Após um período de calmaria, Juvenal Juvêncio e Carlos Miguel Aidar voltaram a se atacar. O ex-presidente do São Paulo rebateu as críticas feitas pelo seu sucesso em entrevista publicada nesta segunda-feira na coluna de Sônia Racy no jornal O Estado de S.Paulo. "Ele é um presidente ilegítimo porque ele traiu e deu o golpe nos eleitores", ataca Juvenal.
O ex-presidente diz não deixou o clube endividado, como Aidar afirma, e que o time vice-campeão brasileiro foi montado por ele, com exceção de Alan Kardec, contratado do Palmeiras com dinheiro que ele deixou em caixa.
Agência Estado - Em entrevista publicada nesta segunda-feira no Estado, o presidente do São Paulo, Carlos Miguel Aidar, diz, entre outras coisas, que o senhor nunca foi ligado à gestão do clube. Como o senhor vê esse tipo de crítica?
Juvenal Juvêncio - Achei uma barbaridade. A instituição é forte, importante. Ele tem de dar exemplo. O Carlos Miguel mudou completamente, radicalmente. Ele está irreconhecível. Se você espremer, o resultado é zero. Ele foi escolhido por mim. Eu não estou excluindo a minha responsabilidade. Eu estou exteriorizando e enfatizando a minha responsabilidade, mas ele me traiu e deu um golpe nos eleitores. Perdeu a legitimamente. Ele disse numa reunião de diretoria: 'Eu estou aqui posto pelo Juvenal Juvêncio'. Era uma coisa natural, porque havia 24 anos que ele não ia no clube. Não sou um cara de bravatas. Eu mandava dois ingressos para ele assistir aos jogos, mas ele nunca foi e ia passear de barco. Carlos Miguel não tem amor pelo futebol. Mas ele queria voltar, me telefonou e resolvi pegar um ex-presidente e colocar lá.
AE - Se ele realmente não frequentava o Morumbi havia 24 anos, por que o senhor decidiu que ele deveria ser o seu sucessor?
Juvenal - Ele não foi aos jogos durante 24 anos, isso é estatístico, mas não perdeu a legitimamente de ter sido presidente do clube. Na gestão dele, fomos campeões e tivemos uma administração interessante no futebol. O problema é que ele mudou. Eu não sou maluco que colocar na presidência alguém que não tem firmeza de manter a unidade dentro do clube que eu mantinha para o bem o São Paulo. Você acha que eu faria alguma coisa que iria se esfacelar em cima de mim e da instituição? Coloquei alguém em que eu pudesse confiar e foi aí que eu errei. Se ele não tivesse mudado, não teria nenhum problema.
AE - Carlos Miguel Aidar diz que assumiu um clube endividado e que isso o surpreendeu. Como o senhor deixou as finanças do São Paulo?
Juvenal - Esse time que está aí ele trouxe só o Alan Kardec, que custou R$ 20 milhões e ele tem falado que teve de fazer empréstimo. É mentira! Banco não dá dinheiro para o futebol. Ele pegou dinheiro do fluxo de caixa que eu deixei lá. E pagou à vista. Depois ele trouxe o Kaká, mas a transferência não teve custo. Trouxe também o Michel Bastos, que nem era titular. É lateral-esquerdo, onde nos já temos o Alvaro Pereira, que é da seleção uruguaia. O time está bem, mas não foi montado por ele, foi feito anteriormente.
AE - Ele reclama que a antecipação de R$ 50 milhões da cota de transmissão paga pela Globo consumiu quase toda a receita de 2015 e que só descobriu isso duas semanas antes das eleições, em abril.
Juvenal - Fizemos um adiantamento de R$ 50 milhões que foi uma dádiva porque a Globo não estava fazendo esse tipo de negócio. O Carlos Miguel sabia e tem foto de um almoço nosso no São Paulo com o Marcelo Campos Pinto (diretor da Globo). Agora, na hora de contar para vocês, ele coloca isso no débito. Isso é um adiantamento. Ele mete o pau no Refis (programa de recuperação fiscal), que é a nossa salvação. Você não coloca a mão no bolso e está pagando a conta fiscal. A Timemania foi absolutamente generosa com os clubes, mas foi perversa com quem não apresentava atestados de liberação de dívidas com o poder público. O São Paulo tinha atestado de Certidão Negativa de Débito na área municipal, estadual e federal, com o INSS e Procuradoria Geral da Fazenda Nacional, então o dinheiro entra no São Paulo no fluxo normal. Foi por isso que pudemos fazer o CT de Cotia com dinheiro de incentivo do governo federal. Pegamos os milhões que precisávamos e fizemos até hotel. Agora, antes de eu sair, consegui mais R$ 10 milhões para fazer a manutenção lá de Cotia.
AE - Então por que ele critica tanto a sua gestão?
Juvenal - Também me pergunto isso. Ele viu que eu tinha uma força muito grande no São Paulo. Muito forte mesmo. As estatísticas mostram isso. Nas eleições, eu tinha cinco ou sete votos contra e o resto a favor. Ele ficou cabisbaixo com isso e começou fazer coisas inenarráveis. Quando ele fala das dívidas é porque ele quer vendê-las. Ele está criando um clima para poder fazer isso. Eu fiquei quieto, mas ele contratou três advogados do escritório dele e colocou lá dentro do São Paulo. Agora vem falar que não tem dinheiro. Como ele comprou o Alan Kardec à vista sem fazer empréstimo? Ele falou que o estádio estava velho, caindo, e queria trocar o Morumbi por um terreno em Taboão da Serra. Veio falar comigo quando eu era presidente e eu disse: 'Não venha com essa conversa'. Aí levou um tranco tão forte que mudou de ideia e agora diz que o estádio é bom e só precisa fazer a cobertura. As declarações dele são ingênuas. Ele quer me denegrir, jogar minha imagem para baixo, para ficar em alta no clube.
AE - Como o senhor vê o relacionamento do Carlos Miguel Aidar com os demais clubes?
Juvenal - Fui almoçar com Mário Gobbi (presidente do Corinthians), Andres (ex-presidente), Rosemberg (vice), e o pessoal do Palmeiras e o do Santos. Ele estava junto comigo. O presidente do Palmeiras não foi e mandou avisar que não iria por causa dele. Em um mês de mandato ele já havia pegado a ojeriza de todos os clubes de São Paulo. O Marco Polo não pode nem falar dele. O culpado sou eu de ter escolhido.
AE - Tem como mudar essa situação?
Juvenal - Ele tem de ir embora. Para mim, ele é um presidente ilegítimo porque ele traiu e deu o golpe nos eleitores. Ele disse que estava na presidência por causa do Juvenal Juvêncio e no dia seguinte da eleição quis me ver pelas costas. Eu não fiz absolutamente nada e ele tramava dia e noite contra mim. Qual é a legitimamente de um cara que não sabia onde ficava o portão 7 do Morumbi?
AE - Como tirar do cargo um presidente eleito de maneira legítima?
Juvenal - Ele é o presidente, mas se tivesse autocrítica deveria dizer: 'Eu traí meus eleitores e, por isso, vou embora'. Ele é o presidente de fato e direito e espero que daqui dois anos e meio não seja mais. Eu tenho uma cultura democrática e debato isso com qualquer um, ele que não tem e não sabe nada dessas coisas. O presidente do Real Madrid, Florentino Perez, no primeiro mandato, por exemplo, viu que não estava agradando e renunciou. Depois, voltou. A legitimidade política do Carlos Miguel acabou. Ele tem apenas legitimidade jurídica.