Se o 21º Festival de Música de Londrina fosse analisado apenas por números, esse seria o quadro: 943 alunos inscritos (número recorde), aproximadamente 50 mil espectadores nos 15 dias de duração, 53 professores ministrando 61 cursos e um custo de R$ 346 mil.
Mas essa versão positiva dos números não reflete que a improvisação foi a tônica desse Festival, com contratações de professores e artistas em regime de urgência e a programação fechada nas vésperas da abertura do evento. A falta de patrocínio mais uma vez dilapidou um patrimônio cultural do País. Mesmo assim, na programação artística, nomes como Arrigo Barnabé, Guinga e Orquestra de Câmara de Belém foram atrativos. No setor pedagógico, destaque para a continuidade de oficinas de choro e improvisação, para a oficina de música antiga e o curso de construção de instrumentos de percussão.
Realizado em situação de risco, como afirmou a diretora pedagógica Magali Kleber, ao atingir a maioridade o FML precisa ser repensado. Mais um ano, o Festival aconteceu em função da convergência de esforços e cooperação mútua. ''As instituições promotoras precisam discutir o perfil do Festival com perspectivas mais futuras'', advoga Magali, sem ventilar quando isso poderia ser reavaliado e de que forma. Para ela, as quatro instituições promotoras - Secretaria Municipal de Cultura, Secretaria Estadual de Cultura, Universidade Estadual de Londrina e Associação dos Amigos do Festival - precisam redefinir o evento, não somente em relação ao orçamento, mas como proposta musical para a comunidade. Aparentemente preocupada, Magali Kleber argumenta que o Festival precisa ter uma estrutura mais permanente.
Para o diretor artístico, maestro Norton Morozowicz, esse foi o ano de maior indefinição. ''O Festival de Música requer um planejamento minucioso. Ele é uma instituição por si só e os órgãos que o apóiam podem até pensá-lo como uma ONG ou Fundação, para dar o caráter de perenidade que ele precisa'', diz Norton. Dotado de uma estrutura arcaica, o evento desta envergadura funciona numa sala apertada na Secretaria Municipal de Cultural, possui apenas uma linha telefônica, para atender fax, internet e as chamadas. O Brasil todo quer falar com o Festival e não consegue.
Mesmo com a grade de programação composta, em grande parte, de alunos e professores participantes do evento, os organizadores admitem que precisavam de mais tempo e recursos financeiros para deixá-la mais atrativa para o grande público. Uma das estrelas, Orquestra de Câmara da Filadélfia, cancelou a vinda a Londrina a três dias da apresentação sob a alegação que a alta do dólar e o cachê insuficiente do FML impediam a permanência por mais tempo no Brasil.
Com a Universidade Estadual de Londrina enfrentando uma crise histórica, a Secretaria Estadual de Cultura na iminência de se tornar um departamento e a Prefeitura de Londrina tapando as crateras dos desvios de dinheiro público, as perspectivas para o próximo ano não são animadoras. Mesmo assim, Magali Kleber diz que vai ficar envolvida com o FML, seja como diretora, musicista ou educadora. Já Norton Morozowicz disse que ''para continuar à frente do FML eu preciso de ter condições mínimas para ficar''. Como foi argumentado, esse ano o evento aconteceu em situação de risco e o Governo do Estado deixou de repassar R$ 100 mil referentes ao 20º FML, valor que Norton afirma ter ''contemporizado'' neste ano.
*Leia mais na reportagem de Francelino França na Folha de Londrina / Folha do Paraná deste sábado