Um cenário composto por 300 crânios e muito arame farpado, um texto violento e uma platéia em estado de choque. Quem assistiu à montagem de "À Grega" numa das noites frias do inverno curitibano provavelmente não imaginou que aquele fosse ser considerado o Melhor Espetáculo do ano pelo tradicional Troféu Gralha Azul. Nem o próprio diretor, Marcelo Marchioro, esperava.
"Nunca, em nenhum momento pensei nisto", afirma. O que ele já sabia, entretanto, é que o espetáculo estava agradando e instigando ao público. A prova disto, toda a companhia (Usina das Artes) sentiu na pele. A cada dia, a pequena platéia do Teatro Espaço Dois (com apenas 32 lugares) ficava mais lotada. "Era o famoso boca a boca", justifica orgulhoso. Na última semana, o auditório chegou a comportar 45 pessoas de uma só vez, deixando parte do público para fora.
"Para estas pessoas que não conseguiram assistir, iremos fazer nova temporada de "À Grega" em 2001", promete Marchioro. Apesar de toda a agressão verbal retratada no palco, ele diz que o espetáculo não é violento gratuitamente. Marchioro afirma ainda que se sente muito feliz porque as pessoas entenderam e aceitaram sua proposta.
Nas palavras do próprio Marchioro, "À Grega" é "um grande poema contemporâneo sobre a violência e sobre a não-vida, sobre os desencontros e sobre a decadência das relações". O texto é do inglês Steven Berkoff. "Fazer esta peça foi um processo árduo e sofrido", conclui o diretor.