O silêncio de Lewis Hamilton após a decisão polêmica do campeonato da Fórmula 1 e a falta de uma resposta assertiva de seu chefe, Toto Wolff, durante uma coletiva de imprensa semana passada a respeito do futuro imediato do heptacampeão despertaram rumores sobre uma possível aposentadoria do inglês.
Mas quais são os fatos e quais as especulações nesta história?
Logo depois de perder o campeonato na última volta da corrida fianl, vendo-se exposto com pneus velhos na relargada do GP de Abu Dhabi após a direção de prova não seguir todos os procedimentos previstos em regulamento, Hamilton primeiro disse a seu engenheiro de pista, Peter Bonnington, que a corrida tinha sido "manipulada", ao que Bono respondeu estar sem palavras. Afinal, este era o sentimento da equipe.
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Logo depois, ele participou da entrevista conduzida por Jenson Button com cada um dos três primeiros na corrida, dando os parabéns a Max Verstappen pelo título e dizendo-se orgulhoso do trabalho da Mercedes.
Quando perguntado por Button sobre 2022, disse que estava se sentindo muito bem nos últimos meses, mas que agora só queria se preservar por conta da pandemia, ter um bom Natal e "sobre o ano que vem, veremos".
Isso foi dito, claro, no calor do momento, antes mesmo de subir ao pódio. Como a Mercedes logo decidiu protestar contra o resultado da corrida, a equipe instruiu Hamilton a não comparecer ao restante de seus compromissos com a imprensa.
O protesto acabou sendo deferido, com base em um artigo que dá ao diretor de prova autonomia para decidir quando o Safety Car entra ou sai da pista -decisão sobre a qual a Mercedes chegou a registrar a intenção de recorrer, mas depois voltou atrás-, e Hamilton saiu calado do circuito de Yas Marina já perto da meia-noite do dia 12 de dezembro.
Dali em diante, ele fez duas aparições públicas, mas sem dar declarações: recebeu oficialmente o título de Sir das mãos do Príncipe Charles e depois participou da festa de despedida do companheiro Valtteri Bottas na fábrica da Mercedes, em Brackley, na Inglaterra. Ele optou por não ir à cerimônia de entrega de troféus da FIA (Federação Internacional de Automobilismo), realizada em Paris.
Suas últimas postagens nas mídias sociais foram no dia anterior ao GP de Abu Dhabi, em 11 de dezembro.
Mas o que deu mais combustível aos rumores foi a entrevista de Toto Wolff concedida no dia em que a Mercedes retirou sua intenção de apelar contra o deferimento de seu protesto de Abu Dhabi.
Questionado várias vezes se poderia confirmar que Hamilton fará parte da equipe ano que vem, o austríaco se limitou a dizer que seu piloto estava "desiludido" com o esporte e que espera "que Lewis continue correndo, porque ele é o melhor piloto de todos os tempos".
De lá para cá, dirigentes, ex-pilotos, e inclusive Verstappen vieram a público dizer que não acreditam em uma aposentadoria. "Não vejo nenhum motivo para desistir agora", disse o piloto da Red Bull. "Claro que eu entendo que, logo depois de uma corrida como a de Abu Dhabi, você não fica contente. Mas você tem que entender que as corridas são assim e essas coisas acontecem."
Seus ex-companheiros, Button e Nico Rosberg -que inclusive anunciou a aposentadoria dias depois de ser campeão, surpreendendo a todos na época-seguiram na mesma linha, falando ao canal de TV britânico Sky Sports. "Não conheço o Lewis de hoje tão bem", admitiu Button. "Mas não o vejo indo embora, especialmente depois de perder um campeonato."
Rosberg reconheceu que deve ter sido "muito duro" para Hamilton lidar com "aquela mudança de procedimento, ou seja lá como queiram chamar o que aconteceu". Mas ele também vê o heptacampeão de volta "para vencer aquele campeonato que foi tirado dele."
A opinião é a mesma de Stefano Domenicali, CEO da F1. "Tenho certeza de que ele vai recarregar suas baterias e voltará com ainda mais vontade do que antes de conquistar o oitavo título," disse o italiano à Gazzetta dello Sport.
Hamilton disse em várias ocasiões que isolar-se como o maior detentor de títulos de todos os tempos não é sua grande ambição mas, sim, estabelecer plataformas para gerar oportunidades para minorias pouco representadas na Fórmula 1.
Neste sentido, a Mercedes vem dando-lhe apoio para viabilizar os passos apontados pela Comissão Hamilton em seu primeiro relatório divulgado há cinco meses, e esta foi uma razão citada pelo piloto para a renovação de seu contrato com o time valendo para as duas próximas temporadas, 2022 e 2023, no que, acredita-se, é o último contrato do piloto que completa 37 anos em janeiro.
Contratos podem ser quebrados na Fórmula 1, e o exemplo de Rosberg mostra isso. Por outro lado, a carreira de Hamilton foi marcada pela superação de dificuldades e é difícil imaginar, como disseram seus ex-companheiros, que uma derrota, por mais controversa que seja, o faça se afastar do esporte.