A Mostra Nacional de Artes Cênicas – FILO 50+1 será aberta nesta quinta-feira (24), às 20 horas, no Teatro Mãe de Deus, com o espetáculo "Refúgio”, escrito e dirigido por Alexandre Dal Farra, de São Paulo. Em cena, cinco atores num ambiente aparentemente cotidiano, mas que se torna cada vez mais estranho e absurdo com o desaparecimento sem explicação de algumas pessoas. "Refúgio”, que foi indicada ao Prêmio Shell de Teatro de Melhor Dramaturgia, discute a desestruturação simbólica desse cotidiano.
Ingressos a R$ 20,00 (inteira) e R$ 10,00 (meia-entrada), à venda na loja Ciranda (Rua Prefeito Hugo Cabral, 656). Os ingressos também podem ser adquiridos pela internet, no site Sympla, e no próprio teatro, meia hora antes do início da apresentação. Informações sobre toda a programação no site do FILO.
Um casal, interpetado por Fabiana Gugli e Marat Descartes, vê o mundo ao seu redor desmoronar . A mulher procura entender o que está acontecendo, o marido a acompanha. Ela mergulha cada vez mais em uma angústia sem solução, até que tudo se transforma em algo completamente novo e estranho. No elenco também estão os atores André Capuano, Carla Zanini e Clayton Mariano. Na trama de "Refúgio”, nada se explica completamente.
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Dal Farra lembra que a montagem estreou em 2018, e que na época ele se preocupava com a dificuldade que as pessoas têm de dialogar, tratar de assuntos sérios sem que se transforme numa tendência maniqueísta. "Há uma sensação de uma espécie de captura e ser levado a um lugar de extremos, ambíguo”, comenta. O dramaturgo diz que não fica claro se os personagens são levados ou fogem para esse lugar proposto pela peça. "Pode ser uma fuga desse mundo onde o debate ficou impossível, em que apenas falar com quem concorda com você”, afirma.
A peça dialoga com o cinema noir, o teatro do absurdo de Samuel Beckett e os filmes de suspense de Alfred Hitchcock. Para Dal Farra, se existiu um teatro do pós-guerra, que tentava dar conta da experiência catastrófica da guerra, em "Refúgio” é como se estivéssemos olhando para a possibilidade de um conflito iminente, uma espécie de "teatro pré-guerra”. "O texto fala de um mundo que se acabou, de um momento histórico em que a esperança de um capitalismo com face humana caiu por terra”, comenta.
Dal Farra afirma que esse conceito de "teatro pré-guerra” sobre a peça surgiu a partir de uma observação feita por um amigo dele que vive no exterior que leu o texto e fez uma comparação com os textos do pós-guerra, comuns no teatro de absurdo. "Existe na peça um sentimento de prenúncio, com se tivesse algo muito ruim prestes a acontecer. Esse sentimento já vinha sendo percebido por mim há muito tempo, de que algo possa estourar a qualquer momento, ou, que não estoure, o que pode ser muito ruim também. Como se a sociedade estivesse para acabar. É quase como se houvesse uma esperança de que algo aconteça, mas a peça não deixa claro o que venha a ser. Estamos num lugar meio abstrato, onde sabemos que é ruim, mas não conseguimos agir”, diz.
Para criar esse ambiente, a iluminação e a cenografia transmitem ao espectador uma sensação de espera em um lugar entre dois mundos. "Essa casa vai diminuindo até chegar a prensar as personagens, até que eles quase não caibam ali. A música também ajuda a reproduzir essa sensação de crescente claustrofobia. O figurino traz peças de roupas reais, mas fora de contexto, como se elas não fossem usadas em um conjunto comum e natural”, acrescenta.
Dal Farra observa que os vários episódios de crise que estão pipocando pela América Latina talvez sejam uma válvula de escape para os sentimentos abordados na peça. "Esse movimento pode acabar acontecendo no Brasil. Ou não. E, caso aconteça, não sabemos como será por aqui. Mas é esse sentimento de como se estivéssemos represados que aparece na peça, e não sabemos o que irá acontecer”, diz.
O autor explica que o espetáculo tenta colocar o público num lugar de deslocamento. "A peça tem um final aberto, não é uma metáfora de algo específico. Não fica claro se os personagens conseguiram atingir seus objetivos. O público vai ter que pensar por conta própria, criando hipóteses com o que aconteceu com os personagens”, avisa.
"Refúgio” estreou em junho de 2018 no Sesc Bom Retiro, em São Paulo, e foi indicada ao Prêmio Shell de Teatro nas categorias Melhor Dramaturgia e Melhor Atriz para Fabiana Gugli. Alexandre Dal Farra foi vencedor do prêmio em 2012 com o Melhor Texto pela peça "Mateus, 10”. No início deste mês, "Refúgio” esteve em cartaz no Itaú Cultural, em São Paulo.
A Mostra Nacional de Artes Cênicas – FILO 50 +1 é realizada pela Atrito Arte Artistas e Produtores Associados, com patrocínio da Prefeitura de Londrina, por meio do PROMIC (Programa Municipal de Incentivo à Cultura), e em parceria com a Palipalan Arte e Cultura e Universidade Estadual de Londrina.
Ficha Técnica:
Texto e direção: Alexandre Dal Farra. Elenco: Fabiana Gugli, Marat Descartes, André Capuano, Carla Zanini e Clayton Mariano.
Cenário e desenho de luz: Marisa Bentivegna.
Operação de luz e coordenação técnica: Raquel Balekian.
Música e desenho de som: Miguel Caldas.
Operação de som: Tomé de Souza.
Cenotécnica: Rogério Santos.
Figurino: Eduardo Climachauska.
Assessoria de imprensa: Adriana Balsanelli.
Direção de produção: Palipalan
Arte e Cultura.
Fotos: Otávio Dantas.
Espetáculo: REFÚGIO
Alexandre Dal Farra (São Paulo – SP)
Dia 24 de outubro
Horário: 20h
Local: Teatro Mãe de Deus (Av. Rio de Janeiro, 670)
Classificação indicativa: 14 anos
Duração: 80 min
Serviço:
MOSTRA NACIONAL DE ARTES CÊNICAS – FILO 50 + 1
De 24 de outubro a 5 de novembro
Ingressos/espetáculos: R$ 20,00 (inteira) e R$ 10,00 (meia-entrada)
Pela internet: https://www.sympla.com.br/FiloMostraNacionalDeArtesCenicas.
Ponto de vendas: Loja Ciranda (Rua Prefeito Hugo Cabral, 656) – Horário de funcionamento: segunda a sexta, das 9 às 18 horas, e sábados, das 9 às 13 horas.
Patrocínio: Prefeitura Municipal de Londrina – Secretaria Municipal de Cultura – Programa Municipal de Incentivo à Cultura (PROMIC)
Apoio: Ciranda, Crillon Palace Hotel, Midiograf , Rádio UEL FM, Sanepar, SESI Cultura, Teatro Mãe de Deus e Vila Cultural Cemitério de Automóveis
Realização: Atrito Arte Artistas e Produtores Associados, Palipalan Arte e Cultura e Universidade Estadual de Londrina (UEL).