E o Leone d'Oro para melhor filme acabou premiando indiretamente o diretor do 63º Festival de Veneza, Marco Muller, que mais uma vez mirou o Oriente e apostou forte no cinema da Ásia. O vencedor foi ''Sanxia Haoren'' (Still Life, ou Natureza Morta), de Jia Zhang-Ke, um acurado retrato da China contemporânea que se despede do passado para entrar definitivamente no mundo globalizado. A trama enfatiza com sensibilidade estas transformações que alteram o cotidiano afetivo das pessoas comuns.
O filme não constava da seleção original de 21 concorrentes. Entrou na competição oficial por deliberação, ou teimosia mesmo, da curadoria da mostra, que ano passado criou a novidade do ''filme-surpresa''. E em 2005, a surpresa também tinha sido asiática: ''Casa Vazia'', já exibido em Londrina na inauguração da sala Com-Tour/UEL
Muito acertadamente, o Leone d'Argento para melhor direção ficou com Alain Resnais, pelo inteligente retrato das relações afetivas em ''Medos Privados em Lugares Públicos''.
Os italianos mais uma vez tiveram que se contentar com um prêmio esquisito, um Leone d'Argento Revelação para o ótimo ''Nuovomondo''. Este foi um dos estranhos coelhos que os jurados presididos por Catherine Deneuve tiraram de uma não menos estranha cartola.
O diretor Emanuele Crialese poderia ganhar qualquer coisa - menos revelação -, está em seu segundo filme, depois do também admirável ''Respiro'' realizado em 2002. Educado, fez que não era com ele, agradeceu e saiu tranquilo.
O Prêmio Especial do Júri recompensou o cinema muito jovem e pleno de vitalidade da república africana do Tchad, estreando aqui em Veneza. Pobre mas cheio de dignidade ao contar uma história com história e personagens muito fortes, um atestado antibelicista em ''Daratt'', de Mahamat-Saleh Haroun.