a de residente da faculdade.
Quando Nadia tinha 12 anos, seu pai foi para uma reunião de trabalho e não voltou. Nunca houve explicação oficial, mas amigos da família, também do Exército, disseram que ele morreu em um atentado do grupo terrorista Taleban, em guerra com o governo afegão.
Nas regiões em que tinham o controle, a organização proibiu jogos de futebol. Garotas com mais de 8 anos não podiam ir à escola. Mulheres jamais poderiam ser vistas nas ruas desacompanhadas.
A mãe conseguiu passaportes paquistaneses falsos, e elas tentaram fugir para a Inglaterra, onde tinham parentes. Desembarcaram na Dinamarca, país que nenhuma delas sabia onde ficava. Foi no campo de refugiados que Nadia voltou a jogar, e esse se tornou seu único assunto.
"A comparação que eu gosto de fazer é que o futebol é diferente de quase tudo na vida, porque não importa quem você é, de onde vem, que altura tem, quem são seus pais. Importa saber jogar. E a sensação de fazer um gol é indescritível", afirma Nadia em entrevista por e-mail.
O futebol lhe deu uma vida e permitiu que ela morasse em outros países. Atuou também nos Estados Unidos e realizou o sonho da família de ir para o Reino Unido. A atacante foi contratada pelo Manchester City, mas não se adaptou por motivos que até hoje não consegue explicar. Considera que talvez tenha sido o tempo chuvoso.
"Eu não me sentia feliz. As pessoas foram ótimas comigo, me trataram muito bem, mas eu apenas sentia que não era o meu lugar", relata.
Em janeiro do ano passado, apareceu a oferta do Paris Saint-Germain. Na atual temporada da liga francesa, ela tem oito gols marcados em 12 partidas.
Pela Dinamarca, jogou as Eurocopas de 2009, 2013 e 2017 e foi vice-campeã no último torneio. A federação do país teve de solicitar à Fifa autorização especial para que Nadia pudesse jogar pela seleção. Pelas regras da entidade, a atleta tem de viver no país por pelo menos cinco anos antes de ser convocada. O pedido foi aceito.
O que faltou na carreira até agora é disputar a Copa do Mundo. A última vez que as dinamarquesas se classificaram foi 2007, antes de ela começar a ser chamada.
Não que seja uma grande preocupação. Nadia afirma não gostar de falar do passado. Ela é mais eloquente para abordar o futuro, provavelmente longe do futebol. Aos 31, sabe ter mais alguns anos no esporte.
"Eu quero ser cirurgiã. Amo o futebol, é a minha vida. Mas sempre pensei em encontrar uma maneira de ajudar e melhorar a vida das pessoas", conta a atleta, que fala nove línguas: dinamarquês, inglês, urdu, persa, dari, alemão, hindi, francês e árabe.
Por enquanto, Nadia não pensa em ser técnica, dirigente ou continuar envolvida no mundo da bola em qualquer cargo.
Apesar de contar os meses para se formar, não pensa em exercer a medicina enquanto estiver no futebol. Em 25 de março, o PSG enfrenta o Arsenal pela partida de ida das quartas de final da Champions League feminina, torneio que seu time nunca venceu e tem sido dominado por outro francês, o Lyon, campeão nos últimos quatro anos.
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