Pela segunda vez no Brasil, a primeira foi há dez anos, o mexicano Carlos Prieto, um dos melhores violoncelistas do mundo, traz seu violoncelo Stradivarius, o "Piatti", e realiza um concerto hoje, às 19 horas, no Teatro Londrina do Memorial de Curitiba. A entrada é franca, numa promoção da Fundação Cultural de Curitiba, Consulado Geral do México e UniverCidade do Rio de Janeiro.
Construído em 1720, "Piatti", instrumento que pertenceu ao violoncelista italiano Alfredo Piatti por 40 anos, no século 19, tem uma história digna de um livro. Tanto que Carlos Prieto escreveu "As Aventuras de um Violoncelo - Histórias e Memórias", contando a história dos instrumentos de cordas, em especial a trajetória do seu violoncelo, fabricado pelo famoso luthier, e que será lançado hoje, depois da audição.
Dono do "Piatti" há 22 anos, Carlos Prieto não revela o valor do instrumento. "Mas tem seguro", garante. Ele conta que há um tempo quando desceu em Nova Deli, na Índia, o fiscal da alfândega abriu o estojo, examinou o conteúdo e declarou na ficha do maestro: "US$ 50,00". "É este valor que dou sempre que jornalistas me perguntam", brincou.
No concerto, Prieto executa duas suítes de J.S.Bach, no entanto, seu repertório vai do clássico à música contemporânea. Um dos músicos mais premiados do mundo, Prieto recebeu este ano o concorrido prêmio Eva Janzer Memorial Cello Center Award, da Universidade de Indiana (EUA).
"A minha vinda ao Brasil se deve ao grande interesse que tenho pela música da América Latina. Estou fazendo contatos com compositores de vários países - no Brasil, com Marlos Nobre -, que estão compondo um total de 60 obras, especialmente para mim, e que serão executadas em abril de 2002, numa turnê mundial", adianta o maestro.
Dizendo-se grande admirador da música brasileira, o músico conta que o trabalho de enriquecer o repertório para violoncelo na América Latina, tem sido extremamente gratificante. Entre os compositores brasileiros que Carlos Prieto já gravou estão Villa-Lobos e Camargo Guarnieri.
Representante da dedicação e da disciplina rígidas, o músico e escritor, ensaia várias horas por dia, garantindo assim, precisão, expressividade e som homogênio, qualidades nas quais é tido como insuperável. Reconhecido pela crítica do mundo inteiro, Prieto já apresentou-se em salas como o Carnegie Hall e Lincoln Center, de Nova York, o Kennedy Center, de Washington, o Barbican Hall e o Wigmore Hall, de Londres, a Sala da Filarmônica, de São Petesburgo, a Salle Pleyel, de Paris, o Teatro Real, de Madri, entre outras. Foi acompanhado pelas Royal Philarmonic Orchestra de Londres, Orquestra Sinfônica de Berlim, Orquestra de Câmara de Moscou, Orquestra Nacional da Espanha e a American Symphony.
"As Aventura de um Violoncelo" é o quatro livro do maestro. Os primeiros foram "Cartas Russas" (1962), "Ao redor do mundo com o Violoncelo" (1988) e "Da URSS à Rússia" (1993). No seu último livro, o maetro conta que em 1720, com a idade de 76 anos, em Cremona, Stradivarius construiu 14 violinos e um só violoncelo, o qual, anos depois, chegaria a ser conhecido como "O Piatti". Stradivarius escolheu com particular esmero as madeiras para seu novo violoncelo. Este instrumento resultou um dos melhores da longa vida de Stradivarius.
Não se sabe ao certo quem teria encomendado o violoncelo a Stradivarius."A busca de pistas é um trabalho extremamente difícil", justifica Prieto no seu livro. Os instrumentos não tinham nem a fama nem o valor que alcançaram posteriormente. "É logico inferir que a encomenda do Piatti tenha partido de uma localidade italiana como Mântua, Milão ou Nápoles, mais que de Veneza.
Serviço: Concerto do mestro e violoncelista mexicano Carlos Prieto, hoje, às 19 horas, no Teatro Londrina, no Memorial de Curitiba, no Largo da Ordem. Entrada franca.