É a mais equilibrada mostra competitiva dos últimos cinco anos. O 58º Festival de Veneza termina neste sábado sem nenhum favorito destacado, sem aquele filme que faz a diferença e sai na frente com alguma folga em relação aos concorrentes. Trabalho redobrado para o júri presidido por Nani Moretti. Em jogo três Leões: de Ouro para o concurso considerado principal, ''Venezia 58''; ''Do Ano'' para a novidade desta edição, isto é, a outra mostra competitiva, ''Cinema del Presente'', e ''Do Futuro'', para o melhor filme de diretor estreante, em qualquer mostra ou seção paralela. Há ainda dois prêmios muito cobiçados, embora haja quem considere de consolação: o especial do júri, ou ''Gran Premio della Giuria'', e um prêmio especial à melhor direção. O presidente da Itália, Carlo Ciampi, já está em Veneza para a cerimônia de encerramento que começa às oito da noite no Palazzo del Festival, com transmissão ao vivo para toda a Europa.
O iraniano ''O Voto é Secreto'', de Babak Payami, o indiano ''Monsoon Wedding'', de Mira Nair, o mexicano ''Y Tu Mamá Tambien'', de Alfonso Cuarón, o austríaco ''Hundstage'', de Ulrich Seidl, o inglês ''The Navigators'', de Ken Loach e ''Abril Despedaçado'', de Walter Salles aparecem com chances muito próximas. Mas diante da linear diversidade tudo é possível. Entre os quatro últimos concorrentes exibidos ontem, a tragicomédia irlandêsa ''How Harry Became a Tree'', de Goran Pascaljevic (do ótimo ''Barril de Pólvora'', nas locadoras brasileiras) surgiu com possibilidades, embora tenha frustrado as derradeiras expectativas do filme-exceção. O segundo título italiano em concurso, o mafioso ''Luna Rossa'', deve ter somente pretensões modestas. O romeno ''L'Aprés-Midi d'Aun Tortionnaire'', de Lucian Pintilie, sobre as confidências de um torturador, embora interessante, não é aspirante a nada. O mesmo vale para o gelido, impessoal ''Sauvage Innocence'', um neo-nouvelle sem o charme das origens.
Hoje (07/09) os jornais italianos abriram espaço para falar de ''Abril Despedaçado'', o representante brasileiro na principal mostra competitiva. O diário local ''La Nuova Venezia'' faz restrições ao filme de Walter Salles. ''Exuberante, excessivo Salles'', é o título. ''É dificil reconhecer nesta visionária magnitude expressiva o autor de 'Central do Brasil. Falta aqui aquela melancólica magia, que resgata e compacta qualquer excesso'', conclui o texto. Sob o título ''Paixão de Amor e Sangue'', o La Stampa de Turim observa: ''O filme trágico, solene, realizado com luz natural, interpretado por atores e não-atores, parece um momento de transição, de pausa no trabalho do diretor, embora seja interessante e bem realizado''. Já o ''La Reppublica'' de Milão não poupa o trabalho de Salles a partir do título: ''A estética do pôr-do-sol em fogo não salva Abril Despedaçado''. E continua no texto: ''Provavelmente o multipremiado 'Central do Brasil'' foi supervalorizado. Lá, porém, as imagens tinham o gosto da autenticidade; aqui, ao contrário, parecem falsas''.
Leia mais na reportagem de Carlos Eduardo Lourenço Jorge na Folha de LOndrina/Folha do Paraná deste sábado