Televisão

Julgar transtorno alimentar pela TV é precipitado, dizem especialistas

03 fev 2022 às 18:00


Os comportamentos alimentares de dois participantes do BBB 22 geraram críticas e dúvidas nas redes sociais


Um dos temas mais comentados nas redes sociais nesta semana foi o transtorno alimentar. Telespectadores do BBB (Big Brother Brasil), da TV Globo, demonstraram preocupação com o comportamento alimentar de alguns participantes dessa edição do programa: Bárbara Heck, que estaria em uma dieta muito restritiva, e Arthur Aguiar, que estaria comendo compulsivamente.



O transtorno alimentar é quando a alimentação se torna um sofrimento e foco central de uma preocupação exacerbada, ocasionando um déficit nutricional e, como consequência, prejuízos à saúde física e mental da pessoa. Fora o excessivo ganho ou perda de peso, alguns dos sintomas mais comuns em transtornos são a baixa autoestima, depressão, irritabilidade, sentimento de culpa e dismorfia corporal.


“Alimentação é algo natural, é o nosso combustível e precisamos comer para sobreviver. Agora, quando vemos alguém pensando muito na alimentação ou em exercícios físicos para compensar aquilo que ingeriu, temos que acender um alerta e buscar um atendimento psicológico e até psiquiátrico em alguns casos”, explicou Andrea Valente, psicóloga e coordenadora do Seap (Serviço de Apoio Psicopedagógico) da PUCPR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná).


De acordo com Valente, há um “culto ao corpo perfeito” de mulheres magras e homens com músculos bem definidos não só no BBB, mas na televisão em geral. Para diagnosticar um transtorno alimentar, entretanto, a psicóloga defendeu a necessidade de uma avaliação mais rigorosa e alertou que julgamentos precipitados pela tela do computador ou da TV podem ser arriscados.


Em nota, a assessoria de Bárbara informou que a modelo teve acompanhamento médico antes de entrar no reality show e está com boa saúde. Já no caso de Arthur, a esposa do ator, Maíra Cardi, disse em um vídeo no Instagram que ele estava comendo compulsivamente no programa como resposta para "preencher um vazio e um não pertencimento" na casa.


Veja os posts:



Maíra Cardi também fez um vídeo sobre a Bárbara após falar sobre seu marido. Assista:



Para Carla Jadão, nutricionista e professora da Unopar (Universidade do Norte do Paraná), os casos do BBB são muito superficiais para serem diagnosticados como transtornos e é necessário conversar com a pessoa para fazer uma avaliação psicológica e da dieta.


“Primeiro vamos fazer uma análise das atitudes daquela pessoa, quantos alimentos ela está consumindo, fazer um recordatório dos dias anteriores para ver se ela está tendo alguma restrição ou se está pulando refeições”, afirmou. “E é um trabalho feito em conjunto a um psicólogo, que é quem vai trabalhar com a cabeça do paciente para entender o que está acontecendo. Somente após isso teremos condições de ter um diagnóstico e enfim fazer um plano alimentar. É fundamental que haja uma equipe multidisciplinar”, acrescentou.


Na maioria dos casos, o transtorno alimentar tem cura e quanto mais cedo for diagnosticado, mais fácil e rápido é o tratamento, que pode envolver profissionais de diversas áreas como: nutricionistas, psicólogos, psiquiatras e terapeutas. Para Valente, a repercussão dos casos suspeitos do BBB serve, pelo menos, como um alerta. “É um problema sério e muito comum na atualidade. Quando se fala desses transtornos, falamos de adolescentes e jovens em geral, mas é algo que já está afetando crianças mais novas, de 10 e 11 anos, e que estão com preocupações exacerbadas quanto ao peso e o próprio corpo”, ressaltou a psicóloga.

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