O que Curitiba terá para oferecer a Thomas Krens, o homem-forte da Fundação Guggenheim de Nova York, quando ele desembarcar, amanhã, junto com o arquiteto Frank O. Gehry na cidade? Ninguém sabe, ninguém fala.
No Brasil desde ontem para visitar cidades que poderão vir a sediar a primeira versão latina do famoso museu, Krens e sua comitiva de 13 pessoas estão acendendo os holofotes por onde passam. Apesar de estar quase certo que o Rio de Janeiro será o grande vencedor nesta disputa de titãs, as ofertas não páram de aparecer.
O prefeito eleito da capital fluminense, César Maia, já declarou que levantaria até US$ 100 milhões para garantir que o projeto desembarque na cidade. Em São Paulo, o banqueiro Edemar Cid Ferreira está suando a camisa para tentar levar o projeto para lá. Apesar de ser uma hipótese pouco provável, Cid Ferreira organizou um banquete no Museu Guggenheim de Nova Iork, com direito a levar os amigos com tudo pago.
O senador Roberto Freire já discursou animadamente no congresso sobre o assunto. Quer levar o Guggenheim para a sua Recife. Nas visitas que Krens vai fazer nessa segunda investida que dá no país (ele já esteve aqui em outubro), também está incluída a cidade de Salvador. Seu todo-poderoso, Antônio Carlos Magalhães, ainda não demonstrou interesse pelo assunto. Sabe-se que ao Nordeste caberia um projeto mais modesto do museu.
O contexto da visita a Curitiba não foi divulgado pela assessoria de imprensa do governador Jaime Lerner. A Folha tentou um contato, mas até o fechamento dessa edição não houve retorno.
Mesmo que não dê em nada, o que provavelmente irá acontecer, a visita de Thomas Krens e de Frank O. Ghery a cidade está envolvida num ar de mistério. O fato é que Curitiba tem feito pouco caso ao mundo das artes. Com poucos museus em funcionamento, a cidade agoniza em termos culturais. O atual prefeito Cássio Taniguchi já declarou que nos próximos quatro anos deverá investir em talentos locais.
Para Valdir Simões de Assis, um dos marchands mais respeitados da cidade, Curitiba não é bem representada quando se fala em Museus. "Os nossos museus são de uma grande pobreza. Falta estímulo às nossas artes. Seria muito bom um Guggenheim aqui."
Parece um contrasenso tentar trazer para cá um dos mais renomados museus do mundo quando os espaços dedicados aos nossos artistas estão abandonados. Existem alguns funcionando, como é o caso do Alfredo Andersen, Museu de Arte Contemporânea, Museu do Expedicionário e Museu de Arte do Paraná. Já o Museu Paranaense está em péssimas condições e o Guido Viaro, fechado para uma reforma há cinco anos, não reabriu. As obras do artista italiano que escolheu Curitiba para viver estavam abandonadas e seu filho e curador, Constantino Viaro, teve que levá-las para casa.
A Fundação Cultural de Curitiba, responsável pela administração do museu, não fala sobre o assunto e o prédio onde funcionava o museu, apesar de estar pronto, continua abandonado.
Outro acervo que sofre descaso da cidade é o do historiador David Carneiro. Embaladas em local não divulgado pela família, que teme assaltos, as 4 mil peças catalogadas por Carneiro estão longe dos olhos do povo curitibano. Além de peças, na grande maioria raríssimas, há também uma pinacoteca fantástica. Obras de Debret, De Bona e Victor Meirelles se deterioram esperando uma providência dos governos estadual e municipal.
História
A história do Guggenheim pelo mundo é recheada de charme e opulência. Sinônimo de modernidade, as histórias que precedem as construções desses símbolos de exaltação às artes mundiais são sempre cheias de inovações.
Com sedes em Veneza, Berlim, Nova Iorque e Bilbao, o Guggenheim se supera cada vez que inicia um novo projeto. O Museu de Bilbao, uma pacata cidade no país Basco, Espanha, é um marco na arquitetura mundial. Hoje, quem vai à Espanha tem que ter no roteiro uma passagem obrigatória por lá. Projetado por Frank O. Ghery, que está no Brasil acompanhando Thomas Krens, o prédio é todo construído em placas de titânio e representa apenas um dos muitos delírios do arquiteto. Ghery é o rei das formas distorcidas, é dele também o projeto do Museu Jimi Hendrix, em Seattle. Com a forma de uma guitarra distorcida, o museu é um verdadeiro templo ao guitarrista morto. Custou U$ 40 milhões.
Outro projeto polêmico do arquiteto canadense é o novo Guggenheim de Nova Iorque. Orçado em U$ 850 milhões, a obra já teve sua pedra fundamental lançada e será construído às margens do East River.
Mas as investidas da Fundação Guggenheim não ficam só por esses projetos de Brasil e Nova Iorque. Eles estão sempre inventando algo novo. Recentemente fundaram em Las Vegas a galeria Hermitage-Guggenheim Museum. Funcionando dentro do Venetian, um resort projetado por outro grande arquiteto, o holândes Rem Koolhas, a nova galeria expande o conceito de que Guggenheim é uma marca.
Se realmente for construído no Brasil o primeiro Guggenheim da América Latina, não importa onde quer que seja, quem ganhará serão os amantes das artes e da arquitetura. Eles não precisarão mais ficar acompanhando de longe os maravilhosos e surprendentes projetos que a equipe da Fundação Salomon R. Guggenheim apronta pelo mundo. Poderão ver de perto.