Um homem pobre, ao sair em busca de um padrinho para seu recém nascido, encontra na Madrinha Morte proteção para seu filho. Quando ele se torna um jovem recebe da madrinha o dom da cura e se torna um médico famoso no vilarejo, mas, ao trair a confiança de sua madrinha, é confrontado perante um dilema ético que pode pôr fim aos seus planos de ascensão social.
A Madrinha é uma adaptação do conto “A Madrinha Morte”, dos Irmãos Grimm, Jacob (1785-1858) e Wilhelm (1786-1859), acadêmicos, poetas e escritores alemães e marca o início do “Projeto SERÁ?”, idealizado pelos atores Paulo Barcellos e Marcos Martins que estreia dia 26 de novembro, online com temporada de nove apresentações gratuitas nos dias 27, 28 de novembro, 3, 4, 5, 10, 11 e 12 de dezembro, de sextas, sábados e domingos, sempre às 11 horas da manhã.
O espetáculo “A Madrinha” será transmitido com os atores atuando ao vivo pelo canal do YouTube da Palipalan Arte e Cultura (https://bityli.com/sucAPV). A montagem tem o patrocínio do Promic (Programa Municipal de Incentivo à Cultura) e apoio da Secretaria de Educação de Londrina.
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“A Madrinha” é a primeira de uma série de adaptações para o teatro de contos da literatura universal para a infância e que trazem reflexões a respeito de temas considerados ‘difíceis’ para crianças, como a morte, o erro, a sexualidade, o preconceito entre outros.
A ideia surgiu impulsionada pela pandemia e as consequências disso no imaginário do público alvo do espetáculo, as crianças de 05 a 10 anos de idade, confinadas em casa e tendo que lidar com conceitos que nem sempre fizeram parte do universo infantil.
“A finitude da matéria é um assunto delicado para se tratar com as crianças. Ao torná-lo explícito, temos a possibilidade de enfrentá-lo de modo mais orgânico e cuidadoso. Em alguma medida a criança já elabora suas perdas e ‘lutos’ em brincadeiras, jogos e construção de ficção, mas geralmente não encontra espaço para compartilhar essas questões com o outro e elaborar os conteúdos que estão trazendo prejuízo à sua vida pessoal e social”, afirma Paulo Barcellos.
É aí que entra a brincadeira na encenação fictícia como expressão das próprias dúvidas, anseios e medos em relação ao ciclo natural de todos os seres vivos.
Os ensaios começaram em maio de 2021, a partir da estrutura original do conto. Conforme o conhecimento sobre o texto evoluía, surgia a possibilidade de explorar a narrativa com outros elementos, fazendo usos outros recursos para que tudo virasse uma grande brincadeira de gente grande para gente pequena. Vídeos, máscaras, figurinos, adereços, efeitos de luz e sons foram colocados à disposição da narrativa, como um metateatro.
“A estrutura épica do conto nos permitiu interromper a cena, ralentar o tempo, acelerar o fluxo, retornar ao acontecido e comentar o fato. Conseguimos criar um segundo discurso sobreposto à literatura, com a linguagem que reconstrói a cena e estabelece desejos, ideias, sonhos e necessidades. Como uma criança que toma para si uma história já conhecida e que aprende a se divertir livremente na relação com o outro”, conta Barcellos.
A montagem ainda traz outros aspectos importantes para serem pensados em sala de aula ou em casa e de grande importância para a convivência em sociedade: a consciência social e o cuidado com o outro.
“Nosso personagem tenta enganar a Madrinha Morte seduzido pela sua possibilidade de ascensão social e riqueza, mas é surpreendido e punido por sua ação desleal e egoísta. Aqui, o conceito de consciência social é sugerido dentro de um panorama amplo - ecológico, inclusive, em que todos somos interdependentes e a responsabilidade de bom convívio deve ser de todos, em casa, na escola, na cidade e no planeta”, explica Marcos Martins.
Em cena, o uso criativo objetos cotidianos, como esponjas, caixas de fósforo, panelas, tampinhas, cabides entre outros para instigar no público as possibilidades de inventividade e de criação de ficção própria por meio da reelaboração de sentidos desses objetos que todo mundo tem em casa, ao alcance das mãos.
A transposição e a ‘desmontagem’ de um conto publicado em 1812 para o evento cênico em 2021 não deixa de ser provocativa. A dramaturgia original se utiliza de artifícios épicos e dramáticos e a montagem idealizada pela dupla desafia o seu teor histórico, sua forma literária e também dialoga com outros discursos contemporâneos.
“Acreditamos que o jogo, a brincadeira coletiva e o contar histórias são inatos ao ser humano, no entanto, estamos perdendo essa capacidade já que ficamos tanto tempo na frente dos aparelhos eletrônicos e consumindo ficcionalidade - por vezes de qualidade duvidosa - de terceiros”, diz Barcellos.
Ao final de cada apresentação online, acontece um bate-papo entre o público e os atores, uma ocasião para a reflexão coletiva sobre o espetáculo e de como ele pode ressoar em cada espectador ao tocar temas como a finitude da matéria, o medo, a afetividade, a consciência social e o cuidado com o outro.
