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Ritmo de aventura

Rodrigo Juste Duarte
31 jan 2002 às 17:25

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Vista do alto do Pico Paraná, ponto culminante do Sul do Brasil - Giordano Poletto
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Quando se fala em montanhismo, logo vêm à cabeça a imagem de alpinistas passando por maus bocados, escalando paredes de rochas íngremes, e equipados com toda sorte de instrumentos e cordas. Essa, na verdade, vem a ser a modalidade de escalada técnica, destinada a atletas preparados. Hoje em dia, o montanhismo tornou-se acessível aos leigos, sendo praticado através de trilhas previamente construídas nas montanhas. Basta seguí-las caminhando. Por esta razão, a categoria costuma ser chamada de caminhada ou treking. Para quem vê de longe, pode soar estranho enquadrá-lo como esporte radical, mas quem o pratica sente na pele a adrenalina, principalmente devido aos imprevistos que a mãe-natureza pode trazer no meio de um trajeto, tais como tempestades, animais perigosos e obstáculos de todo tipo.
O Paraná apresenta um relevo privilegiado para os adeptos do trekking, contando com diversos picos e morros já com trilhas construídas para caminhadas. Algumas são de terra batida, enquanto outras possuem caminho de pedras. Entre os picos mais requisitados, estão os localizados na região da Mata Atlântica, como o Pico Paraná e o Marumbi.
Escaladas calmas
Para os marinheiros de primeira viagem e sem muito condicionamento físico, é recomendável começar devagar, em um morro pequeno e de fácil exploração. Uma boa pedida é o Morro do Canal, no município de Piraquara, há poucos minutos de Curitiba. Para quem sai de Curitiba de carro, basta seguir pela Av. Vitor Ferreira do Amaral no sentido dos municípios de Pinhais e Piraquara. Chegando em Piraquara, há uma estrada que leva ao morro. Próximo a ele há uma fazenda onde dá para deixar o carro (a taxa é de R$ 2). A escalada é bastante tranqüila, durando cerca de uma hora e dez minutos para subir. A vista é compensadora. A 3km do morro, há uma represa em que se pode tomar banho, fechando com chave de ouro o passeio que pode muito bem ser feito em um dia.
Caminhadas aos Picos Paraná e Marumbi dispensam mais tempo e preparo físico. É possível ir de trem até o Marumbi, pela linha turística que sai da Rodoferroviária de Curitiba em direção a Paranaguá. Ou então pegar um ônibus até a cidade de Antonina e de lá fazer o Caminho de Itupava, que dura cinco horas. Esta segunda opção é recomendada para quem gosta de caminhar e ter um contato direto com a natureza. Construído entre 1625 e 1654, o Caminho do Itupava foi uma das mais importantes estradas do Paraná no período colonial. Por ela subiu o progresso do litoral, através dos escravos que por ali transitavam carregando árvores de Araucária para a construção de casas e navios.
Após muita subida, chega-se ao Parque estadual Pico do Marumbi, que possui um complexo de oito picos principais, sendo o Marumbi (ou Olimpo) o maior deles, com 1547m de altitude. A estrutura do parque possui alojamentos, camping e bombeiros, com controle de segurança para quem vai fazer a escalada. Os oito picos são escaláveis e sinalizados com fitas plásticas de cores diferentes e setas diretivas nas bifurcações. O morro Abrolhos é marcado com fita vermelha por ser o mais difícil de escalar. Não é tão alto mas é bastante íngreme. O tempo de escalada ao Marunbi leva de três a quatro horas. Todos devem se cadastrar na estação antes de começar a subida. O horário máximo para inciar a descida é até às 15h, para evitar caminhar ao anoitecer e perder o trem de volta.
Emoções fortes
Com 1877m de altura, o Pico Paraná é o ponto culminante do Sul do Brasil. Para chegar a ele é ideal destinar três dias para a aventura, segundo recomendações do montanhista Giordano Poletto. "É bom reservar o primeiro dia para chegar ao acampamento e montar a barraca por lá. No segundo dia é legal escalar o pico e conhecer a paisagem do local. Dá até para fazer rapel em algumas pedras. A volta para casa acontece no terceiro dia. O trajeto é cansativo, mas vale a pena", aconselha Poletto.
Para chegar, o caminho é pela BR-116, de carro. Há uma estrada que leva a uma fazenda no caminho do pico. Não há como prosseguir com o veículo, sendo necessário deixá-lo na fazenda mediante uma taxa. No caminho até o pico existem dois abrigos para acampamento. Leva-se quatro horas para chegar ao primeiro e cerca de seis ao segundo (que fica ao lado do Pico). Os primeiros 40 minutos pela trilha são de pura subida, que conduzem a uma rocha conhecida como pedra do descanso, onde o motanhista toma fôlego para continuar.
Segue-se um planalto cheio de altos e baixos até chegar na Floresta Encantada, uma mata muito bonita na qual a trilha fica encoberta por raízes de árvores. "Esta mata é bastante fechada e um pouco escura, mas incrivelmente bonita. Quando ela termina, avista-se o Pico Paraná de longe, com um grande abismo a seu lado", comenta Poletto com entusiasmo. Chegando ao abrigo, monta-se a barraca de campping para fazer a escalada no dia seguinte. Cerca de 40 ou 50 minutos são suficientes para subir ao cume, de onde se tem uma formidável vista, digna de fotografias inesquecíveis.
"Durante a subida, o que achei melhor foi passar por dentro das nuvens e depois vê-las do alto", entusiasma-se Poletto. O topo tem uma área de cerca de cinco metros quadrados, mas não se deve acampar por lá. Poletto, que já passou por maus bocados no cume do Pico Paraná, alega ser muito perigoso. "Acampei uma vez por lá com dois amigos. O vento soprava forte no fim do dia. Tanto que não era possível esquentar comida com o fogareiro. Às vezes parecia que a barraca iria ser levada. Mas o pior foram as tempestades magnéticas. Os raios passavam do nosso lado. Os clarões eram tão fortes que se podia enxergar através da lona da barraca". O recado está dado. Acampamento somente nos abrigos apropriados.
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