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Chovia na gente

22 mai 2003 às 17:28

Resgatar a memória das pessoas, levá-las a abrir o baú da própria vida é a proposta desenvolvida pelo projeto ''No Te Olvides'', que é um dos 15 projetos sócio-culturais desenvolvidos dentro da programação do 36º Festival Internacional de Londrina - Filo. Neste final de semana, o resultado deste trabalho poderá ser conferido no espetáculo ''Chovia na gente'', que mostra fatos da vida comum marcados pela cultura que predominou nos anos de 1954 a 1964.

No início do projeto, todos os 46 participantes, com idades de 8 a 85 anos, passaram por entrevistas, gravadas em vídeo, para contarem a sua história pessoal. ''Os depoimentos são a nossa matéria-prima e constróem uma verdadeira integração de gerações'', lembra a assessora Tati Costa. Por ser uma situação bastante íntima, as entrevistas foram feitas individualmente, para que depois fosse delineado o enredo, organizado pelos coordenadores do trabalho. O grupo também é heterogêneo na questão de experiência, com pessoas que vieram de grupos de teatro da terceira idade e outras que nunca vivenciaram isso.


O recorte temporal utilizado foi o perído de 1954 a 1964, marcado com o suicídio de Getúlio Vargas e o golpe militar. O diretor da peça, João Henrique Bernardi, explica que essa fase foi muito marcante para o país e que os depoimentos relatados pelos participantes reforçaram isso, principalmente por ser o período em que a maioria dos participantes estava na fase da juventude.


Na atmosfera pós-Getúlio, uma situação cultural entra em efervescência no país. Entre as questões abordadas, o universo feminino com as mulheres que se casavam apenas para sair de casa, as donas de casa que só se davam o direito de ter vida própria depois que os filhos crescessem ...e, é claro, o medo do comunismo.


Bernardi, que há 17 anos trabalha com grupos de teatro com terceira idade, disse que os participantes do projeto ''vomitam a vida'', aproveitam a oportunidade para se libertarem. ''É diferente deles irem a um baile. Aqui eles vivem a interpretação de um personagem, que abre possibilidades'', destacou.


A dona de casa Celeste Antonelli Picchi, 72 anos, confirma a opinião do diretor. ''Estou encantada com o trabalho. Depois que comecei a fazer teatro, perdi a minha timidez e me tornei uma pessoa mais solidária'', comentou Celeste, que na peça vive uma florista. Ela também se sente recuperada da depressão que sentia depois que perdeu o filho e o marido nos dois últimos anos.


O projeto foi iniciado na edição anterior do Filo e teve a participação de idosos do Centro de Atendimento ao Idoso Londrinense (Centrasil). O formato do trabalho permite que ele seja itinerante. Ele já foi realizado no Festival de Teatro de Dourados (MS), no ano passado, e, em julho, será aplicado no Festival de Teatro de Arapongas (PR). Mais informações pelo site www.projetonoteolvides.kit.net.


Serviço:
Espetáculo "Chovia na Gente"

Local: Espaço alternativo entre a Casa de Cultura e o Alternativo 1, que estão instalados no antigo prédio da Mayrink Góes
Horário: 19h30
Dias: 24 e 25 de maio, sábado e domingo
Entradas: A entrada é franca, mas é necessário pegar convites no local da apresentação, das 14h às 19h, com a assessora Tati Costa. O local permite público máximo de 60 pessoas.


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