Perversão, cultura pop e humor. Essa é a fórmula da peça 'Morgue Story - Sangue, baiacu e quadrinhos' do diretor Paulo Biscaia Filho, que depois de uma temporada de sucesso no primeiro semestre, volta a cartaz a partir de 11 de novembro, quinta-feira, no Teatro José Maria Santos.
Em cena, o teatro tradicional incorpora elementos modernos com vídeo, música e uma sonoplastia alucinante, num texto que faz referências explícitas ao ritmo da linguagem das histórias em quadrinhos, a estética dos filmes de Quentin Tarantino e as produções do cinema de suspense trash das décadas de 70 e 80.
Nesta segunda temporada, o espetáculo é realizado até o dia 12 de dezembro, com sessões de quinta a sábado às 21 horas; e domingos às 19 horas.
A trama, que se passa num necrotério, envolve três personagens: Ana Argento, uma bem sucedida roteirista de história em quadrinhos – papel dividido pelas atrizes Mariana Zanette e Rafaela Marques; Tom, um vendedor de seguros cataléptico - com interpretação de Anderson Faganello; e Doutor Daniel Torres, um médico legista – incorporado pelo ator Leandro Daniel.
Em Morgue Story as histórias dos personagens se cruzam de maneira insólita. O Doutor Torres é um maníaco sexual, que tem como perversão envenenar mulheres atraentes com uma poção secreta, baseada numa mistura de narcóticos com toxina do peixe baiacu, desenvolvida por sacerdotes vodus haitianos.
O veneno induz as vítimas a um estado de catalepsia (que simula a morte) e, depois que elas vão para o necrotério, o médico legista aproveita para violentar e matar cada uma delas - fugindo de qualquer suspeita porque, teoricamente, as mulheres já estavam mortas.
Os planos do psicopata começam a dar errado quando numa de suas incursões ele se depara com o um cataléptico profissional, Tom, que está no gavetão da morgue acordando da morte pela oitava vez. Ironicamente, o personagem é um vendedor de seguros de vida.
A peça é toda narrada pela nova vítima, Ana Argento, uma desenhista de quadrinhos – criadora de um personagem de muito sucesso que é o Oswald, o morto-vivo. Ana, que é extremamente pretensiosa socialmente, não consegue se relacionar com ninguém porque se julga superior a todos que estão na sua volta.
Linguagem
Paulo Biscaia Filho que, além de responsável pelo texto e direção, também assina a sonoplastia e o vídeo do espetáculo, confessa que está a frente de uma história que gostaria muito de assistir. "Morgue Story é voltada para um público que deseja ver um espetáculo bacana, moderno, construído com muita precisão", define.
Bem humorado, o diretor comenta ainda que essa é uma peça para quem não gosta de teatro. "Eu me esforcei ao máximo para tentar eliminar várias referências do que se vê no teatro hoje em dia. É fazer no palco algo próximo a uma linguagem de quadrinhos, de cinema, para que a pessoa veja esse espetáculo e tenha uma percepção diferente. Quero muito que a platéia olhe a peça como um jogo de vôlei, onde a bola vai para vários lugares de forma muito rápida", compara.
De fato, a sonoplastia e o vídeo dialogam diretamente com a cena. Os atores contracenam com personagens que aparecem na projeção ou apenas na sonoplastia criando um visual, uma dinâmica, diferente de se olhar o espetáculo de teatro.
"Uma coisa que procurei bastante é integrar de forma indissolúvel o vídeo em Morgue Story. Mas isso não é uma coisa para se refletir, é para se curtir. conta Biscaia que alerta: "a peça não tem nenhum objetivo acadêmico, nenhuma grande discussão estética ou qualquer pretensão teatral. A única pretensão é ser extremamente divertida como um bom filme de terror."
O diretor confessa com uma sinceridade desconcertante que o preciosismo científico é sacrificado em prol de uma narrativa empolgante. "Mas é fato que existe uma poção desenvolvida por sacerdotes vodus haitianos que induz catalepsia nas pessoas", diz Biscaia – um aficcionado pelos contos do escritor norte-americano Edgar Allan Poe, em especial "O Enterro Prematuro" que narra como é ser enterrado vivo e acordar dentro do caixão. "Desta vez, me preocupei mais com a narrativa. O resto vem apenas como referência para fazer uma ficção científica", contou.
A linguagem de quadrinhos pode ser percebida em todos os elementos estéticos de Morgue Story. Na iluminação (de Nadja Naira), com recortes como se os personagens estivessem enquadrados nos quadrinhos; ou no próprio cenário do necrotério (criado por Andressa Ferrari), que é todo feito de quadrados - nas gavetas da morgue, nos azulejos e na tela de projeção. Biscaia adianta que as projeções são feitas dentro de quadrinhos como uma revista. "Isso estabelece uma ligação com, a narradora da peça que é uma desenhista de HQs. É como ela pensa e vê o mundo".
Esse é o décimo texto de Paulo Biscaia Filho. O diretor lembra que a peça, escrita originalmente em 1998, evoluiu para a cultura de cinema trash, principalmente nas produções cinematográficas de George Romero (Noite dos Mortos Vivos), Peter Jackson (Fome Animal e Náusea Total), Sam Raimi (Uma Noite Alucinante) e, também, da estrutura de diálogos dos filmes de Quentin Tarantino. "Eu busquei esse ritmo na dramaturgia", esclarece.
Como referência direta a estas influências, no começo da peça o personagem Tom diz que deixou o videocassete gravando Uma Noite Alucinante 3. Ana Argento aproveita a deixa e dispara que o Bruce Campbell (personagem do filme) com a serra elétrica na mão é tudo que um homem deveria ser: "bacana, engraçado, violento e um pouco idiota."
Morgue Story ainda traz as participações especiais em vídeo de Danilo Corrêa (como barman) e Edson Bueno (como o psicanalista Dr. Samuel). Biscaia diz que este último papel foi uma homenagem ao amigo que dirigiu, em 1990, a peça New York por Will Eisner. "Um marco no teatro paranaense que agora, 14 anos depois, influenciou a minha peça", finaliza.
Serviço:
Morgue Story – Sangue, baiacu e quadrinhos
DAta: 11 de novembro a 12 dezembro, de quinta a domingo
Horários: de quinta a sábado, às 21 horas. Domingos, às 19 horas
Local: Teatro José Maria Santos
Endereço: R. Treze de Maio, 655
Telefone para informações: (41) 304-7954
Ingressos: R$10 e R$5 (estudantes, idosos e classe artística)