“Um exercício de pensar os direitos e deveres na convivência entre seres vivos, a valorização de bens materiais em detrimento a valores mais humanistas e o enaltecimento dos jogos e brincadeiras presenciais como exercício lúdico e social”, completa Martins.
Na opinião dos idealizadores do Projeto SERÁ?, o conto clássico dos Irmãos Grimm, no contexto atual, permite diversas releituras. “Com a pandemia, o conto se faz ainda mais atual, ao resgatar o que há de mais precioso no insubstituível contato humano: a valorização da vida”.
Por conta da pandemia, Paulo Barcellos e Marcos Martins decidiram voltar para Londrina depois de algumas décadas longe. O processo de pesquisa, montagem e adaptação do conto “A Madrinha Morte” coincidiu com a vontade de trabalharem juntos depois de 25 anos em outras experiências artísticas, grupos e cidades diferentes.
Ambos fizeram parte da formação da Armazém Cia. de Teatro, hoje com sede na Fundição Progresso, no Rio de Janeiro. Antes de voltar para Londrina, em maio de 2020, Barcellos trabalhou em São Paulo entre 1997 e 2020 com teatro, educação, dança e performance. Martins fez parte da Armazém Cia. de Teatro, como ator e cenotécnico, desde Londrina e no Rio de Janeiro entre 1998 e 2021.
Teatro e literatura em workshop para professores - O projeto aprovado pelo Promic (Programa Municipal de Incentivo à Cultura) ainda prevê a realização de um workshop conduzido por Paulo Barcellos, com assistência de Marcos Martins, sobre a transposição de obras literárias para o teatro que acontecerá em janeiro de 2022.
O objetivo é desenvolver, a partir de um conto da literatura brasileira, uma série de exercícios coletivos de interpretação de texto, de reconhecimento dos acontecimentos da narrativa e ações das personagens numa aproximação intuitiva da obra e suas possibilidades formais de encenação, isso de forma prática e teórica para a montagem de uma obra teatral.
O workshop “A Transposição da Literatura para a Cena”, com carga horária de seis horas, deve acontecer presencialmente – assim que for possível por conta dos decretos municipais vigentes, em dois finais de semana a serem definidos juntamente com a Secretaria Municipal de Educação.
A partir de uma obra literária, o workshop tem como essência a apropriação da linguagem teatral. “Acredito que a literatura, principalmente o conto literário, mais conciso em sua forma, possibilite iniciar o trabalho a partir de um contexto sociopolítico em que esse determinado autor está inserido”, explica Barcellos.
“Com uma organização de pensamento crítico e poético em forma literária a partir do desejo de transpor essa obra em forma dramática existe a possibilidade de inserir os pontos de vista dos participantes na dramaturgia da obra”, completa.
Os exercícios propostos tem sempre um enunciado capaz de focar cada passo no desenvolvimento e na apropriação gradativa e acumulativa dos elementos da cena como o enredo, argumento, acontecimentos, contextos, relações e personagens pelos participantes.
Esse desenvolvimento passo a passo permite amenizar as ansiedades dos intérpretes e focar na relação e contribuição de cada indivíduo na construção coletiva de uma obra”, explica Barcellos. O workshop é para professores da Rede Pública e todos os interessados na linguagem teatral e literatura com idade a partir de 18 anos.
Serviço: Projeto SERÁ? – “A Madrinha”
Estreia 26 de novembro no canal da Palipalan Arte e Cultura do YouTube (https://bityli.com/sucAPV)
Temporada Online: 27, 28 de novembro, dias 3, 4, 5, 10, 11 e 12 de dezembro
Sextas, sábados e domingos, sempre às 11 horas
Apresentação com tradução em Libras no dia 5 de dezembro
Gratuito
Ficha Técnica
Dramaturgia e direção - Marcos Martins e Paulo Barcellos
Atuação - Marcos Martins e Paulo Barcellos
Supervisão Geral - Paulo Barcellos
Coordenação Técnica - Marcos Martins
Produção Executiva - João Ribeiro
Assessoria de Imprensa - Janaína Ávila /Página 43
Operador de Transmissão - Alexandre Simão
Intérprete de Libras - Lucas Negri
Composição gráfica - Daniele Stegmann
Patrocínio de Promic - Programa Municipal de Incentivo à Cultura
Apoio Cultural da Secretaria de Educação de Londrina e parceria da Loja Ciranda e Palipalan Arte e Cultura
Mini Biografias
Marcos Martins é ator, professor, diretor, cenotécnico e produtor teatral. Começou sua formação de ator com a Armazém Companhia de Teatro em Londrina, em 1989, com a qual também desenvolveu as habilidades de cenotécnico, produtor teatral e de professor, ao longo dos anos de carreira. Foi professor na Funcart – Escola Municipal de Teatro Londrina, em 1997 e 1998. Teve atuação em Londrina, Rio de Janeiro e Rio Grande do Norte. Atualmente mora em Londrina.
Paulo Barcellos é ator, diretor, professor, iluminador e produtor teatral. Tem transitado desde 2007 na áreas de dança, performance e artes visuais. Constitui em 1996 o Armazém Cia. De Teatro com quem trabalhou durante dez anos. Em São Paulo desde 1998, além de constituir o Coletivo Bruto em 2007, trabalhou com vários grupos, diretores e elencos até 2020 quando retornou sua residência para Londrina.