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Na Grã-Bretanha

Campanha de lingerie com atletas de rúgbi reforça estereótipos sexistas, diz especialista

Folhapress
26 jul 2024 às 12:45

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- Reprodução/Instagram
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Recentemente o time feminino de rúgbi da Grã-Bretanha sofreu críticas por uma campanha que envolvia as atletas vestindo lingeries de renda e sensuais.


Com o nome "Strong is Beautiful" ("Forte é Belo"), as jogadoras protagonizaram um ensaio da marca Bluebella com o objetivo de enfatizar a beleza de corpos atléticos.

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A publicidade tem como base uma pesquisa da organização Women in Sport, que mostrou que 64% das meninas com mais de 13 anos abandonam os esportes devido a problemas com a imagem corporal.

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O tiro, no entanto, saiu pela culatra. A campanha foi recebida com críticas nas redes sociais, dentre elas da campeã de tênis Martina Navratilova, que escreveu em sua conta pessoal no X (ex-Twitter) que a campanha "é retrógrada e sexista". Muitos comentários ecoaram essa visão, reforçando estereótipos negativos e desrespeitando as atletas.

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Carmen Rial, jornalista, antropóloga e doutora pela Universidade de Sorbonne (França), com estudos sobre antropologia do esporte, afirma que a escolha de jogadoras de rúgbi é significativa. Ela destaca que, embora o rúgbi tenha se originado na Inglaterra, ele não se disseminou globalmente como o futebol, permanecendo mais restrito a países europeus, como França, Inglaterra e Romênia.


O rúgbi foi, por muitos anos, praticado apenas por homens, sendo fortemente relacionado à construção da masculinidade, conta. Por um lado, há um acerto em mostrar que mulheres podem e jogam o esporte, assim como desmistificar que só existe um único biótipo feminino para campanhas de lingerie, explica. No entanto, para ela há falhas na execução da publicidade.

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"Mostrar mulheres atletas esportivas em lingerie é uma forma, sim, de reforçar alguns estereótipos de gênero. É quase como se a publicidade estivesse dizendo: tudo bem, vocês podem ser fortes e praticar esporte, mas devem continuar usando roupas sexys que agradem ao olhar masculino."


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Ao focar nessa estética, a campanha remete a práticas antigas de hiperssexualização de esportistas, como no Brasil em 1979, quando a imprensa focava em futebolistas brancas e atraentes.

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"Essa campanha retoma esse tipo de abordagem, que não favorece nenhuma mudança em relação a padrões estéticos ou na visão do que é uma mulher no esporte", afirma a antropóloga.


Rial ressalta que uma campanha com tal objetivo seria mais bem-sucedida se "mostrasse os corpos atléticos das mulheres, mas em seus uniformes de jogos", abordagem também citada por Rafaela Zanellato, jogadora de rúgbi brasileira.

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Para Zanellato, a princípio a ideia geral da publicidade foi boa, visando valorizar um corpo atlético, musculoso. "Mas a forma como foi feita, talvez não tenha sido a melhor, já que não abrange todo mundo."


Ela acredita que a campanha exclui muitas pessoas, pois a maioria dos clubes de rúgbi no Brasil e no mundo não segue esse padrão. Suas amigas de outros times também não se sentiram representadas pela campanha.

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"Não é só sobre mostrar o corpo: empoderamento vem também por meio de uma fala, pode vir de muitas outras formas."


A atleta diz que conversou com colegas de outros times na Austrália e na França e que elas também tiveram esse incômodo, de que há uma falta de representação do que é o esporte na campanha, além da sexualização. Por fim, acredita que a campanha teria um resultado positivo se tivesse respeitado o rúgbi, com peças com uma estética mais esportiva, que realmente valorizasse a beleza dos corpos atléticos.

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Amanda Souza, consultora de imagem, palestrante e ativista pela liberdade corporal, conta que cresceu com o estigma de perder sua "identidade feminina" por ter praticado ginástica olímpica na infância.


"Não fui aceita por causa do meu peso e sempre quis ser ginasta, mas falaram que eu perderia minha feminilidade com a mudança do corpo", lembra.


"No entanto, não vemos mulheres gordas, mães, com flacidez ou atletas fortes em campanhas de lingeries. Esses corpos definidos sempre foram considerados não femininos. Vejo a importância destas atletas de lingerie; achei o ensaio belíssimo, mas entendo as implicações, dado o contexto", afirma Souza.


Pensando nessa abordagem, que acaba sendo excludente com outros corpos, ela vê esse tipo de publicidade como uma forma de usar a "diversidade para apagar incêndio publicitário".
As mulheres entrevistadas concordam que a tentativa da Bluebella em celebrar a força e a beleza das atletas femininas é louvável, mas a execução acabou reforçando estereótipos que os movimentos feministas vão contra.


Para Rial, uma forma de identificar se uma publicidade reforça estereótipos de gênero é colocando o homem na situação contrária, segundo tese do antropólogo norte-americano Irving Goffman. "Se aquilo lhe chocar, você está diante de um estereótipo".


Nas redes sociais, a marca afirmou que quer "celebrar e normalizar a beleza de corpos femininos fortes e poderosos". "Nós temos feito essa campanha por nove anos e estamos honrados de contar com inúmeros atletas de nível mundial."


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