Ao anunciar a sua aposentadoria de forma surpreendente no domingo retrasado, Kaká, de 35 anos, se tornou o último autêntico meio-campista da seleção brasileira a vestir a camisa 10. Hoje, Neymar carrega este número nas costas na equipe nacional, mas ele é um jogador de característica genuinamente ofensiva, sem a responsabilidade direta de ser um grande criador de jogadas, como outros nomes de peso da história do time canarinho tiveram por décadas.
Pelé eternizou a camisa 10 ao fazer história pela seleção com os títulos das Copas de 1958, 1962 e 1970, mas ele também era um autêntico finalizador, chamado na época de ponta-de-lança, que se tornou o maior goleador de todos os tempos e não carregou a responsabilidade de ser o cérebro da equipe, embora fosse o astro maior do time. Meio-campista do Brasil na campanha do tricampeonato mundial, no México, Rivellino herdou a mítica 10 que pertenceu ao Rei do Futebol após a aposentadoria de Pelé e envergou a mesma no time nacional nas Copas de 1974 e 1978.
Entrevistado, Rivellino reconheceu que Kaká foi o último grande nome da seleção que vestiu a 10 como um autêntico meia, o que ocorreu na Copa de 2010 antes de Neymar assumir o número e usá-lo no Mundial de 2014. Mas o fazendo como um atacante, diferentemente do que ocorreu também com o maestro Zico, que foi o dono da 10 do Brasil nas Copas de 1982 e 1986, com Silas em 1990, Raí em 1994, Rivaldo em 1998 e 2002, Ronaldinho Gaúcho em 2006 e finalmente Kaká em 2010.
"Primeiro eu queria dizer que no futebol brasileiro acabou o 10. Hoje na seleção nós não temos mais este jogador. O 10 era muito marcante, principalmente depois que o maior jogador do mundo vestiu essa camisa, que deveria ter sido imortalizada, colocada em um pedestal e ninguém mais usá-la depois que o Pelé a usou na seleção", disse Rivellino, lembrando o significado de usar esta camisa pelo país.
"De uma certa forma, a camisa 10 é uma responsabilidade. No futebol brasileiro, a 10 diz tudo, mas de repente isso acabou. O Neymar hoje é o mais importante do Brasil. E ele mesmo disse que queria jogar com a 10 e, se você for analisar friamente, é ele quem tem a capacidade de usá-la, mas não é o conhecido 10 das nossas épocas, o 10 que vinha de trás, que pensava, que armava. E hoje taticamente as equipes mudaram, mas eu gostaria de ter um 10 e ver o Neymar com a 11, que ele também gostava de usar. A gente vê um pouco do Philippe Coutinho com essa condição, mas ele não é aquele 10 que chama a atenção da gente", opinou Rivellino.