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Saldo do Festival de Cinema

16 mai 2002 às 17:28

Apesar de ainda ser um evento destinado a um público restrito, o 6º Festival de Cinema, Vídeo e DCine de Curitiba teve quase o dobro de público em relação a sua edição anterior. Foram 18 mil pessoas (contra as 10 mil do ano passado) que assistiram as sessões de curtas e longas-metragens exibidos entre os dias 09 e 14 de maio. De todas, as de longa-metragens foram visivelmente as mais concorridas. Filmes como "O Invasor", "Bellini e a Esfinge" e "Lavoura Arcaica" fizeram o Auditório principal do Canal da Música ficar super lotado, com público sentado nos corredores e até em pé nos fundos do teatro. Se o público do festival continuar crescendo, no ano que vem vai ser preciso fazer duas sessões de cada filme.

Houve até tumulto na fila para a sessão do belíssimo "Lavoura Arcaica", que estreou em São Paulo e Rio há seis meses, mas ainda não havia chegado nas salas de Curitiba. "Este é um filme de arte, feito sem a intenção de dar lucro e no entanto já foi assistido por mais de 200 mil pessoas no país", revelou o ator Leonardo Medeiros, que estava presente na ocasião, juntamente com Selton Mello, protagonista do filme. A julgar por tudo isto que foi escrito, o cinema nacional está cada vez sendo mais aceito pelos brasileiros.


A seleção de longas deste ano estava mais caprichada. Pena que o técnico de projeção escolhido não mostrou competência. Durante a sessão de "O Invasor", o som estava alto demais, estourando nos momentos em que entrava a trilha sonora. Já "Bellini e a Esfinge" foi exibido em sistema mono. O técnico só se tocou de ligar o modo stereo um pouco antes dos créditos. Por fim, as cenas finais de "Lavoura Arcaica" estavam foram de foco. Falha grave. Os atrasos nas exibições (de 30 minutos em média) continuaram acontecendo, assim como no ano passado. O irônico é que era logo um palhaço que estava na portaria informando as pessoas sobre os atrasos.


Novas investidas do festival, como o encontro de críticos de cinema e a exibições de clássicos de Glauber Rocha, Ruy Guerra e Nelson Pereira dos Santos foram produtivas. Os debates renderam discussões promovidas pela nata da crítica cinematográfica nacional, como Jean-Claude Bernardet, Ivana Bentes e Ismail Xavier. Um documento com as conclusões dos debates está sendo redigido. Durante o domingo do dia das mães, estava presente a mãe do diretor baiano Glauber Rocha, que recebeu uma homenagem e iniciou uma campanha para restaurar as cópias dos filmes do filho, que estão se deteriorando.


Quanto às sessões de curtas-metragens, as melhores foram com certeza as do Festival dos Festivais, em que só concorriam filmes já premiados em mostras anteriores (o que era uma garantia). Preciosidades como "Palíndromo", "O Cego Estrangeiro", "Baseado em Fatos Reais" e "Retrato Pintado" estavam presentes. Já as mostras competitivas, somente com filmes novos, eram uma incógnita. No entanto, trouxeram boas surpresas como a impagável animação "Onde Andará Petrúcio Felker" (um atentado contra os artistas-cabeça), "Como se morre no cinema" (um documentário ficcional estrelado pelo papagaio do filme "Vidas Secas") e o bonito "Do tempo em que eu comia pipoca".


Premiação
Na última noite do festival aconteceu a premiação que elegeu os melhores curtas. O público presente era formado basicamente por compeditores (acompanhados de suas torcidas), jornalistas, alunos e professores das oficinas que foram ver o curta "O Segundo Ato", produzido durante o evento. Foi também exibido "Clic!", um filme de animação feito por crianças de um colégio de Piraquara. A empolgação não era o forte da noite. Além disso, faltou um fundo musical para ser tocado enquanto os premiados se dirigiam ao palco para receber seus troféus. O silêncio era constrangedor.


Havia várias premiações além da oficial: Prêmio AVEC (que elegia o melhor filme e vídeo paranaense), Prêmio Aramis Millarch (votação da imprensa), Prêmio Ruy Guerra (votação de crítica). Ironicamente o prêmio da AVEC, Associação de Vídeo e Cinema do Paraná, foi dado ao diretor Ricardo Machado (de "Madame Olivia"), que tanto enfureceu os membros da associação durante os debates. "Não concordo que cinema e política devam caminhar sempre juntos no Brasil. Os diretores daqui são muito dependentes das Leis de Incentivo", defende Machado. "Ele está fora da realidade. Em todo o mundo o cinema caminha junto com política. Mesmo em Hollywood existem subsídios do governo para o cinema", alega Paulo Munhoz, da AVEC.


Na categoria vídeo, "Sonetos", de Carlos Rocha e Eduardo Baggio foi o melhor trabalho na opinião do júri e da imprensa. O filme paraense "O Encontro", de Marcos Jorge, foi o bicho papão da noite, abocanhando os troféus de melhor filme, montagem, ator, curta de ficção, além dos prêmios de melhor filme na opinião da imprensa e do público. "Eu tinha expectativa de que o público gostasse do filme, mas quanto ao júri, a dúvida era total, pois os jurados são imprevisíveis. Eles têm gostos muito diferentes e não dava pra criar expectativas quanto ao prêmio. Eu não esperava um sucesso tão amplo", confessa Marcos Jorge, que está com mais um curta e dois documentários sendo produzidos. "O Encontro" resume-se em um mini-musical que faz uma homenagem ao cinema, narrando de forma surreal o encontro entre um homem e uma mulher.


Vale lembrar que "O Encontro" foi o vencedor do Prêmio Estímulo Copel/Ney Braga, que premia roteiristas que recebem recursos para transformar seu texto em filme durante o prazo de um ano. Mas "O Encontro" recebeu o prêmio em 1997, devendo ter sido finalizado em 1998. O atraso foi resultado de uma ambição. "Minha idéia precisava de uma elaboração cinematográfica mais requintada. Os 15 mil reais que recebi eram pouco para realizá-lo. Além do dinheiro do prêmio, captei mais através da Lei Municipal de Incentivo à Cultura, que demorou um ano para julgar o projeto e mais um ano e meio para captar recursos. Em função da qualidade final do produto, a diretora do Festival achou que valeu a pena a demora. O orçamento final foi de 100 mil reais", declara Marcos Jorge. O roteiro premiado neste ano é "Vovó Vai ao Supermercado", de Valdemir Milani, que será exibido no Festival de 2003.

Confira a lista completa de vencedores


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